Morreu Peter Lindbergh, nome maior da fotografia de moda
Dedicou a sua carreira à fotografia de moda e, nos anos 1990, tornou-se conhecido pelos retratos de Naomi Campbell e Cindy Crawford.
O fotógrafo de moda alemão Peter Lindbergh, conhecido pelos seus retratos a preto e branco, morreu na terça-feira, aos 74 anos. A notícia foi divulgada num comunicado publicado sua conta oficial de Instagram. “Deixa um grande vazio”, lê-se na última frase da mensagem.
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O fotógrafo de moda alemão Peter Lindbergh, conhecido pelos seus retratos a preto e branco, morreu na terça-feira, aos 74 anos. A notícia foi divulgada num comunicado publicado sua conta oficial de Instagram. “Deixa um grande vazio”, lê-se na última frase da mensagem.
Lindbergh foi um dos nomes de proa da fotografia de moda. Inspirado pelo realismo do fotojornalismo de Henri Cartier-Bresson, o trabalho do fotógrafo alemão distinguia-se pela linha clara que o domina: as fotografias a preto e branco – onde joga habilmente com o contraste – e a procura pela naturalidade da modelo.
Em 2016, numa entrevista ao Le Monde, explicou que o fazia para defender as mulheres dos estereótipos de beleza: “Nós, os fotógrafos, estamos cá para libertar as mulheres da ditadura da perfeição e da juventude. A indústria [da moda] faz o seu trabalho, tem produtos para vender (...) A imagem que actualmente temos das mulheres é assustadora. Com o Photoshop fabricamos robôs, como se fosse uma vantagem fabricar 1,80 metros e 45 quilogramas.”
Nasceu em 1944, em Leszno, território que actualmente pertence à Polónia e passou a sua infância em Duisburgo, na Renânia do Norte-Vestfália. Estudou na Academia de Belas Artes de Berlim, durante os anos 1960 – numa altura em que tinha o pintor Vincent van Gogh como uma das suas principais inspirações e queria saber mais sobre a escultura e o cinema alemão entre as duas guerras mundiais.
Deu os primeiros passos na fotografia ao lado do fotógrafo alemão Hans Lux, de quem foi assistente e, pouco tempo mais tarde, começou, em nome próprio, a colaborar com a revista alemã Stern. Em 1978, troca a Alemanha por Paris para perseguir o seu sonho – a fotografia.
Deixou várias fotografias que ficaram para a história. Algumas das mais célebres são o resultado de um ensaio que fez em Janeiro de 1988, para a Vogue norte-americana. Lindbergh juntou aquelas que eram as mais jovens promessas da moda – Linda Evangelista, Christy Turlington, Tatjana Patitz, Karen Alexander, Rachel Williams e Estelle Lefébure – levou-as à praia de Santa Mónica, na Califórnia, e fotografou-as, apenas com uma camisa branca e quase sem maquilhagem, a rir-se.
O contraste gritante com a fotografia de moda glamorosa que marcou os anos 1980 ditou que fossem rejeitadas pelos directores da revista. E assim ficaram perdidas numa gaveta no gabinete da direcção.
O seu génio seria melhor aproveitado pela sucessora na direcção da Vogue norte-americana, Anna Wintour, que quando encontrou as fotografias perdidas de Lindbergh lhe encomendou a capa da primeira revista sob o seu comando. Apesar de todas as contrariedades – a roupa que a modelo Michaela Bercu ia usar não lhe servia e por isso tiveram de usar as calças de ganga da editora de moda – foi bem-sucedida.
“Aquela foto não tinha nada a ver com os planos aproximados elegantes e estudados que eram típicos das capas da Vogue na época, cheios de maquilhagem e jóias caras. Quebrava todas as regras”, lembra Wintour no livro Peter Lindbergh – A Different Vision on Fashion Photography editado pela Taschen.
Em 1990, dois anos depois das fotografias na praia, Lindbergh fez a capa de Janeiro da Vogue britânica. Juntou Evangelista, Turlington, Patitz, Cindy Crawford e Naomi Campbell para uma sessão de fotografias em Nova Iorque e optou novamente pelas fotografias realistas, despojadas, próximas da mulher real e afastadas do ideal de beleza que havia dominado a década anterior. Foi o momento zero da carreira destas mulheres e ajudou a definir os anos 90 como a década das supermodelos. "Quando me perguntam qual foi o meu primeiro momento de supermodelo, refiro-me sempre a esta capa da Vogue”, escreveu Cindy Crawford, na revista britânica, em 2016.
Foi essa a linha que o fotógrafo seguiu ao longo de toda a sua carreira e que honrou nas produções que fez para revistas como a Vanity Fair, Harper's Bazaar e The New Yorker e ainda para os três calendários da Pirelli que fotografou, em 1996, 2002 e 2017.
A sua última produção foram os retratos a edição de Setembro da Vogue britânica, sob o mote “Rostos da Mudança”, sob direcção de Meghan Markle. Lindbergh foi o autor dos retratos das 15 “mulheres destemidas” que compõem as 15 capas da edição de Setembro – entre elas Jane Fonda, Jacinda Ardern, Greta Thunberg e Salma Hayek Pinault.