Cristas admite que a estabilidade foi a virtude do Governo de Costa

Com o fim da coligação com o PSD, líder do CDS considera que o voto à direita ficou mais livre para combater a abstenção e o voto útil.

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Assunção Cristas e Adolfo Mesquita Nunes na apresentação do programa eleitoral do CDS. LUSA/MIGUEL A. LOPES

A presidente do CDS, Assunção Cristas, afirma que a principal “virtude” do actual governo do PS foi ter garantido a estabilidade e que o seu “falhanço” foi ter-se concentrado apenas na função pública, esquecendo o conjunto do país, a par da pouca transparência orçamental.

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A presidente do CDS, Assunção Cristas, afirma que a principal “virtude” do actual governo do PS foi ter garantido a estabilidade e que o seu “falhanço” foi ter-se concentrado apenas na função pública, esquecendo o conjunto do país, a par da pouca transparência orçamental.

“A estabilidade por um lado é um aspecto positivo, porque um país que não tenha alguma estabilidade do governo de facto também prejudica o seu próprio crescimento e o seu bem-estar”, diz a líder do CDS em entrevista à Lusa, destacando, porém, que, “depois, é preciso saber a que ponto e a que o preço” a estabilidade foi assegurada.

Assunção Cristas considera que não se surpreendeu com esse facto porque -- lembra - “quem chega ao poder desta forma, tendo perdido as eleições e, portanto, tendo sido rejeitado, se quisermos, numa primeira forma directa, como primeiro-ministro, mas consegue juntar uma maioria à sua volta para poder governar, tudo faria para governar durante quatro anos”.

Assim sendo, afirma, era de esperar que António Costa “tudo faria para provar” que o seu Governo era “possível e viável”. Portanto, “o primeiro-ministro adoptou uma postura muito pragmática em que conseguiu ter essa preocupação com a estabilidade”, conclui a líder do CDS: “Foram quatro anos de estabilidade governativa, mas com um preço muito alto”.

É neste contexto que a presidente do CDS lamenta que Costa “tenha sacrificado tudo aquilo que era preciso fazer no país (...) com a melhor conjuntura externa de sempre, porque tinha que manter essa estabilidade com os parceiros mais à esquerda (...) muitas coisas não foram feitas, que eu acho que poderiam e deveriam ter sido feitas”.

A título de exemplo, cita a necessidade de alterações na formação profissional e ensino superior, e questões relacionadas com a fiscalidade, como baixar a taxa do IRS e fazer reformas na área da Justiça.

Em contrapartida, a líder do CDS aponta como principal “falhanço” do governo não ter colocado Portugal como um país mais competitivo e produtivo, com mais capacidade de gerar e distribuir riqueza: “Este governo esqueceu o conjunto do país, esteve concentrado apenas num sector, essencialmente na função pública.”

Outra “pecha" grave, nas suas palavras, foi a falta de transparência orçamental, “um discurso que não bateu com a realidade”, nomeadamente no que diz respeito à austeridade, que se manteve, “embora feita de forma diferente, com a maior carga fiscal de sempre, com impostos indirectos e depois com cortes no investimento público, porque nunca foi executado em linha com aquilo que estava previsto”.

Mantém liderança do CDS

Por outro lado, a líder do CDS-PP afirma querer ajudar “a construir uma maioria de centro direita” com o PSD, “combater” a abstenção e o voto útil, e confessa-se “vacinada” contra as sondagens que dão fracos resultados ao partido. Assim, relativizou a ideia de uma crise à direita, mostrando o trabalho que fez e está a fazer no partido, e afirma-se confiante nos resultados da campanha e das legislativas: “Nós sabemos como é que uma campanha começa, não sabemos como é que ela termina”.

Lembrou que, pela primeira vez desde 2015, os partidos - PSD e CDS - que ganharam as eleições não formaram governo, sendo o PS a fazê-lo com base numa maioria de esquerda, com PCP, BE e PEV. O que quer dizer que, desde então, o voto ficou “mais livre”, de modo a que os eleitores podem votar no CDS com a garantia de estão a contribuir para “uma maioria de centro-direita”, acrescentou.

Depois de ter sido impossível uma coligação pré-eleitoral com o PSD, partido onde não detectou “interesse em que isso pudesse acontecer”, Assunção Cristas afirmou que esse entendimento pode ser possível após as legislativas.

Em contrapartida, a presidente do CDS-PP advertiu que, apesar das divergências públicas das últimas semanas, BE e PCP podem voltar a entender-se com o PS numa “solução de continuidade” após as legislativas.

“O que nós sabemos é que quem se entendeu no passado também se entende no futuro. Portanto, esta solução pode ser uma solução de continuidade”, considerou. Com estas declarações, Cristas afirmou-se pouco convencida de que um agravamento das relações entre o PS e os dois partidos que deram apoio parlamentar ao Governo minoritário de António Costa resultem numa ruptura após 6 de Outubro.

Para Cristas, “este formato” de apoio parlamentar ao executivo minoritário do PS constitui “uma situação” de “quase dupla personalidade”, porque ao mesmo tempo os partidos apoiam-no “nos momentos decisivos”, como o Orçamento de Estado e o programa de estabilidade” e depois fazem “oposição e guerra ao próprio governo”. Por outras palavras, o Bloco de Esquerda e também PCP “sempre fizeram um jogo de apoiar”, mas também como se fossem “da oposição ao mesmo tempo”.

“Agora distanciam-se dizendo que são quase oposição ao PS. Quando nós sabemos que eles estarão do lado do PS, apoiarão o PS, influenciarão o PS”, acrescentou. A presidente dos centristas afirmou ainda que o PS está “preso” à esquerda, fazendo com que o executivo não faz “o que é preciso para se libertar e para chegar a outros patamares de bem-estar e de crescimento”.

“Temos um governo prisioneiro de uma ideologia mais à esquerda. A saúde é um exemplo claro disso”, afirmou, dando como exemplo o fim das parcerias público-privada, como Braga, o que só acontece, segundo afirmou, “por uma pura opção ideológica” de esquerda.

Por fim, Assunção Cristas põe de parte a possibilidade de deixar de ser líder do seu partido. “Essa é uma questão que eu não me coloco, eu acho que nós vamos ter um bom resultado”, diz. “A nossa preocupação é afirmar as bandeiras eleitorais do CDS e “contribuir o mais possível para um bom resultado do centro-direita”.

A dirigente não rejeita que há muito trabalho a fazer e que sabe de onde parte: “Temos 18 deputados, sabemos o difícil que é, mas também sabemos que cada eleição é uma eleição. Portanto, o que podemos dizer é que estamos aqui, sim, para o mais possível dar força às nossas bandeiras [mas] isso está nas mãos das pessoas”.