Canguru extinto possuía crânio semelhante ao do panda-gigante
Os músculos do rosto do animal permitiam que se alimentasse de vegetação grande e dura, como folhas secas, caules e ramos.
O crânio de uma espécie de canguru que viveu na Austrália até há cerca de 42 mil anos é mais parecido com o de um panda-gigante do que com o dos cangurus actuais. O estudo da Universidade de Nova Inglaterra, Austrália, concluiu que o canguru extinto processava vegetação grande e dura de uma forma que nenhum outro herbívoro vivo na Austrália é capaz.
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O crânio de uma espécie de canguru que viveu na Austrália até há cerca de 42 mil anos é mais parecido com o de um panda-gigante do que com o dos cangurus actuais. O estudo da Universidade de Nova Inglaterra, Austrália, concluiu que o canguru extinto processava vegetação grande e dura de uma forma que nenhum outro herbívoro vivo na Austrália é capaz.
A espécie pertence a uma subfamília extinta de cangurus – Sthenurinae – dentro da família de marsupiais que engloba os cangurus actuais – a Macropodidae. Os cangurus Sthenurinae, ou cangurus de “rosto-pequeno”, possuíam um crânio pesado, maxilares e dentes molares largos e um focinho curto. Alguns cientistas já tinham considerado que essas características podiam ser sinal de que os maxilares destes cangurus eram fortes e estavam adaptados a uma dieta à base de vegetação grande e rija (como folhas secas, caules e ramos), lê-se no artigo científico publicado esta quarta-feira na revista PLOS ONE.
Rex Mitchell, autor da investigação, quis testar essa hipótese e perceber se havia adaptações no crânio para suster as forças aplicadas pelas dentadas sobre os ossos e articulações da cabeça do animal. Para isso, o cientista criou um modelo digital do crânio da espécie Simosthenurus occidentalis. As simulações de dentadas permitiram concluir que os amplos ossos do rosto deste canguru suportavam músculos que impediam a deslocação da mandíbula durante as dentadas mais fortes e a mastigação.
O crânio do canguru Simosthenurus occidentalis é idêntico não só ao do panda-gigante, mas também ao do coala. No entanto, o tamanho dos músculos da mandíbula deste canguru torna-o mais parecido com o panda-gigante. “O crânio do canguru estudado aqui difere do crânio dos cangurus actuais da mesma forma que o crânio de um panda-gigante difere de outros ursos. Por isso, parece que o estranho crânio deste canguru era, num sentido prático, menos parecido com o de um canguru actual e mais parecido com o de um panda-gigante”, comenta Rex Mitchell em comunicado. Os pandas-gigantes também são herbívoros que se alimentam de vegetais grandes e duros, como o bambu.
Os cangurus de “rosto-pequeno” surgiram na época do Mioceno (entre há cerca de 24 milhões de anos e de 5 milhões de anos) e subdividiam-se em 26 espécies. Alguns destes cangurus são considerados gigantes, pois podiam atingir mais de 200 quilogramas. Os cangurus actuais alcançam os 90 quilogramas. A espécie Simosthenurus occidentalis, cujos fósseis foram encontrados no sul da Austrália, é um Sthenurinae de tamanho médio, que chegaria aos 118 quilogramas.
Texto editado por Andrea Cunha Freitas