Fernão de Magalhães, o génio que cometeu um erro fatal
O historiador Luís Filipe Thomaz conta que o navegador ao serviço de Castela percebeu tarde de mais que as ilhas Molucas – conhecidas como “ilhas das especiarias” – ficavam em território português. E que, perante esse erro, ficou sem saber o que fazer, acabando por deixar-se matar “estupidamente”.
O navegador português Fernão de Magalhães foi um génio, ao “acertar à primeira com a travessia do Pacífico”, mas cometeu um erro de cálculo que terá precipitado a sua morte nas Filipinas, defende o historiador Luís Filipe Thomaz. Em entrevista à agência Lusa, a propósito dos 500 anos da primeira viagem de circum-navegação da Terra, feita por Magalhães e Elcano entre 1519 e 1522, o autor do livro O Drama de Magalhães e a Volta ao Mundo Sem Querer (Gradiva, 2019) sublinhou que o navegador quinhentista “escolheu a melhor rota do ponto de vista de ventos e correntes e nunca voltou para trás”.
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O navegador português Fernão de Magalhães foi um génio, ao “acertar à primeira com a travessia do Pacífico”, mas cometeu um erro de cálculo que terá precipitado a sua morte nas Filipinas, defende o historiador Luís Filipe Thomaz. Em entrevista à agência Lusa, a propósito dos 500 anos da primeira viagem de circum-navegação da Terra, feita por Magalhães e Elcano entre 1519 e 1522, o autor do livro O Drama de Magalhães e a Volta ao Mundo Sem Querer (Gradiva, 2019) sublinhou que o navegador quinhentista “escolheu a melhor rota do ponto de vista de ventos e correntes e nunca voltou para trás”.
Segundo Luís Filipe Thomaz, a expedição comandada por Magalhães, que zarpou de Espanha a 20 de Setembro de 1519, apanhou “a circulação do anticiclone do Pacífico Sul e a corrente de Humboldt [ou corrente do Peru] até chegar ao Equador”. Depois, beneficiou dos “ventos alísios do Hemisfério Sul e do Hemisfério do Norte até às Filipinas”, onde o navegador morreu em 1521 antes de alcançar a sua meta, as ilhas Molucas (Indonésia), a partir das quais pretendia voltar para Espanha novamente pelo Pacífico para não ser interceptado por navios portugueses.
O seu erro, porém, terá sido “avaliar a posição das Molucas em relação ao meridiano”. De acordo com o historiador, especialista em estudos orientais, Fernão de Magalhães saberia, quando chegou às Filipinas, em 1521, “que estava mais ou menos a norte das Molucas”. “Por acaso, as Molucas estão ligeiramente mais para leste do que as Filipinas, mas é uma diferença pequena. Portanto, deve ter percebido que se tinha enganado, que as Molucas ficavam no hemisfério português”, tal como demarcado pelo Tratado de Tordesilhas, assinado por Portugal e Castela (Espanha) em 1494.
A missão de Magalhães, ao serviço do rei de Espanha, era provar que as Ilhas das Especiarias, conhecidas pelo valioso cravo, se situavam no domínio espanhol. “Pôs-se mal com D. Manuel [rei de Portugal] para provar que as Molucas eram dos espanhóis. Se reconhecesse o seu erro, punha-se mal com Espanha. Se não o reconhecesse, punha-se mal com a sua consciência”, sintetiza Luís Filipe Thomaz para descrever “o drama” do navegador português.
Perante o dilema, o que fez Fernão de Magalhães? “Há uma coisa que é perfeitamente irracional: quando [finalmente] está a uma semana de viagem das Molucas, ou menos, em vez de ir para as Molucas, que eram o seu objectivo, anda a passear pelas Filipinas, de ilha em ilha, a imiscuir-se em lutas tribais onde encontrou a morte”, relata o autor de O Drama de Magalhães e a Volta ao Mundo Sem Querer.
Fernão de Magalhães morreu a 27 de Abril de 1521, na ilha de Mactan, às mãos do chefe tribal Lapu-Lapu, coroado herói nas Filipinas.
Luís Filipe Thomaz acha “psicologicamente correcta” a tese do historiador uruguaio Rolando Laguarda Trías (1902–1998): “Laguarda Trías põe a hipótese de que aquilo foi quase um suicídio. [Magalhães] foi-se meter numa briga sem interesse nenhum político porque estava num estado de desespero”, destaca o historiador português.
Magalhães não se entregou literalmente à morte, ressalva, mas “ficou sem saber o que fazer, andou a imiscuir-se em lutas e acabou por se deixar matar estupidamente”.
O mérito que teve, contudo, não é de somenos. “Planeou sozinho a viagem [pelo Pacífico] ou com o auxílio de Rui Faleiro”, cosmógrafo de quem “era amigo” – e que, de acordo com Luís Filipe Thomaz, o ajudou nos cálculos das longitudes mas foi impedido de embarcar pela Casa da Contratação em Sevilha, que limitou o número de tripulantes portugueses na expedição da Coroa espanhola.