Como os jovens trouxeram esperança à crise climática
A grande fratura política parece estar, não na velha diferença entre direita e esquerda, mas entre o nacionalismo retrógrado e uma abordagem internacionalista, voltada para o futuro e assente no ambientalismo. O facto de os mais jovens apoiarem e até liderarem esta última fação sugere que vá eventualmente vencer.
Há dez anos, quando o então promissor Climate Summit em Copenhaga se encaminhava para uma conclusão dececionante, questionei em alta voz quando é que os jovens se revoltariam contra o que as gerações mais velhas estavam a fazer ao ambiente.
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Há dez anos, quando o então promissor Climate Summit em Copenhaga se encaminhava para uma conclusão dececionante, questionei em alta voz quando é que os jovens se revoltariam contra o que as gerações mais velhas estavam a fazer ao ambiente.
Quando, interroguei, iriam perguntar aos mais velhos: “Como se atrevem a fazer isto ao nosso futuro?” Essa seria a sua autoridade moral, pensei, e seria transformadora. Estava, porém, longe de imaginar o quanto, uma década depois, se mostrou ser.
O desafio, quando finalmente se consumou, surgiu do nada. Como o mundo sabe, uma menina sueca de 15 anos com Síndrome de Asperger decidiu faltar às aulas em agosto do ano passado, e protestar, à porta do parlamento do seu país, com um cartaz, escrito à mão e a crude.
Um ano depois, aquele gesto, aparentemente solitário e fútil, despoletou os mais extraordinários progressos que testemunhei em 50 anos de jornalismo na área do ambiente. E estou muito feliz pelo papel que a imprensa teve em potenciá-los.
Milhões de pessoas em todo o mundo juntaram-se às greves escolares; só a 15 de março, foram 1,4 milhões a protestar em 125 países. E há ainda duas greves “intergeracionais”, com adultos incluídos, previstas para este mês.
Thunberg desafiou diretamente líderes, falando-lhes sem rodeios no World Economic Forum, em Davos, na Comissão Europeia, e pessoalmente. E o seu movimento colocou a crise climática no topo da agenda política.
Nos Estados Unidos as greves – juntamente com a pressão feita por jovens americanos para a criação de um Green New Deal – estão a fazer das alterações climáticas um tema central nas eminentes eleições presidenciais, quando foram praticamente ignoradas nas anteriores.
No Reino Unido – juntamente com manifestações organizadas pela Extinction Rebellion, que pararam Londres –, transformaram a atmosfera política: a direita, até muito recentemente cética em relação aos problemas ambientais, está agora comprometida com uma ação radical para reduzir para zero as emissões de gases de efeito de estufa.
Nas eleições europeias deste ano, os Verdes saíram-se bem melhor que o esperado em praticamente todo o continente, enquanto a reação populista falhou a meta traçada.
Com efeito, a grande fratura política parece estar, não na velha diferença entre direita e esquerda, mas entre o nacionalismo retrógrado e uma abordagem internacionalista, voltada para o futuro e assente no ambientalismo. O facto de os mais jovens apoiarem e até liderarem esta última fação sugere que vá eventualmente vencer.
Adicionalmente, tudo isto está a acontecer numa época particularmente sombria. Apesar da evidência acumulada de que perigosas alterações climáticas estão a acelerar – especialmente o alastrante derretimento de glaciares nos pólos –, o Presidente Trump retira os Estados Unidos do Acordo Climático de Paris e as políticas do Presidente Bolsonaro incendeiam a Amazónia e ameaçam levá-la ao ponto de desaparecer irreversivelmente, com consequências catastróficas para a biodiversidade e o clima.
Se há agora esperança, muita dela advém da cobertura mediática dada ao primeiro protesto solitário de Thunberg, e ao seu efeito nos jovens e líderes políticos, permitindo o seu crescimento surpreendentemente rápido, em número e em impacto. Evidentemente que existia uma imensa preocupação pública com o clima e o ambiente por todo o mundo, mas foi precisa a cobertura da imprensa para a revelar e transformar em ação.
Ainda assim, apesar deste enorme interesse – particularmente entre os jovens, que todos os media estão desesperados para atrair –, poucos meios dão enfoque ao tema do ambiente e quase nenhum lhe dá o peso que merece. O jornalismo ambiental continua amplamente negligenciado.
É por isso que vejo com muito prazer a cidade de Vila Nova de Gaia lançar um prémio internacional para jornalismo ambiental no festival Gaia Todo um Mundo, que inaugura a 11 de setembro e onde marcarei presença. Este prémio proporcionará o tão necessário encorajamento para os jornalistas acompanharem o tema e, quem sabe, estimule a mudança.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico