Consumo de analgésicos opióides mais do que duplicou em oito anos
Autoridade nacional do medicamento está a investigar, em conjunto com a Direcção-Geral da Saúde, o crescimento imparável do consumo de medicamentos fortes para alívio da dor em Portugal.
O consumo de medicamentos analgésicos opióides está a aumentar de ano para ano em Portugal e, entre 2010 e 2018, cresceu bem mais do que o dobro.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O consumo de medicamentos analgésicos opióides está a aumentar de ano para ano em Portugal e, entre 2010 e 2018, cresceu bem mais do que o dobro.
No ano passado, consumiram-se 3,685 milhões de embalagens destes fármacos mais fortes para o alívio da dor, quando em 2010 tinham sido dispensadas 1,532 milhões de embalagens, revela esta quarta-feira a TSF, citando dados da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed).
Não são adiantadas as razões que justificam este aumento sustentado e que ascendeu a 141% em oito anos, um fenómeno que o Infarmed está a investigar em conjunto com a Direcção-Geral da Saúde, segundo adiantou uma fonte da autoridade do medicamento.
A preocupação com estes fármacos obtidos a partir do ópio e que actuam no sistema nervoso diminuindo a dor não é de agora. No início de 2017, o então presidente do Infarmed, Henrique Luz Rodrigues, alertou para o imparável aumento do consumo destes fármacos que podem causar dependência.
Ao jornal i, o especialista considerou que este crescimento era “preocupante na medida em que temos de aprender com os erros dos outros”, aludindo à epidemia de overdoses associadas a estes medicamentos nos EUA, que têm causado milhares de mortes todos os anos.
Nessa altura, o Infarmed anunciou que ia avaliar o aumento do consumo em Portugal e tentar perceber o que mudara na prescrição destes medicamentos que, fora dos hospitais públicos, apenas são vendidos com receita médica.
Os medicamentos opióides são desde há muito utilizados em Portugal sobretudo por médicos que tratam doentes com cancro ou doenças degenerativas em que os analgésicos comuns não aliviam a dor. Em 2017, Ana Bernardo, vice-presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, dizia acreditar, em declarações ao i, que a situação portuguesa estará longe de qualquer epidemia. “Tínhamos um atraso na utilização destes medicamentos no controlo da dor e havia registo de doentes que andavam 30 anos com dores antes de iniciarem tratamentos”, explicou.
Nos EUA o consumo de opióides é considerado um problema de saúde pública grave.
Este ano, um tribunal norte-americano condenou uma farmacêutica, a Johnson & Johnson, a pagar 515 milhões de euros ao estado de Oklahoma pela responsabilidade na crise dos opióides, que se calcula terem causado milhares de mortes, nomeadamente por overdose, entre 1999 e 2017.
Outras farmacêuticas aceitaram fazer acordos extrajudiciais. A decisão do tribunal norte-americano é vista como um precedente que pode fazer com que outros estados dos EUA reclamem indemnizações às empresas acusadas de terem promovido de forma agressiva o consumo destes medicamentos.