Assunção Cristas e Catarina Martins querem investir no país. Mas não concordam como
As duas líderes partidárias estiveram esta noite frente a frente, no segundo debate televisivo que antecede as legislativas. A discussão em torno da política fiscal ocupou grande parte do debate.
O que une o CDS e o Bloco de Esquerda? Muito pouco, reconheceram Assunção Cristas e Catarina Martins, que esta terça-feira protagonizaram o segundo frente a frente dos debates que antecedem as eleições legislativas. As duas líderes partidárias procuraram as diferenças nos seus programas eleitorais e, sem dificuldade, distinguiram as propostas que defendem.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O que une o CDS e o Bloco de Esquerda? Muito pouco, reconheceram Assunção Cristas e Catarina Martins, que esta terça-feira protagonizaram o segundo frente a frente dos debates que antecedem as eleições legislativas. As duas líderes partidárias procuraram as diferenças nos seus programas eleitorais e, sem dificuldade, distinguiram as propostas que defendem.
Para o CDS, a prioridade é baixar os impostos. Já o Bloco de Esquerda quer apostar no investimento público – por sua vez, o CDS defende o investimento privado. Até na leitura dos programas eleitorais dos partidos que concorrem às eleições as duas candidatas discordaram: Assunção Cristas disse ter dado “uma vista de olhos” ao programa bloquista para assinalar que não viu pontos de convergência com o CDS. Já Catarina Martins vincou que gosta “de conhecer os vários programas”, aproveitando para trazer para a mesa uma proposta na qual os dois partidos concordam: o alargamento da licença de parentalidade.
No entanto, o discurso de convergência foi curto. Logo a seguir, a líder bloquista aproveitou para lembrar que, “em Julho, [o CDS] votou contra uma proposta do Bloco que previa aumentar a licença”. Ainda assim, Catarina Martins registou o ponto comum do programa com os centristas. Assunção Cristas defendeu-se, justificando que o Bloco chumbou “uma proposta do CDS sobre esta matéria”, para mais tarde insistir na proposta do CDS, que defende um alargamento não para 210 dias, “mas para o período de um ano, que possa ser partilhado pela mãe, pai e avós”.
O debate transmitido pela RTP3, e conduzido pelo jornalista António José Teixeira, durou 30 minutos e foi dominado pela discussão da política fiscal. A cabeça-de-lista do CDS pelo círculo de Lisboa e a cabeça-de-lista pelo círculo do do Porto discutiram ainda as diferentes propostas para as famílias, a legislação laboral, as estratégias para o ambiente, a desertificação do interior e a igualdade de género.
O debate não fugiu as críticas e trocas de acusações em relação ao Governo socialista e ao anterior governo, conduzido pelo PSD e CDS. Assunção Cristas acusou o Bloco de Esquerda de “não conseguir fazer um debate de ideias” e optar por uma “certa superioridade moral que ataca as pessoas”. Já Catarina Martins assinalou as diferenças entre os dois partidos que, considerou, “conhecem com certeza classes médias diferentes”.
Política fiscal dominou a conversa
A discussão sobre a política fiscal passada e futura dominou grande parte do debate. Comentando o aumento da receita fiscal, Assunção Cristas destacou que o Bloco de Esquerda aprovou quatro orçamentos do Estado que continham uma “austeridade encapotada” que escondia “a maior carga fiscal de sempre” no país. A candidata bloquista justificou os números e argumentou que “a receita fiscal não está maior porque as pessoas fazem um esforço maior, mas porque a economia está melhor, o que quer dizer que as pessoas têm mais poder de compra”, sublinhando que “a taxa de IRC também não subiu, há mais receitas porque as empresas estão a produzir mais”. A líder do CDS recusou a justificação. “Não tem a ver com o aumento ou melhoria da economia porque a carga fiscal subiu acima da melhoria da nossa economia”. Cristas considerou ainda que o Estado se “apropriou da riqueza que as pessoas foram criando com o seu trabalho”.
Catarina Martins, que nas últimas semanas tem falado do Bloco de Esquerda como um partido que também é “de contas certas”, pediu para que se discutissem números e não “umas coisas no ar”, citando logo de seguida os números da OCDE sobre aumento de 8,2% do rendimento disponível em Portugal nos últimos anos (a média da OCDE rondou os 6%). A líder do Bloco de Esquerda lembrou os problemas herdados do tempo da troika, como o desemprego de longa duração que levou a muitas reformas antecipadas ou os despejos e disse que o anterior Governo “criou um país precário, com enorme dívida pública”.
Num ataque ao CDS, Catarina Martins criticou quem quer transformar o país num “Portugal offshore”, sublinhando que “ao contrário dos milionários que o CDS gosta de apoiar com benefícios fiscais, quem ganhou os seus salários e pensões não vai pôr o seu dinheiro numa offshore. Vai gastá-lo aqui na economia”.
Em resposta, Assunção Cristas acusou-a de querer confundir “um tempo de excepcionalidade com um tempo de normalidade” e notou, com ironia, que Catarina Martins “ficou muito escandalizada quando verificou que houve transferências de 10 milhões de euros para offshores no tempo do anterior governo. Mas neste governo foram 30 milhões. Não a ouvi ficar escandalizada nem incomodada”.
O ataque de Assunção Cristas seria respondido uns momentos depois, quando Catarina Martins recuperou a “amnistia fiscal de Paulo Núncio”, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais no anterior Governo PSD/CDS, que beneficiou Ricardo Salgado, Zeinal Bava e José Sócrates. A referência valeria a Catarina Martins a acusação de recorrer a estes temas para exibir uma “certa superioridade moral” em vez de discutir propostas.
Outra das prioridades discutidas foi o investimento no país. Enquanto o Bloco de Esquerda defendeu um programa de investimentos públicos, o CDS argumentou que “o que puxou o país nestes últimos quatro anos foi o investimento privado e não público”, acrescentando que “o investimento público de 2018 ficou abaixo do de 2015”.
Também no ambiente – a área que abre o programa eleitoral do Bloco de Esquerda e encerra o programa do CDS –, as duas líderes partidárias assinalaram algumas divergências, mas concordaram na colocação da água e os recursos hídricos em Portugal como prioridade. Quer Catarina Martins, quer Assunção Cristas defendem “alterações profundas” e “reformas estruturais”. Enquanto o Bloco de Esquerda considera que existem “barragens a mais”, o CDS lembra que em 2018 Viseu esteve em seca e que as barragens desempenham um papel chave. O CDS vincou ainda que, no seu programa, “o território e do ambiente são dissociáveis”.
O debate terminou como arrancou, com as duas líderes políticas a concordarem apenas durante alguns segundos, antes de divergirem para as suas diferentes propostas a propósito da discriminação de género. Enquanto Assunção Cristas focou o discurso no direitos das mulheres que garantam o equilíbrio da vida familiar, nomeadamente com o trabalho à distância, Catarina Martins preferiu apostar na protecção laboral das mulheres.
Este foi o segundo debate televisivo. Nas próximas semanas, os candidatos à Assembleia da República debatem medidas, na televisão e na rádio. Veja a agenda completa para os próximos dias.