Costa alerta para perigo de “impasse à espanhola” para pedir “PS forte” nas eleições

Em entrevista à agência Lusa, o líder do PS diz que a estabilidade passa pela “existência de um PS forte”. António Costa destaca ainda “uma das grandes conjugações desta legislatura: a “paciência revolucionária” do Jerónimo de Sousa com a “paciência reformista” do António Costa”.

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LUSA/MÁRIO CRUZ

O primeiro-ministro adverte que Portugal poderá cair numa “situação de impasse à espanhola” caso não saia “um PS forte” das eleições de 6 de Outubro, ficando assim comprometida a estabilidade necessária à prossecução das políticas seguidas na actual legislatura.

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O primeiro-ministro adverte que Portugal poderá cair numa “situação de impasse à espanhola” caso não saia “um PS forte” das eleições de 6 de Outubro, ficando assim comprometida a estabilidade necessária à prossecução das políticas seguidas na actual legislatura.

“Seria um pouco incompreensível que nós deitássemos pela janela uma solução que tem funcionado bem para irmos cair numa situação de impasse à espanhola que, manifestamente, creio que não pode ser o futuro que cada um de nós deseja”, dramatiza o líder do PS e do executivo, numa entrevista à agência Lusa no âmbito da campanha eleitoral para as legislativas de 6 de Outubro.

Costa defende que “a solução de estabilidade assenta na existência de um PS forte” e recorda que numa altura em que “todos procuram uma solução à portuguesa”, seria “incompreensível” que se pusesse em causa um equilíbrio “absolutamente essencial” à prossecução das políticas actuais, deixando recados à esquerda e à direita.

“Se tivéssemos prosseguido a trajectória ‘austericida’ que estava a ser seguida, continuaríamos no percurso com uma taxa de desemprego acima dos 12%, continuaríamos a divergir da União Europeia e não estávamos a reduzir sustentadamente o défice”, argumenta, num recado para a direita e evocando o período da troika.

Para a esquerda, o líder socialista também deixa indirectas: “Se estivéssemos a entrar na lógica de renegociar a dívida, de não olhar ao défice, não teríamos recuperado a credibilidade internacional e estaríamos a pagar juros que asfixiariam quer a capacidade de recuperação de rendimentos, quer a capacidade de investimento nos serviços públicos, quer a capacidade de termos agora um programa de 10 mil milhões de investimento público”.

“Foi o PS que conseguiu a garantia de estabilidade entre a recuperação de rendimentos e a redução de défice, entre um crescimento económico forte e a recuperação da credibilidade internacional, entre o desagravamento fiscal e a redução de dívida, uma maioria de esquerda na Assembleia da República, mas uma boa relação com o Presidente da República eleito por uma maioria distinta”, assinala.

Para que esta “posição de equilíbrio” continue a existir, “é necessário um PS forte”, insiste, voltando a dar o exemplo do país vizinho: “Se tivéssemos um PS fraco e o Podemos forte, estaríamos na situação do impasse espanhol”.

Ao colocar o PS como um “factor de equilíbrio essencial”, Costa aponta o aumento do investimento no Serviço Nacional de Saúde em 1.600 milhões de euros ao mesmo tempo que a dívida pública era reduzida em 2.000 milhões.

Comentando o período eleitoral, o secretário-geral do PS verifica a existência de “uma campanha de todos contra um”, a oposição à direita (PSD e CDS), mas também os partidos que formaram a base parlamentar de apoio do Governo no parlamento (BE, PCP e PEV), e que “todos os dias procuram demarcar-se da solução de governo”.

“Pela minha parte, eu assumo por inteiro os resultados desta governação, quer o que tem a ver com reposição de rendimentos, com os reinvestimentos nos serviços públicos, na reposição da credibilidade internacional do país, o défice mais baixo da democracia, redução sustentada da dívida pública, ter devolvido confiança às pessoas e esperança no futuro do país”, sublinha, lembrando que as taxas de juro caíram “de forma acentuada e sustentada” no ciclo de governação socialista.

Apesar do “quadro de incerteza” na vertente económica, que considera não dever ser dramatizado, António Costa defende que se for mantida a estabilidade das políticas, isso incutirá confiança nos investidores para continuarem a apostar em Portugal e a criar emprego mais estável e com melhores salários”.

“Para isso tudo, a confiança é fundamental. Ora, não há confiança onde há instabilidade. Garantir a estabilidade é fundamental para termos confiança e podermos viver com tranquilidade num quadro de incertezas internacionais que temos pela frente”, frisa.

Costa aborda também a possibilidade de o PS voltar a apresentar uma proposta de reforma do sistema eleitoral. Lembra que a reforma do sistema eleitoral é uma proposta antiga, de 1997, que compatibiliza os círculos uninominais com o respeito pela proporcionalidade”, mas ficou fora do programa do actual Governo por exigência dos partidos da esquerda parlamentar.

“Não creio que neste momento haja condições para haver dois terços na Assembleia da República que permitam uma reforma dessa natureza”, assume o líder do executivo.

A “paciência revolucionária” aliada à “paciência reformista"

O primeiro-ministro responde à “paciência revolucionária” que o secretário-geral do PCP disse ter tido consigo e com o PS com a sua própria “paciência reformista”, e admite que essa foi uma das “grandes conjugações desta legislatura”.

“Isso foi uma das grandes conjugações desta legislatura: a “paciência revolucionária” do Jerónimo de Sousa com a “paciência reformista” do António Costa”, brinca, quando confrontado com o desabafo do líder comunista, também em entrevista à Lusa.

Questionado se com a coordenadora do BE, Catarina Martins, também se passou o mesmo, ou seja, se foi também preciso paciência, António Costa, responde: “Temos todos. A política é necessariamente um exercício de paciência, porque tem de ser um esforço contínuo de compromisso para encontrar soluções para problemas que são complexos”.

O secretário-geral do PS lembra que o grau de compromisso alcançado com os partidos da esquerda parlamentar permitiu a Portugal destacar-se de um universo europeu “marcado pela ingovernabilidade”, marcado, por exemplo, por políticas proteccionistas ou xenófobas.

“Conseguimos encontrar nível de compromisso político e de coesão interna bastante assinalável mesmo depois do período dramático de intervenção da “troika"”, afirma.

Depois da entrevista, António Costa mostrou aos jornalistas a nova colecção de arte que será inaugurada em S. Bento na próxima terça-feira. É a terceira exposição desde que Costa está em S. Bento e tem como objectivo promover as colecções portuguesas num palco por onde passam destacadas figuras da cena política internacional.

Desta vez, trata-se de obras vindas do Centro de Arte Oliva de São João da Madeira, de Norlinda e Joselima, com curadoria de Isabel Carlos, que sucede à colecção da arte contemporânea de Elvas.