AfD ficou em segundo em Brandeburgo e Saxónia

Partido de direita radical tinha boas hipóteses de ficar em primeiro, mas projecções dão vitória ao SPD em Brandeburgo e à CDU na Saxónia. Partidos da “grande coligação” descem mas evitam desastre.

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Andreas Kalbitz, o cabeça de lista da AfD em Brandeburgo: reconheceu a derrota, mas avisou que a "AfD veio para ficar CHRISTOPH SOEDER/EPA

O partido de direita radical Alternativa para a Alemanha (AfD) ficou em segundo lugar nas eleições nos estados federados de Brandeburgo e da Saxónia, segundo sondagens à boca das urnas e resultados preliminares da estação pública ARD, quando sondagens previam boas possibilidades de conseguir ser o mais votado.

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O partido de direita radical Alternativa para a Alemanha (AfD) ficou em segundo lugar nas eleições nos estados federados de Brandeburgo e da Saxónia, segundo sondagens à boca das urnas e resultados preliminares da estação pública ARD, quando sondagens previam boas possibilidades de conseguir ser o mais votado.

Em Brandeburgo, onde a corrida estava mais próxima, o Partido Social Democrata (SPD, centro-esquerda) ficou o primeiro lugar e na Saxónia a União Democrata-Cristã (CDU, centro-direita) manteve-se o partido mais votado. 

Temia-se que a AfD, um partido nacionalista e populista, obtivesse pela primeira vez um primeiro lugar numa votação num estado federado. Os candidatos nestes dois estados pertencem à ala de extrema-direita chefiada por Björn Höcke, da Turíngia, também do Leste, estado que vai a votos no final de Outubro. A ala de Höcke é considerada de extrema-direita e por isso está sob vigilância dos serviços de segurança internos.

Os bons resultados da AfD nos estados federados da antiga RDA reabriram o debate sobre uma divisão da Alemanha quase 30 anos após a queda do muro de Berlim. Nas sondagens temáticas que acompanham sempre as eleições, na Saxónia 66% dos eleitores inquiridos concordavam com a frase “os alemães de Leste são cidadãos de segunda”.

O candidato da AfD no estado federado vizinho de Berlim, Andreas Kalbitz, foi dos primeiros a reagir  aos resultados para sublinhar o ponto que interessa ao partido: “A AfD veio para ficar - não vai ser possível fazer política sem nós”. 

Os restantes partidos recusam-se a considerar fazer uma coligação com a AfD, por isso os bons resultados para a formação de direita radical deixam o partido vencedor com menos hipóteses para formar governos de coligação.

Na noite eleitoral, o SPD e a CDU vieram a várias vozes repetir que não consideram negociar com a AfD. Na Saxónia, a CDU rejeita também conversações com Die Linke. Em ambos os estados as coligações existentes (SPD-Die Linke em Brandeburgo, CDU-SPD na Saxónia) deverão mudar ou incluir mais um partido, provavelmente os Verdes.

Segundo as projecções da emissora pública ARD, em Brandeburgo o SPD obteve 26,1%, seguido da AfD com 23,8% e da CDU com apenas 15,7%. Die Linke desce para 10,6% e Verdes sobem até 10,6%, seguido dos Eleitores Livres (um grupo de independentes) com 5%, mesmo na linha da entrada no parlamento do estado. De fora fica o Partido Liberal Democrata (FDP) com 4,4%.

Na Saxónia, segundo a mesma projecção, a CDU venceu com 32,5%, a AfD conseguiu 27,8%, Die Linke 10,5%, Verdes 9% e o SPD apenas 8,4%, e o FDP também fica de fora com 4,6%. 

A votação da AfD é muito semelhante à que teve nas legislativas de 2017 nos dois estados; uma comparação melhor do que com as eleições regionais anteriores, quando a AfD ainda era um pequeno partido anti-euro. Só no final do ano seguinte é que se afastou desta matriz e se focou na oposição à imigração e à política de “portas abertas” de Angela Merkel de 2015, ano em que a Alemanha recebeu 800 mil refugiados.

A tendência de queda dos dois partidos clássicos da democracia alemã, a CDU, de Angela Merkel, e o SPD, que decidirá em Dezembro a sua nova liderança nacional, mostrou-se também nestas eleições. O SPD continua a ser especialmente penalizado pela sua participação nos governos de “grande coligação”, uma espécie de “bloco central”, e poderá ser tentado a sair quando fizer uma reavaliação do trabalho do Governo, que está estipulada no contrato de coligação, o que acontecerá também no final do ano.

A fraqueza do SPD continua a ser considerada o maior risco para o fim da “grande coligação”.

A CDU, pelo seu lado, continua a não conseguir inverter a tendência de queda com a nova liderança de Annegret Kramp-Karrenbauer, que entretanto entrou para o Governo como ministra da Defesa.

Os Verdes, apesar de terem nos estados do Leste o seu maior desafio (nestes estados a preocupação com as alterações climáticas é menor e alguns, como Brandeburgo, têm indústrias de mineração), conseguiram aumentar a sua votação e continuar a posicionar-se como uma força que pode coligar-se não só à esquerda como à direita a nível nacional. 

Os grandes perdedores são Die Linke, tradicionalmente forte no Leste, e o FDP, que parece ter falhado a representação parlamentar nos dois estados.

Na mais recente sondagem a nível nacional do instituto Forsa, a CDU mantém-se o partido mais votado, com 27% (uma quebra impressionante para um partido que, com Merkel, já obteve 41,5% em 2013), seguido dos Verdes, com 23%, SPD com 20% (ainda mais impressionante, o terceiro lugar para o partido que foi dividindo a chefia do Governo alemão com a CDU em todos os anos do pós-guerra), a AfD com 12%, o Partido Liberal Democrata, parceiro típico de coligação da CDU, com 9% e Die Linke com 7%.