De pais para filhos: o fenómeno Harry Potter mantém o feitiço sobre as gerações mais novas
Livraria Lello promoveu evento no Coliseu do Porto para celebrar lançamento do livro Harry Potter Magical Places. Duas décadas depois, o universo criado por J.K Rowling continua a conquistar fãs.
O pequeno Matias foi o primeiro a chegar mascarado ao Coliseu do Porto. Equipado com óculos, cachecol e traje a rigor, esperava pacientemente pela abertura de portas na pele de Harry Potter, o famoso herói da série criada pela escritora britânica J.K. Rowling.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O pequeno Matias foi o primeiro a chegar mascarado ao Coliseu do Porto. Equipado com óculos, cachecol e traje a rigor, esperava pacientemente pela abertura de portas na pele de Harry Potter, o famoso herói da série criada pela escritora britânica J.K. Rowling.
“Comecei a ler os livros. Ainda vou no segundo, porque leio um bocadinho devagar”, explica o menino de dez anos. Os pais, Nuno e Sara, riem-se sentados na escadaria da entrada. “Ele é muito parecido com o Harry Potter, de facto. Só lhe falta a cicatriz”, brinca o pai. A mãe, apesar da assustadora parecença, não se mostrava muito segura de que o filho fosse o candidato mais forte ao prémio de melhor fantasia — que valia uma viagem aos estúdios da Warner Brothers, em Londres —, dado o fanatismo com que muitos fãs vivem a história.
A noite de sexta-feira 13 foi duplamente supersticiosa: os entusiastas do franchise de feitiçaria voltaram a reunir-se no Porto, desta feita para o lançamento mundial do livro Harry Potter Magical Places, álbum ilustrado que inventaria alguns dos locais mais importantes da série. A cerimónia preparada pela Livraria Lello juntou um espectáculo do ilusionista Hélder Guimarães e partituras originais dos primeiros três filmes da saga, interpretadas pela Lisbon Film Orchestra.
De volta à entrada do Coliseu: quando Matias nasceu, a série de livros já se aproximava da recta final. Os pais, que leram todos os livros, passaram a paixão para o filho. Atendendo ao público do evento, é bem visível que o fenómeno Harry Potter não está morto, bem pelo contrário. A geração que cresceu com a saga, agora adulta, passou o testemunho aos mais novos, que também lêem os livros, vêem os filmes e adquirem o novo merchandising da série, mantendo-a lucrativa duas décadas após a sua estreia.
Bernardo Soares é um desses casos. O rapaz de 14 anos chegou ao Coliseu claramente com o objectivo de ganhar o concurso. Também ele mascarado de Harry Potter, trazia uma série de trunfos para bater a concorrência. Na mão direita segurava uma gaiola com a réplica da coruja Hedwig. Na outra mão, a Ninmbus 2000, a vassoura utilizada pelo herói da série no Quidditch, o desporto oficial da escola de feitiçaria de Hogwarts. A atenção ao detalhe era impressionante. “Foram os meus pais que me apresentaram a saga. Gostavam dos filmes, deram-me o primeiro livro, e fiquei logo a gostar.”
Para Daniel, já na casa dos 20, a maneira como a história foi construída já tinha em mente esta transmissão geracional. “É completamente natural. Estão aqui muitos miúdos que nasceram depois de a série ter acabado e continuam a saber quem é o Harry Potter e o significado que teve. Foi uma história construída sem qualquer tipo de cronologia ou época temporal específica, algo que facilita a passagem de pais para filhos”.
Primeira edição do livro comprada por 70 mil euros
Em Janeiro, a livraria Lello lançou uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) de uma primeira edição de Harry Potter and the Philosopher’s Stone, o volume inicial da saga de J. K. Rowling. A livraria portuense pretendia garantir uma nova atracção para aquele que já é um local de culto para os fãs do franchise. Pensa-se que a elegante escadaria dupla da Lello tenha inspirado a sua irrequieta irmã ficcional da escola de feitiçaria de Hogwarts, hipótese nunca confirmada nem desmentida pela autora.
Em Agosto, a Lello anunciava ter adquirido a desejada primeira edição, pela quantia de 70 mil euros, à Blackwell’s, em Oxford, no Reino Unido; o exemplar, raro, foi autenticado pelo bibliógrafo de J.K Rowling.
Em declarações ao PÚBLICO, Aurora Pedro Pinto, administradora da Lello, mostrou-se feliz com o sucesso da aquisição: “A OPA foi bem-sucedida. Chegámos a ir a Londres ver uma outra primeira edição, mas não foi aprovada porque não cumpria os requisitos necessários. O exemplar que adquirimos à Blackwell’s estava em melhor estado de preservação, tendo sido alvo de uma análise e posteriormente aprovado por especialistas.”
Por “razões de segurança”, explicou ao PÚBLICO uma colaboradora do evento, o livro foi mostrado apenas num pequeno evento privado, algo que enfureceu alguns dos presentes, que esperavam ter a oportunidade de vislumbrar a editio prínceps.
Rafaela Andrade, voluntária no espectáculo desta sexta-feira, que não lotou o Coliseu, conseguiu eternizar o momento com uma fotografia da raridade bibliográfica. A estudante de 23 anos, natural de São Paulo, mudou-se para o Porto há três anos para estudar na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. A primeira paragem quando chegou? “Claro que fui logo à livraria Lello, um dos locais relacionados com o Harry Potter na cidade.”
Rafaela considera-se uma Potterhead, nome dado aos fãs mais aguerridos da saga, e vai disparando informações sobre os livros, como se os soubesse de cor. “Já os li pelo menos 50 vezes. Claro que leio outras coisas, mas, quando termino o último volume, recomeço.”
Apesar do prémio atractivo, pouca gente usou disfarces na noite do Coliseu, o que surpreendeu Rafaela: “No Brasil, as pessoas iam todas vestidas a rigor na estreia do filme, tinham adereços, era todo um evento.” Para a estudante, o fenómeno Harry Potter continua a merecer lugar de destaque nos corações dos admiradores, não faltando formas de manter viva a magia. “Apesar de já não existirem livros e filmes, existe uma plataforma online chamada Pottermore onde os fãs se juntam e a J.K Rowling vai publicando textos e conteúdos com mais informações sobre a série. Depois todas estas novas edições e lançamentos acabam por ajudar a fazer com que o Harry Potter se mantenha vivo.”
A editora da autora, a Pottermore Publishing, anunciou em Maio a publicação de uma série de quatro pequenos livros de não-ficção em formato digital sobre o mundo dos estudantes de Hogwarts, intitulada Harry Potter: A Journey Through. As novas obras têm como objectivo aprofundar “a rica história da magia”, abordando diferentes temáticas relacionadas com as lições de Hogwarts. Os fãs pedem, J.K Rowling dá, e assim se vai mantendo vivo o mundo de feitiçaria de Harry Potter.