“Que outros se vangloriem das páginas que escreveram; / a mim, orgulham-me as que li.” São os dois primeiros versos de “Um Leitor”, poema que Borges recolheu em Elogio da Sombra, título que tem a doçura de me trazer à memória outro autor amado: Tanizaki. Quando este Verão chegar ao fim, já poderei orgulhar-me de ter lido Petersburgo – com calma e prazer, coisas que raramente andam juntas, e que só alcanço quando desobrigado de escrever sobre o que leio, como na infância e na adolescência. Foi Nabokov quem há muitos anos me havia recomendado as páginas de Andrei Béli e desde 2010 (quando a Relógio D’Água publicou uma tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra) que eu sentia uma secreta vergonha íntima e culposa por adiar sucessivamente a leitura do romance. Há outros livros – e vejo daqui as lombadas de alguns, enquanto escrevo – que acotovelam a minha má consciência, mas, avaliando pelo prazer imenso da leitura do russo, a minha vida de leitor pode reservar-me ainda muitas alegrias.
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“Que outros se vangloriem das páginas que escreveram; / a mim, orgulham-me as que li.” São os dois primeiros versos de “Um Leitor”, poema que Borges recolheu em Elogio da Sombra, título que tem a doçura de me trazer à memória outro autor amado: Tanizaki. Quando este Verão chegar ao fim, já poderei orgulhar-me de ter lido Petersburgo – com calma e prazer, coisas que raramente andam juntas, e que só alcanço quando desobrigado de escrever sobre o que leio, como na infância e na adolescência. Foi Nabokov quem há muitos anos me havia recomendado as páginas de Andrei Béli e desde 2010 (quando a Relógio D’Água publicou uma tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra) que eu sentia uma secreta vergonha íntima e culposa por adiar sucessivamente a leitura do romance. Há outros livros – e vejo daqui as lombadas de alguns, enquanto escrevo – que acotovelam a minha má consciência, mas, avaliando pelo prazer imenso da leitura do russo, a minha vida de leitor pode reservar-me ainda muitas alegrias.