Na Universidade de Verão do PSD, desaprende-se a falar politiquês
O que aprendem os jovens sociais-democratas que, durante uma semana, frequentam a Universidade de Verão do PSD? Ser popular sem ser populista e marcar a memória do eleitorado. Os futuros jovens políticos querem aprender a ser ouvidos.
Ser popular sem cair em populismos, antecipar os ataques do adversário e sistematizar ideias. O que aprenderam os jovens sociais-democratas na Universidade de Verão do PSD? A futura geração de políticos quis saber quais os truques que constroem um bom discurso, o que podem e devem publicar nas redes sociais e como conseguem chegar aos eleitores no meio de tanta entropia. Entre conferências e workshops, recordaram-se momentos que marcaram a história política do PSD e do país e houve até espaço para elogiar Che Guevara.
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Ser popular sem cair em populismos, antecipar os ataques do adversário e sistematizar ideias. O que aprenderam os jovens sociais-democratas na Universidade de Verão do PSD? A futura geração de políticos quis saber quais os truques que constroem um bom discurso, o que podem e devem publicar nas redes sociais e como conseguem chegar aos eleitores no meio de tanta entropia. Entre conferências e workshops, recordaram-se momentos que marcaram a história política do PSD e do país e houve até espaço para elogiar Che Guevara.
A simplicidade resulta, as figuras de estilo ajudam e os bons e maus exemplos não escasseiam. Habituado a escrever discursos para políticos e empresários, Paulo Colaço, orador da Universidade de Verão do PSD, defende um discurso curto e sistematizado, mas rico em elementos que cativem quem queremos que nos ouça. “Quem quer passar muita informação não passa informação nenhuma”, avisa.
Em conversa com o PÚBLICO, o antigo membro do Conselho de Jurisdição do PSD partilhou alguns dos truques e estratégias para a escrita de discursos que usa e apontou os principais erros na comunicação política nacional.
Os políticos hoje competem com a Netflix
Além de competirem entre si, os políticos hoje “competem com a Netflix, com os telemóveis, com as redes sociais”. “Agora acontece muita coisa. Há 50 anos acontecia menos”, assinala o social-democrata. “Há um discurso de Einstein contra Hitler, onde Einstein fala monocordicamente e absolutamente estático. Era um bom comunicador? Não. Então porque o estavam a ouvir? Dir-me-á que era por ser Einstein”, pergunta, antes de uma pausa de breves segundos. “Imagine alguém a falar assim durante uma hora hoje. Quantas vezes já olhou para o lado, leu uma mensagem nova ou espreitou uma notificação? Estas pessoas estavam atentas não porque era Einstein, mas porque se perdessem uma palavra nunca mais a ouviam. Não havia Youtube para rever este discurso. E não havia mais nada a acontecer.”
A essa, Paulo Colaço soma uma segunda dificuldade, com raízes mais estruturais. “Há um desinteresse generalizado na política. E uma das grandes razões é devido à forma como os políticos comunicam.”
A linguagem é cada vez menos clara. “Hoje já ninguém vê. Visualizamos. Já ninguém faz coisas. Agora, efectuamos. Já ninguém dá os parabéns: parabenizamos. As pessoas deixaram de falar de forma simples, porque acham que falar de forma simples transforma-nos em simplórios”, critica o social-democrata. “Como é queremos chegar aos outros se temos este complexo da simplicidade? Deixámos de falar uma linguagem simples e passámos a falar o politiquês”.
E recua umas décadas para um exemplo histórico. “Quando perguntaram ao general Humberto Delgado o que faria a Salazar – e acredito que a frase não tenha sido tão rigorosa –, ele disse: ‘Obviamente, demito-o’. Podia ter dito ‘obviamente que pensarei em formas politicamente aceitáveis para o dispensar’. Mas isto não chegaria a tantas pessoas como “obviamente demito-o”, que é uma coisa crua, bruta e eficaz”, analisa.
Uma das formas de contornar o politiquês é recorrendo a figuras de estilo. E parte para um exemplo dentro do partido. “Quando Durão Barroso disse que o país estava de tanga não perdeu em seriedade: ganhou em clareza.” Mas reconhece outros exemplos partidários. “Em 2017, o PAN levou pacotes de açúcar e embalagens de refrigerantes para um plenário, para falar da questão do açúcar nas bebidas. O deputado do PCP Paulo Sá também fez uma brincadeira com Legos para explicar a política orçamental de Maria Luís Albuquerque. Estas coisas têm partilha porque estimulam o pensamento mais obtuso.” Mas há mais truques. “A capacidade de antecipação das críticas dos adversários ou de apropriação – como é o caso da esquerda quando adoptou o termo ‘geringonça’, inicialmente pejorativo” também constrói um bom orador.” Outra das chaves é uma boa punchline. “A forma como Che Guevara fechou com ‘Hasta la victoria siempre’ ainda hoje é um soundbite mundial”, elogia Paulo Colaço.
“As pessoas tendem a passar as informações da memória temporária para a memória permanente consoante os estímulos de dor ou de prazer que essa informação lhes dá. Por isso é que as campanhas se reduzem sempre à campanha positiva e à campanha negativa”, explica Rodrigo Moita de Deus, antigo publicitário e jornalista e hoje consultor de comunicação. Autor de um dos mais populares blogues políticos do país, o 31 da Armada, Rodrigo Moita de Deus critica o “vazio comunicacional” deixado pelos partidos maioritários que, com excesso de zelo, “se auto-censuram” na forma como comunicam.
“A maior parte dos políticos aprendeu a fazer política na televisão e não está habituado a 24 horas de escrutínio. E isso muda tudo”, resume.
Reconhecida a importância que a comunicação tem na ligação do eleitorado aos protagonistas políticos, Rodrigo Moita de Deus vinca, em jeito de conclusão, que “a comunicação é um instrumento”. “No máximo dos máximos um meio. Não é nem uma causa, nem consequência. Há tudo o resto. Há a política propriamente dita.”
E também nisso Paulo Colaço é peremptório sobre a mensagem que deixou em Portalegre. “Podemos ser populares na forma de falar, mas não populistas na forma de propor, de governar ou de querer exercer a política.”