Varandas e a saída de Keizer: “Não sentíamos a equipa com confiança”
O líder do Sporting deu uma entrevista ao canal de televisão do clube onde falou sobre vários temas.
Frederico Varandas, presidente do Sporting, deu, nesta quarta-feira, uma longa entrevista à televisão do clube, onde explicou, pela primeira vez, os motivos da saída do treinador da equipa de futebol, Marcel Keizer, para além de ter abordado o mercado de transferências e algumas das polémicas mais recentes que têm envolvido o clube. E sobre a saída do técnico holandês o motivo foi a falta de confiança.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Frederico Varandas, presidente do Sporting, deu, nesta quarta-feira, uma longa entrevista à televisão do clube, onde explicou, pela primeira vez, os motivos da saída do treinador da equipa de futebol, Marcel Keizer, para além de ter abordado o mercado de transferências e algumas das polémicas mais recentes que têm envolvido o clube. E sobre a saída do técnico holandês o motivo foi a falta de confiança.
Primeiro surgiram os elogios. “Entendemos que o ciclo Marcel Keizer se fechou. É importante e justo relembrar como o clube estava em Novembro de 2018. Não existe estabilidade num projecto desportivo quando não existe estabilidade num clube. Nenhum treinador quer vir para um clube quando existe essa instabilidade. Marcel Keizer aceitou vir mesmo não havendo essa estabilidade, venceu dois títulos, o último simbólico para o Sporting”, começou por afirmar Varandas. Depois vieram as justificações para a saída: “A final da Supertaça marcou-me muito. Sentimos que a própria confiança de Marcel Keizer baixou e isso passou para o grupo. A equipa do Sporting podia fazer um jogo muito bom e um muito mau. Não sentíamos a equipa com confiança.”
O presidente sportinguista garantiu ainda que a decisão de abdicar dos serviços do treinador não teve a ver com a derrota frente ao Rio Ave - “Foi uma decisão ponderada e teve a ver com a confiança que eu não sentia no grupo” - e quando questionado sobre a razão do despedimento do técnico não ter ocorrido mais cedo, Varandas respondeu com uma interrogação: “Mas alguém ia despedir um treinador que tinha acabado de conquistar uma Taça da Liga e de Portugal?”
Leonel Pontes não tem prazo mas tem tarefa
Sobre o homem escolhido para suceder a Keizer - Leonel Pontes - Frederico Varandas deixou no ar a hipótese de o treinador que até ontem orientava a equipa de sub-23 "leonina” passar de interino a definitivo: “Leonel Pontes não tem um prazo, tem uma tarefa e depois estaremos cá, juntamente com ele, para observamos os resultados e tomaremos a decisão com ele.” E seguiram-se os elogios: “O Leonel Pontes não foi escolhido para os sub-23 por acaso. Tem muitos anos de futebol, de Sporting, conhece a evolução do futebol, conhece o plantel principal, conhece as rotinas, é um homem da casa. E, acima de tudo, e para mim é muito importante, é português. Em Novembro isto também era importante, mas não havendo estabilidade, isso afasta as pessoas.”
As escolhas no mercado de transferências
Frederico Varandas explicou ainda, uma a uma, as opções e decisões do Sporting durante o mercado de transferências. E começou por considerar “muito positivo” o encaixe de cerca de 60 milhões de euros que os “leões” conseguiram, sublinhando que o fizeram perdendo apenas um titular indiscutível, permanecendo o melhor médio da Europa na equipa e vendo-se livres de um lastro de jogadores excedentários que ocupavam cerca de 25% do orçamento. “Eram jogadores que entendíamos que não tinham valor desportivo para jogar no Sporting mas que eram pagos muito acima da média”, declarou, para depois passar a enumerar: “Só em salários líquidos, foram 15 milhões. Petrovic, 3,5 milhões, André Pinto, 3,5 milhões, os irmãos Ruiz, 2,5 milhões, Jefferson, 1 milhão, Wallison, 0,5 milhões.” “De todos os excedentários ficaram dois: Viviano e Matheus Oliveira. Este foi uma surpresa. Preferiu não jogar futebol”, acrescentou.
Considerando que o clube ficou com um grupo “mais competitivo, com mais soluções e qualidade do que o do ano passado”, o presidente sportinguista explicou ainda os timings das suas decisões ao longo do mercado de transferências, começando por afirmar que a sua direcção não guardou tudo para o fim: “O Sporting contratou oito jogadores, cinco dos quais antes do arranque dos trabalhos: Neto, Vietto, Camacho, Rosier e Eduardo.”
