Mercados agitados com incerteza na produção saudita

Preços chegaram a estar a subir quase 20% num dia em que os mercados tiveram que lidar com o novo cenário criado pelo ataque de drones a instações petrolíferas na Arábia Saudita.

Foto
Instalações da Aramco no sábado Reuters/Hamad I Mohammed

A paragem forçada de um dia para o outro de instalações petrolíferas responsáveis por cerca de 5% produção mundial lançou esta segunda-feira nos mercados um clima de incerteza relativamente à estabilidade futura do fornecimento internacional de petróleo, provocando uma subida de preços diária como já não se via desde a Guerra do Golfo em 1991.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A paragem forçada de um dia para o outro de instalações petrolíferas responsáveis por cerca de 5% produção mundial lançou esta segunda-feira nos mercados um clima de incerteza relativamente à estabilidade futura do fornecimento internacional de petróleo, provocando uma subida de preços diária como já não se via desde a Guerra do Golfo em 1991.

A meio da tarde desta segunda-feira, o preço do barril de petróleo Brent situava-se ligeiramente acima dos 60 dólares, uma subida de 10,5% em relação ao valor de fecho da sessão anterior. No entanto, nos primeiros minutos da sessão, a reacção dos mercados foi ainda mais extrema, chegando a registar-se uma subida de 19%, para perto dos 72 dólares por barril.

Esta primeira resposta, de forte pessimismo, registada nos mercados logo pela manhã foi uma reacção aos eventos extraordinários de sábado passado. Ataques de drone realizados durante a madrugada atingiram as instalações da Aramco, a empresa estatal da Arábia Saudita e maior produtora do mundo de petróleo.

A acção, reivindicada pelos rebeldes houthi do Iémen como retaliação à intervenção neste país das forças militares sauditas, forçou à paragem de 50% da capacidade de produção petrolífera da Arábia Saudita, isto é, 5% do total da produção mundial foi afectada.

Esta redução repentina do nível de produção de crude é o suficiente para fazer subir o preço da matéria-prima nos mercados, dada a necessidade de encontrar um novo equilíbrio, mesmo que temporário entre a oferta e a procura. Mas o que acaba por influenciar mais os preços é a ideia de que poderemos estar perante o início de uma fase de ainda maior instabilidade numa região do globo fulcral para o sector energético.

A reacção dos EUA, com Donald Trump esta manhã a dizer que estão “carregados e prontos” para responder ao ataque às refinarias sauditas, estando a ser analisada uma eventual responsabilidade do Irão nos acontecimentos, faz com que exista a expectativa de uma escalada da tensão no Médio Oriente, algo que poderia conduzir a novas limitações na produção mundial de crude.

Para já, a dúvida mais imediata reside em saber quando é que Aramco conseguirá retomar totalmente as suas actividades. Oficialmente, não foi ainda avançada uma data definida para o restabelecimento da normalidade nas refinarias afectadas, mas à CNN duas fontes da empresa disseram que um regresso ao anterior nível de produção poderia demorar “semanas, não dias”.

Depois, será preciso também perceber quais os desenvolvimentos políticos e militares na região, nomeadamente a resposta dos EUA ao Irão, para se poder avaliar qual o impacto de mais longo prazo no nível de oferta e nos preços do petróleo.

Numa tentativa de limitar os efeitos nos preços, o presidente norte-americano anunciou que as reservas de petróleo do país poderiam ser utilizadas em caso de necessidade. Outros países, como a Rússia fizeram questão de deixar claro que têm espaço de manobra, seja ao nível dos stocks seja ao nível da capacidade de produção, para reforçar a oferta e compensar, pelo menos temporariamente, a diminuição da produção saudita.

Existem dúvidas, contudo, quanto ao esforço de aumento da oferta que será efectivamente realizado por alguns países. Antes do incidente, a discussão entre os principais produtores mundiais era sobre a implementação dos acordos de limitação de oferta, numa tentativa de evitar descidas de preços que colocassem em causa a rentabilidade do negócio de produção e venda de petróleo. A subida de 10% agora registada nos preços pode ser bem recebida por alguns do países produtores.

Para Portugal, como país consumidor, pouco mais há a fazer do que lidar com a subida de preços, que acabará inevitavelmente por produzir os seus efeitos junto dos consumidores finais. Ainda assim, uma subida do preço do petróleo nos mercados internacionais não se reflecte de forma imediata no preço dos combustíveis suportado pelos consumidores. Tanto nas subidas como nas descidas de preços, regista-se um tempo de intervalo, de algumas semanas, entre o momento em que os custos se alteram ao nível da produção da matéria-prima e o momento em que o produto refinado chega ao consumidor.

Esta segunda-feira, numa tentativa de tranquilizar quem temesse uma escassez de oferta petrolífera em Portugal, a Entidade Nacional para o Sector Energético (ENSE) garantiu em comunicado que “dispõe de reservas estratégicas que podem ser mobilizadas para suprir uma falta eventual”, precisando que tem “à sua disposição 538,1 mil toneladas de crude em reservas físicas e 373,5 mil toneladas em tickets que representam direitos de opção sobre crude armazenado em Portugal e noutros países da União Europeia”.

De acordo com os dados da Direcção Geral de Energia e Geologia, a Arábia Saudita ocupou em 2018 o quarto lugar entre os principais abastecedores de petróleo em Portugal, com uma quota de 12%, atrás da Rússia, Angola e Azerbaijão.