Saúde, armas e unidade no Partido Democrata dominam terceiro debate
Os candidatos mais progressistas, como Elizabeth Warren e Bernie Sanders, marcaram a sua diferença em relação ao mais centrista Joe Biden, que defendeu o legado do Presidente Obama.
Joe Biden, o candidato do Partido Democrata que lidera as sondagens para enfrentar Donald Trump nas eleições presidenciais de 2020, entrou em confronto com os seus adversários progressistas Elizabeth Warren e Bernie Sanders sobre o futuro do sistema de saúde dos EUA, no terceiro debate entre os principais candidatos a cinco meses do arranque das eleições primárias.
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Joe Biden, o candidato do Partido Democrata que lidera as sondagens para enfrentar Donald Trump nas eleições presidenciais de 2020, entrou em confronto com os seus adversários progressistas Elizabeth Warren e Bernie Sanders sobre o futuro do sistema de saúde dos EUA, no terceiro debate entre os principais candidatos a cinco meses do arranque das eleições primárias.
Com os dez candidatos mais bem posicionados nas sondagens a partilharem um palco pela primeira vez, as baterias foram mais apontadas à oposição ao Presidente Trump do que às divisões entre cada um dos adversários internos.
Biden esteve mais focado e agressivo do que nos dois anteriores debates, quando foi atacado por causa do seu historial sobre questões raciais e justiça criminal ao longo de cinco décadas no Congresso e, mais tarde, como vice-presidente de Barack Obama.
Mas, tal como nos outros dois debates, os candidatos democratas trocaram acusações em relação ao futuro dos serviços de saúde no país. É esse o tema que tem provocado mais discussões acesas na campanha para as eleições primárias.
Obamacare, ou mais além?
Biden, que serviu durante oito anos como vice-presidente de Barack Obama, disse que quer melhorar o sistema de saúde a partir do Affordable Care Act de 2010 – também conhecido como Obamacare. O candidato acusou Warren e Sanders de quererem deitar abaixo o Obamacare para o substituir por um plano a que chamam Medicare for All (cuidados de saúde para todos), um programa gerido pelo governo que eliminaria o mercado privado de seguros.
“Eu sei que a senadora diz que apoia o Bernie. Bem, eu apoio o Barack. Acho que o Obamacare funcionou”, disse Biden, pedindo a Warren e Sanders para dizerem de que forma pagariam o seu plano.
Warren, uma senadora do Massachusetts que subiu ao segundo lugar nas sondagens atrás de Biden, elogiou os esforços de Obama em relação ao sistema de saúde, mas disse que é preciso continuar a melhorar esse sistema.
“Agora, a questão é saber de que forma podemos melhorá-lo”, disse a senadora, acrescentando que com o Medicare for All os mais ricos vão pagar mais, e a classe média pagará menos.
Para além das discussões sobre a saúde, Biden e Warren evitaram um confronto directo. Sanders e o antigo secretário da Habitação, Julián Castro, lideraram o ataque contra Biden.
Sanders, que apoiou uma proposta de lei no Senado norte-americano para criar o Medicare for All, disse que esse plano – baseado no actual Medicare, para americanos com mais de 65 anos – é o mais eficiente em termos de custo-benefício. Alguns analistas estimam que o programa de Sanders custaria 32 biliões de dólares ao longo de uma década.
Biden disse que a sua proposta daria aos cidadãos mais opções, incluindo manter os seus planos existentes se for essa a sua decisão.
“Nunca conheci ninguém que goste da sua companhia de seguros”, respondeu Warren.
E Julián Castro acusou Biden de contradizer o seu próprio programa.
“Esqueceu-se do que acabou de dizer há dois minutos?”, perguntou Castro, de 44 anos, a Biden, de 76, que tem enfrentado questões sobre a sua idade.
Quando o mayor Pete Buttigieg, de South Bend, no estado do Indiana, disse que o comentário de Castro é um exemplo daquilo que as pessoas não gostam na política, Castro respondeu: “Chama-se a isso uma eleição.”
Elogios a Obama
A senadora Amy Klobuchar, do Minnesota, tentou acalmar o ambiente: “Uma casa dividida não consegue manter-se em pé”, disse, citado um famoso discurso de Abraham Lincoln.
Os candidatos esforçaram-se por elogiar o legado de Obama, depois de terem recebido críticas pelas acusações feitas nos dois anteriores debates.
Mas Castro, que continua muito atrás nas sondagens, acusou Biden de só falar de Obama quando isso lhe interessa.
“Ele quer receber créditos pelo trabalho de Obama, mas não quer responder a nenhuma questão”, disse Castro, que trabalhou na Administração Obama.
“Eu estou a cumprir o legado de Barack Obama, e você não”, disse Castro a Biden. “Isso será uma surpresa para ele”, respondeu Biden.
Sanders atacou Biden por ter votado a favor da invasão do Iraque, dizendo que nunca acreditou nos argumentos do Presidente George W. Bush e do vice-presidente Dick Cheney a favor dessa invasão.
Enquanto o debate decorria, o Presidente Trump estava com congressistas republicanos em Baltimore, e disse que os democratas estavam a reforçar a necessidade da sua reeleição.
“Têm mesmo de me eleger. Quer gostem, quer não gostem de mim, isso não interessa, porque o nosso país irá para o inferno se alguma daquelas pessoas ganhar”, disse Trump.
"Vou tirar-vos as AK-47"
O debate foi encolhido para apenas uma noite e dez candidatos, depois de o Partido Democrata ter apertado as exigências para a qualificação. Os dois anteriores debates, em Junho e Julho, contaram com a presença de 20 candidatos divididos por duas noites.
Marianne Williamson, uma das candidatas que não se qualificou para o debate de quinta-feira, comentou no Twitter que estavam no palco “boas pessoas”, mas apenas isso.
“É tudo incremental. E chato, em última análise.”
O empresário Andrew Yang abriu o debate com a promessa de dar mil dólares por mês a dez famílias americanas durante um ano. A oferta provocou os risos de outros candidatos.
“É original, admito”, disse Buttigieg.
A troca de acusações e os ataques constantes dos anteriores debates incomodaram alguns democratas, que apelaram aos candidatos que se controlassem.
Desta vez, tentaram salientar as suas áreas de acordo. Biden elogiou o ex-congressista Beto O’Rourke pelo seu trabalho após o tiroteio na cidade de El Paso, no Texas, que resultou na morte de 22 pessoas. Um elogio que provocou uma ovação prolongada da audiência.
Durante o debate, O’Rourke foi questionado sobre se iria tirar as armas aos americanos, e a sua resposta foi um dos momentos mais partilhados nas redes sociais: “É claro que sim, vamos tirar-vos as vossas AR-15 e AK-47.”