Woody Allen: “Todas as provas me apoiam, todas as investigações me ilibaram”

Realizador abriu festival de Deauville e disse que quem o ataca comete um erro. A distribuição comercial nos EUA do seu último filme, Um Dia de Chuva em Nova Iorque, foi cancelada pela Amazon.

Foto
Reuters/REGIS DUVIGNAU

O realizador norte-americano Woody Allen, que abriu na sexta-feira à noite o Festival de Deauville, em França, com o seu mais recente filme, Um Dia de Chuva em Nova Iorque, disse à cadeia France Inter que aqueles que o atacam cometem “um erro”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O realizador norte-americano Woody Allen, que abriu na sexta-feira à noite o Festival de Deauville, em França, com o seu mais recente filme, Um Dia de Chuva em Nova Iorque, disse à cadeia France Inter que aqueles que o atacam cometem “um erro”.

Numa entrevista publicada no site da maior rádio pública francesa, citada pela Agência France-Presse, Woody Allen, boicotado por distribuidoras norte-americanas na sequência de acusações de abuso sexual, disse que quem o ataca está a errar. “Mas as pessoas estão sempre a cometer erros, não é trágico”, acrescentou.

“Devem levar o meu filme para os Estados Unidos, tomar consciência da verdade”, afirmou o cineasta à rádio francesa, no dia de abertura do Festival de Deauville, mostra anual de cinema norte-americano em França.

Um Dia de Chuva em Nova Iorque, o mais recente filme de Woody Allen, protagonizado por Timothée Chalamet e Elle Fanning, foi exibido na abertura oficial do festival. Vai chegar às salas francesas de cinema no próximo dia 18 e tem a estreia portuguesa anunciada para 24 de Outubro.

A distribuição comercial nos Estados Unidos foi cancelada pela Amazon, na sequência dos protestos de Dylan Farrow, filha adoptiva de Woody Allen, que retomou as acusações de agressão sexual contra o cineasta, no ano passado. Woody Allen negou sempre estas acusações.

Dylan Farrow alega ter sido abusada em 1992, quando tinha sete anos. A jovem é apoiada pela mãe, a actriz Mia Farrow, e pelo irmão Ronan, jornalista vencedor do Prémio Pulitzer pela investigação ao produtor Harvey Weinstein e às acusações de agressão sexual de que este é alvo. Os processos contra o cineasta foram arquivados, após investigação.

O festival de Deauville foi alvo de protestos nos Estados Unidos também devido à inclusão de American Skin, do realizador Nate Parker, absolvido em 2011 da acusação de ter violado uma estudante. Ambos os filmes serão exibidos fora da competição. American Skin entrou também na programação do Festival de Veneza, que termina este sábado, levantando igualmente críticas.

Apoio ao Time's Up

“Gostei muito de trabalhar com a equipa” de Um Dia de Chuva em Nova Iorque, disse Woody Allen à France Inter, na sexta-feira, quando questionado sobre o peso das acusações no ambiente de trabalho. O jovem actor Timothée Chalamet, que protagoniza o filme, doou o cachet ao movimento Time's Up, de defesa das vítimas de abuso. 

“Divertimo-nos imenso [durante as filmagens]. Todos queriam trabalhar”, afirmou o realizador, acrescentando que todos são “livres de ter as suas opiniões, de pensar o que quiserem”. “Tenho 83 anos, não vou ficar por cá durante por muito mais tempo”, acrescentou à France Inter. “Portanto, nada é assim tão grave”.

“Todas as provas me apoiam, todas as investigações realizadas me ilibaram”, assegurou Woody Allen a outro canal, a France 5, em declarações também citadas pela France-Presse. “Espero que, um dia, [os que me acusam] percebam que cometeram um erro triste. (...) Errar é humano, não é trágico, mas é irritante e triste”.

Confrontado com o movimento #MeToo, o realizador disse que tinha um “percurso irrepreensível”. “Faço cinema há 50 anos, trabalhei com centenas de actrizes e nenhuma suspeitou sequer de comportamento questionável. (...) Sempre contratei mulheres para os papéis principais e sempre lhes pagámos o mesmo que aos homens. Fiz sempre o que o movimento #MeToo reivindica”, garantiu.

Várias celebridades afastaram-se de Woody Allen, nos últimos anos, mas o realizador recebeu recentemente apoio público de actrizes como Catherine Deneuve e Scarlett Johansson. Deneuve, presidente do festival de Deauville este ano, considerou “incrível” o tom das acusações de que Woody Allen é alvo, e assegurou que aceitaria filmar com ele. “É preciso separar o realizador da pessoa”, respondeu a actriz francesa numa entrevista em Agosto.

“Ele afirma que está inocente, e eu acredito”, disse por sua vez a actriz norte-americana, que filmou Scoop, Match Point e Vicky Cristina Barcelona com o realizador, em entrevista à Hollywood Reporter. Dylan Farrow já veio responder a estas declarações, afirmando numa publicação no Twitter que “Scarlett tem um longo caminho a percorrer para perceber uma causa que ela afirma representar”.

Diane Keaton, com quem Woody Allen fez vários filmes, como Annie Hall, Intimidade e Manhattan, defendeu sempre o realizador, a par de actores como Selena Gomez e Alec Baldwin.

Woody Allen acabou em Agosto a rodagem de Rifkin's Festival, em Espanha, filme com Christoph Waltz, Gina Gershon e Elena Anaya, que deverá estrear-se em 2020. “Enquanto continuar a ter financiamento, continuarei a fazer filmes”, disse na sexta-feira à France Inter.