Em relação aos restantes três reforços, Varandas avançou as suas justificações para a sua contratação, dizendo que eles integravam uma “short list” da prospecção do Sporting. “Boulasie é um jogador feito, maduro. Vem com 120 jogos de Premier League, o ano passado fez oito golos e oito assistências... Jesé, é avançado identificado há muito tempo pela sua qualidade e finalmente encontra-se comprometido com a sua profissão. Esta administração atravessou-se por ele porque tive informações de quem partilhou o balneário com ele e sei como está a sua vida dentro e fora de campo. Fernando foi considerado o melhor extremo e revelação do campeonato brasileiro, tendo sido comprado pelo Shakhtar.”
Ainda sobre Jesé Rodríguez, Frederico Varandas esclareceu ainda que o Sporting pagará apenas um terço do salário do seu salário e quanto às críticas em relação ao facto de muitos destes reforços serem por empréstimo, o líder “leonino” foi pragmático: “Vou para o empréstimo porque não consigo comprar. O Sporting não pode viver acima das suas capacidades.” Mas referiu também que, na próxima época, da equipa sub-23, “três ou quatro jogadores vão fazer parte do plantel principal e pelo menos dois vão jogar na posição destes reforços”.
A “novela” Bruno Fernandes
O caso Bruno Fernandes também foi detalhado por Frederico Varandas. “Esta direcção tinha praticamente uma missão impossível, que era reter Bruno Fernandes, mas preparámo-nos para a venda do Bruno que, a sair, teria que sair por um valor que o Sporting considerasse justo. À medida que as semanas passaram, tivemos propostas, mas a única séria e, mesmo assim, só por palavras, foi do Tottenham, que ofereceu 45 milhões + 20 milhões por objectivos (que eram vencer a Premier League e a Champions) que considerei irrealista”, começou por explicar o líder “leonino”.
“Faltava um mês de mercado. Continuei à espera de ‘tubarões’ fora de Inglaterra que pudessem fazer uma proposta justa. Aguentei até à ultima semana e, no Mónaco, percebi que ele não ia ser vendido. Decidi então ir para outro plano que era vender Raphinha, porque não queria perder dois titulares. Se perguntar a 100 sportinguistas quem preferiam perder, 100 dirão Raphinha”, acrescentou Varandas.
Já quanto à renovação do contrato do médio, o presidente do Sporting não confirmou os cinco milhões de euros que alguma imprensa tem avançado, mas confirmou que o contrato do internacional português será revisto “não porque esteja previsto contratualmente, mas porque merece”.
O grande negócio e a venda possível
Frederico Varandas falou também sobre a venda de Thierry Correia, considerando-o “um grande negócio para o Sporting" e apontando-o mesmo como exemplo de como o clube deverá funcionar no futuro - "produzir talento, utilizá-lo na equipa principal e exportá-lo”. Mas também reconheceu que a forma como Bas Dost deixou o clube não foi a melhor: “Foi o negócio possível. No final de Maio, o jogador demonstrou o desejo de sair do Sporting ao treinador e à administração. A partir deste momento começámos a preparar o grupo sem o peso Bas Dost no orçamento. Gostava de ter Bas Dost no plantel. Mas quando um jogador diz que não quer ficar e tem um custo total de 5,9 milhões de euros... Não podemos ter um jogador que custa 6 milhões/ano. Quase 10% do orçamento. Foi a venda possível.”
Um ano de mandato e a exaltação com os críticos
Quase a cumprir o seu primeiro ano de mandato como presidente do Sporting (fá-lo a 9 de Setembro), Frederico Varandas aceitou fazer ainda um balanço destes 12 meses à frente do clube, considerando-o positivo e explicando porquê. “Entrámos em Setembro de 2018 num clube estilhaçado e em que os cinco principais jogadores tinham rescindido sem compensação financeira. Tínhamos necessidades de tesouraria de 100 milhões, 42 milhões para pagar coisas do passado. Resolvemos três processos de rescisão, ficámos em terceiro no campeonato e ganhámos dois títulos. Foi a melhor época nos últimos 17 anos”, resumiu.
Apontando como o melhor momento do seu mandato o dia a seguir à final da Taça de Portugal e o pior o da final da Supertaça, Varandas só se exaltou quando foi questionado sobre a contestação que a sua gestão tem sofrido por parte de alguns sócios “leoninos”. E, aí, foi “curto e grosso”, como o próprio referiu: “Os sportinguistas não são estúpidos. Ao primeiro desaire lá saem os esqueletos do armário… Mas deles todos não vi uma palavra quando ganhámos a a Taça da Liga ou de Portugal. Tenho muitos defeitos mas estúpido não sou e os sportinguistas também não. Quem contesta esta direcção depois da forma como recebemos este clube ou não percebe nada de futebol ou é intelectualmente desonesto. Existe um fosso para os rivais? Sim. Mas fomos nós que criámos este fosso? Neste momento estamos a sair do fosso… Com muita gente a puxar para baixo.”