António Vitorino elogia resposta do Estado português mas admite “insuficiências” no SEF
Secretário-geral da Organização Internacional das Migrações deixou elogio ao Governo de Passos Coelho, por ter impedido “clima em que os imigrantes fossem as principais vítimas da austeridade”, durante o período de crise económica.
O secretário-geral da Organização Internacional das Migrações (OIM), António Vitorino, admitiu esta sexta-feira que existem “insuficiências” no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e elogiou o anterior Governo PSD/CDS-PP por, no período da troika, não ter estigmatizado os imigrantes.
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O secretário-geral da Organização Internacional das Migrações (OIM), António Vitorino, admitiu esta sexta-feira que existem “insuficiências” no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e elogiou o anterior Governo PSD/CDS-PP por, no período da troika, não ter estigmatizado os imigrantes.
Num jantar/conferência na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, distrito de Portalegre, o antigo ministro socialista foi questionado sobre eventuais falhas e atrasos do Estado na resposta aos imigrantes que chegam a Portugal e, apesar de avisar de que não queria falar da situação nacional, acabou por responder.
“A resposta que o Estado português tem dado à crise dos migrantes é muito positiva, isso é consensual. Obviamente que todos já percebemos que há uma insuficiência muito grande de recursos e de capacidade de resposta do SEF, é público e notório quotidianamente. Mais do que medidas legislativas, o que é essencial é garantir capacidade de resposta do ponto de vista administrativo”, defendeu.
António Vitorino, que também já foi eurodeputado e comissário europeu, saudou que o tema das migrações não seja em Portugal um “factor de combate político” e até quis deixar um elogio ao executivo liderado por Pedro Passos Coelho. “Devem lembrar-se dele, não?”, perguntou, em tom de brincadeira, a uma plateia maioritariamente constituída por jovens sociais-democratas.
“Quando foi a crise de 2011, o meu grande medo era que em Portugal, como em outros países, houvesse a tentação de se gerar um clima em que os imigrantes fossem as principais vítimas da austeridade, que houvesse uma política que os estigmatizasse”, disse. No entanto, realçou, essa atitude de discriminação negativa “nunca se verificou”, considerando que “é uma homenagem que se deve fazer não apenas ao Governo anterior, mas também ao conjunto da sociedade portuguesa”.
“Foi o melhor teste para demonstrar a capacidade que os portugueses têm de bem receber”, defendeu.
Os alunos da Universidade de Verão do PSD ainda tentaram uma provocação a António Vitorino, questionando o antigo ministro do PS se “nunca se arrependeu” de não ter sido candidato à liderança do partido em vez de José Sócrates. “Sabe, eu sou um português mais típico do que pareço, gosto de fado e há um fado da Amália de que gosto particularmente: quem eu amo, nem às paredes confesso”, brincou o antigo comissário europeu.
Na sua intervenção, centrada nas migrações, Vitorino admitiu que a mensagem dos políticos populistas sobre o tema “tem sido eficaz, porque é simples”. “Há alguns políticos populistas e inescrupulosos que se têm especializado em explorar inseguranças e angústias dos cidadãos, fazendo dos imigrantes uma espécie de bode expiatório (...). Há que ter humildade suficiente para reconhecer que o discurso populista tem sido eficaz, porque é simples, faz apelo a sentimentos imediatos”, afirmou.
O antigo ministro da Defesa responsabilizou ainda as redes sociais pela “polarização exacerbada” que tem existido sobre o tema das migrações. “A vida não pode resumir-se a um like ou a um dislike, o dedo faz muitas posições entre o like e o dislike”, afirmou, lamentando que exista cada vez menos “espaço intermédio” entre as duas posições. António Vitorino reconheceu que, enquanto não forem desmontados os argumentos dos que diabolizam os imigrantes como ameaça, a mensagem dos populistas continuará a passar.
“Seria um erro crasso rotular de xenofobia ou racismo reacções que são de protecção ao que consideram ser uma ameaça aos seus postos de trabalho”, alertou, dizendo que a “reacção normal” quando alguém sente a sua casa ameaçada é “fechar a porta”. O secretário-geral da OIM procurou desmontar algumas percepções erradas sobre as migrações, apontando números que desmentem que haja qualquer “invasão africana” ou “muçulmanização” da Europa.
“É um motivo de orgulho que Portugal não faça das migrações um elemento de combate político. Como eu sei que parece que vai haver umas eleições, espero que, mesmo depois, isto continue a ser assim”, desejou. António Vitorino presenteou o director da Universidade de Verão, Carlos Coelho, com um diploma com o título “Senhor Schengen”, “certificado” pelos vários comissários europeus que com ele trabalharam ao longo dos anos nesse dossiêr, entre os quais ele próprio.
Carlos Coelho foi eurodeputado durante 20 anos, não tendo sido eleito no último sufrágio em Maio, quando era sétimo na lista do PSD, que apenas elegeu os seis primeiros nomes.