A receita para o futuro tem palavras do passado
As respostas para uma crise que pode vir e as receitas de há dez anos para a crise que acabou por vir.
Quando houve eleições legislativas em Portugal, há dez anos, o país atravessava um período de forte luta política depois dos primeiros quatros anos de governação socialista. O Lehman Brothers já tinha caído, a crise do “subprime” era já uma realidade e o preço do petróleo atingia os píncaros. Em Portugal, as taxas de juro da dívida ameaçavam a possibilidade de o país se financiar.
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Quando houve eleições legislativas em Portugal, há dez anos, o país atravessava um período de forte luta política depois dos primeiros quatros anos de governação socialista. O Lehman Brothers já tinha caído, a crise do “subprime” era já uma realidade e o preço do petróleo atingia os píncaros. Em Portugal, as taxas de juro da dívida ameaçavam a possibilidade de o país se financiar.
No programa eleitoral para as eleições de 2009, nas quais José Sócrates perderia a maioria absoluta, os socialistas afirmavam que a resposta à crise se baseava em quatro eixos: “estabilizar o sistema financeiro, salvaguardar a confiança e os depósitos, e contribuir, de modo coordenado a nível internacional, para a criação de condições no sentido da redução das taxas de juro, designadamente a taxa Euribor”; “promover o acesso ao crédito e apoiar as empresas e o emprego”; “reforçar o investimento público, em especial os investimentos locais, de menor dimensão ou de mais rápida execução, como sejam os investimentos na modernização das escolas, nos equipamentos de saúde, na energia e nas redes de nova geração”; e “apoiar as famílias e reforçar a protecção social”.
Dez anos volvidos, a história quase se repete. Os ingredientes são os mesmos, redundam em receitas quase iguais e são usados por vários partidos que se apresentam a eleições. Há muitas semelhanças, mas a base de partida (défice, crescimento do PIB, taxas de juro e situação da banca) e as condicionantes não se repetem.
Uma das condicionantes é o défice. Na entrevista ao Expresso, António Costa quis afastar-se dos remédios de 2009 e prometeu que o objectivo é “aumentar o investimento público sem necessidade de aumentar o défice”. Costa não quer pôr em causa as “contas certas”, o alfa e ómega dos seus discursos, que serão a espinha dorsal da campanha eleitoral que se avizinha. Há também algumas diferenças, nomeadamente no que diz respeito ao sistema financeiro e à promoção do crédito. A queda dos bancos, que obrigou ao resgate, levou a que os governos se afastassem das políticas de crédito agressivas (que estão de regresso), pelo que um dos objectivos é o de desalavancar as empresas.
Há mais ventos que levam o discurso político até aos prenúncios do passado. Ainda esta semana, um dos factos políticos foi um editorial do Financial Times a elogiar as contas portuguesas e tornando o país no último reduto de esperança para a Europa. Rui Rio não perdeu a oportunidade de trazer para esta pré-campanha um texto do mesmo jornal de 2007, ainda no pré-crise, em que este elogiava o desempenho económico do então Governo liderado por José Sócrates.
Também Rui Rio retomou críticas já feitas nos anos de 2009 e de 2010, quando Manuela Ferreira Leite, então líder do partido, apontava incansavelmente o dedo ao problema do endividamento externo do país. Esta semana, o líder o PSD lembrou que “o défice mais grave que temos é o défice externo”.