A nova directora do MAAT é uma sinóloga

A italiana Beatrice Leanza chega de Pequim para dirigir o Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia. Com uma experiência de mais de 15 anos na Ásia, fala a língua dos principais accionistas da EDP.

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A nova directora Beatrice Leanza tem 41 anos Valentina Sinis

A curadora italiana Beatrice Leanza, com uma carreira ligada à curadoria contemporânea na China, é a nova directora executiva do Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, onde substituirá o arquitecto Pedro Gadanho. Esta sinóloga de 41 anos que se instalou em Pequim em 2002 iniciou esta segunda-feira as suas funções à frente do museu da Fundação EDP, a instituição responsável pelas actividades culturais da eléctrica portuguesa – que, coincidência ou não, tem um grupo chinês, o China Three Gorges, como accionista principal.

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A curadora italiana Beatrice Leanza, com uma carreira ligada à curadoria contemporânea na China, é a nova directora executiva do Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, onde substituirá o arquitecto Pedro Gadanho. Esta sinóloga de 41 anos que se instalou em Pequim em 2002 iniciou esta segunda-feira as suas funções à frente do museu da Fundação EDP, a instituição responsável pelas actividades culturais da eléctrica portuguesa – que, coincidência ou não, tem um grupo chinês, o China Three Gorges, como accionista principal.

A notícia foi avançada pelo jornal online Eco e confirmada em comunicado pela Fundação EDP. Beatriz Leanza, que já foi apresentada à equipa com que irá trabalhar, não esteve disponível para falar com os jornalistas no seu primeiro dia de trabalho em Lisboa.

Curadora e crítica de arte, Beatrice Leanza foi directora criativa da Semana de Design de Pequim entre 2013 e 2016, informa a EDP, acrescentando que iniciou a sua carreira como curadora nos CAAW (China Art Archives and Warehouse), um espaço de arte contemporânea alternativo que o conhecido artista chinês Ai Weiwei ajudou a criar no final dos anos 90. Leanza dirigiu os CAAW entre 2002 e 2005, tendo Weiwei entretanto partido para o exílio no Ocidente.

Sobre a formação da nova directora do MAAT, o comunicado acrescenta que a italiana tem um mestrado em Estudos Asiáticos pela Universidade Ca’Foscari de Veneza, com uma tese dedicada à arte contemporânea na China. Foi a curadora responsável pelo programa Across Chinese Cities, apresentando nas últimas três edições da Bienal de Arquitectura de Veneza, com um enfoque na comunidade em 2018, nos objectos, espaços e rituais produzidos pelo colectivo. 

“A Fundação EDP acredita que o conhecimento de Beatrice Leanza nas áreas da arte contemporânea, design e arquitectura, bem como a sua experiência na implementação de estratégias culturais que envolvam a comunidade, serão decisivas para a continuação da afirmação do MAAT como uma instituição cultural de referência internacional”, diz o comunicado. Segundo a Fundação EDP, a nova directora, “com um reconhecido percurso nas áreas da arte contemporânea, design e arquitectura”, foi escolhida depois de um processo que envolveu entrevistas a vários candidatos, “tendo uma larga experiência na gestão de projectos e equipas”. 

Novo conselho curatorial

Entre a dezena de profissionais do meio (curadores, artistas, arquitectos e designers) contactados pelo PÚBLICO após o anúncio da nomeação, o nome da nova directora do MAAT não é, porém, propriamente conhecido ou reconhecido. Um sinal, segundo a curadora Vera Sacchetti, de que, apesar da histórica ligação do país a Macau e à Ásia, os circuitos da arte contemporânea nacional não se têm cruzado com o mundo em que se movimenta a sinóloga italiana, espelhando a tendência dos curadores europeus para trabalharem maioritariamente com criadores europeus e norte-americanos. “Beatrice Leanza é uma excelente escolha. É uma lufada de ar fresco porque conhece uma zona do planeta para o qual é preciso olhar com mais atenção e por causa da sua abordagem transdisciplinar”, afirma a curadora que actualmente vive em Basileia e conheceu a nova directora na China. 

“Há mais de 15 anos que ela anda por essa parte do mundo. Conhece todas as pessoas que fazem trabalho criativo nas áreas do design, da arquitectura, do urbanismo e da arte contemporânea. Não trabalha com pessoas sujeitas a um só rótulo, mas que são multidisciplinares por natureza. No meu circuito internacional de curadoria contemporânea, mais ligado às áreas do design e da arquitectura, ela tem uma rede como ninguém na China e na Ásia”, afirma Vera Sacchetti, que foi curadora associada da última Bienal de Design de Istambul. 

Segundo o seu currículo na rede social profissional Linkedin, Beatrice Leanza era actualmente directora criativa de The Global School, um instituto chinês independente que cruza investigação, educação e produção cultural. Com vários artigos publicados na imprensa especializada e generalista, da Domus à Wallpaper, a sua última obra intitula-se Ideas in Action – Critical Design Practice in China (2016), sendo descrita como um almanaque onde são apresentados 115 projectos chineses e internacionais, do desenho urbano aos projectos de arquitectura, passando por intervenções temporárias.

Pedro Gadanho, que chegou em 2015 para inaugurar o MAAT depois de uma experiência como curador de arquitectura no Museum of Modern Art (MoMA) de Nova Iorque, fez apenas um mandato à frente do museu, não tendo visto o seu contrato renovado, ao contrário do que esperava, como afirmou em Julho numa entrevista ao PÚBLICO

O comunicado distribuído esta segunda-feira pela Fundação EDP adianta também que o MAAT sofreu uma alteração no seu organograma, esclarecendo que Beatrice Leanza vem exercer o cargo de directora executiva e não o de directora, como até aqui fora designado. 

A nova responsável passará a ter a colaboração de um conselho curatorial, cuja composição será anunciada em breve e deverá incluir personalidades internacionais. Não é ainda claro como se vai articular o trabalho da nova directora com o deste novo órgão, mas a Fundação EDP não esteve disponível esta segunda-feira para prestar mais esclarecimentos.