Cristas e Costa foram à Madeira pedir “força”
PS e CDS marcaram a rentreé política para este sábado na Madeira. Um em cada extremo da ilha, coincidiram nos pedidos de “muita força”. Cristas pediu para o centro-direita, Costa para o PS poder executar o programa de governo.
Quando António Costa subiu ao palco montado junto à baía de Machico, um bastião socialista no extremo Leste da Madeira, já Assunção Cristas tinha terminado a intervenção, e almoçava com apoiantes na Fajã da Ovelha, no outro lado da ilha, onde o CDS lidera a junta de freguesia.
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Quando António Costa subiu ao palco montado junto à baía de Machico, um bastião socialista no extremo Leste da Madeira, já Assunção Cristas tinha terminado a intervenção, e almoçava com apoiantes na Fajã da Ovelha, no outro lado da ilha, onde o CDS lidera a junta de freguesia.
A agenda de ambos os partidos convergiu este sábado para a região autónoma, para onde, com as eleições regionais madeirenses no horizonte (22 de Setembro), marcaram pela primeira vez a rentreé política.
Primeiro o CDS. No parque de merendas da Fajã da Ovelha, onde se alinharam mesas para mil pessoas, Cristas chegou de carrinha, acompanhada por Rui Barreto, o líder regional do partido, e por Nuno Magalhães, para “dar uma força” ao CDS-Madeira e desvalorizar as sondagens que dão a direita em queda livre.
“Temos uma vacina de iniciação no CDS, que é uma vacina contra sondagens”, respondia à chegada aos jornalistas, insistindo, mais tarde, já no palco. “Meus queridos amigos, eu não acredito que seja uma ultra-minoria que pense assim. Acho que para muita gente faz sentido votar no CDS”, disse, pedindo mais “força no centro-direita” para que o país tenha “um Estado social”, e não um “Estado socialista”.
Mas isso é conversa para as legislativas, onde o alvo está bem identificado. Na Madeira, com PSD e PS a caminharem lado a lado nas sondagens para as regionais, o partido não fecha a porta a um acordo de governo tanto à direita como à esquerda. O que pensa Assunção Cristas, sobre estes cenários? Não pensa, nem tem de pensar. “O CDS [Madeira] tem autonomia para escolher o seu caminho. Estou aqui para dar força”, justificou, antes de entrar no recinto.
Disse mais. Muito mais do que Costa, que ignorou os jornalistas que o esperavam em Machico. O secretário-geral socialista chegou ao local da festa – onde o PS dizia querer meter cinco mil pessoas, mas não apareceram nem três mil – no autocarro de campanha, à “americana”.
Nos planos fechados das câmaras de tv do partido e dos fotógrafos de campanha, António Costa e Paulo Cafôfo, o até há bem pouco tempo independente autarca do Funchal que o PS foi buscar para tentar derrotar o PSD, surgem envolvidos num mar de apoiantes e de bandeiras. Mas bastaria abrir um pouco o plano, para se perceber que nesta espécie de Chão da Lagoa socialista, sobressaía uma mise-en-scène, pensada para o consumo das redes sociais e para os minutos de telejornais. Uma praça pequena e estreita. Um palco largo e comprido. Barraquinhas de ambos os lados. A ‘jota’ à frente, entusiasmada, a balançar bandeiras. O efeito multidão multiplicado.
Mesmo assim, mesmo não sendo os milhares anunciados, houve festa. Costa, Cafôfo e Emanuel Câmara, o líder do PS-Madeira que ganhou o partido apresentando o antigo autarca do Funchal como trunfo, percorrem uma a uma as barracas representativas dos concelhos do arquipélago. Demoram-se na do Funchal, onde Cafôfo nasceu politicamente, na do Porto Moniz, terra onde Emanuel Câmara era autarca até ter suspendido o mandato para entrar na campanha, e em Câmara de Lobos, onde Costa é desafiado a fazer poncha. Aceita, claro.
Já no palco, o secretário-geral socialista retribuiu o afecto. “Madeira, amiga, o Costa está convosco”, canta o líder do PS, em resposta ao refrão que a ‘jota’ vai entoando: “Costa, amigo, a Madeira está contigo”.
A resposta do líder socialista não rima, mas também não é para isso que está ali. Está ali para pedir “mais força” [já não tínhamos ouvido isto na Fajã da Ovelha?] para o PS. “Estamos aqui todos juntos, porque é todos juntos que temos um objectivo comum para o país e para a Madeira: dar mais força ao PS para o PS poder fazer ainda mais e ainda melhor em todo o país e agora também na Região Autónoma da Madeira”, diz Costa, vincando que não está a pedir “um cheque em branco”. O partido, na República e na Madeira, tem um programa de governo, o que é preciso é “força” [mais uma vez] para o PS poder executá-los.
Fazendo o balanço da legislatura, sem nunca falar dos parceiros à esquerda, Costa elegeu as “contas certas” como alicerce para uma boa governação. É, considerou, a primeira regra da boa governação: ter contas certas. Foi assim que Portugal tem conseguido convergir com a União Europeia, com um crescimento acima da média dos parceiros europeus que começou em 2017.
“Poucochinho”, tinha desvalorizado Cristas, duas horas antes, no palco da Fajã da Ovelha. “É preciso um crescimento sério, não isto”, defendeu, dizendo que “com certeza que as coisas estão um bocadinho melhor” do que no tempo da “bancarrota” socialista. “Mal seria, se não estivessem”, continuou, antes de definir as prioridades do CDS para o país: redução fiscal (IRC ao nível dos 12,5% da Irlanda e baixa de IRS em 15%), saúde de qualidade sem excluir o sector privado, licenças parentais de um ano extensíveis aos avós, combater a corrupção e a valorização de uma rede de cuidadores informais.
Em Machico, também se projectou o futuro. Costa elencou os grandes desafios para um próximo governo socialista. À cabeça, as alterações climáticas, com o PS a reclamar para si a liderança destas preocupações – “enquanto alguns estão a acordar agora, foi com este governo em 2016 que Portugal foi o primeiro país do mundo a assumir a neutralidade carbónica em 2050”. Depois, modernização da economia e da administração pública, e a criação de políticas de incentivo à natalidade. Costa anunciou um cheque-creche a partir do segundo filho no valor de 60 euros mensais, a ser somado ao abono de família, e um novo modelo de deduções no IRS, que acompanhe o aumento das despesas com o número de filhos.
Prometeu também, trabalhar para erradicar a pobreza e combater as desigualdades. E aqui, disse, as desigualdades passam também por esbater as diferenças territoriais no país. Paulo Cafôfo, que falou antes, para dizer que está na hora de mudar de “políticas e de caras” na Madeira, deixou três “exigências” ao “amigo António”: rever a Lei das Finanças Regionais, uma linha ferry semanal durante todo o ano entre Funchal e Lisboa e a entrada de uma terceira companhia na rota entre a Madeira e o continente. Costa não se comprometeu. “A primeira reunião de trabalho que tivermos juntamente com Vasco Cordeiro [presidente do governo açoriano], será para discutir a Lei das Finanças Regionais”, adiantou, prometendo continuar a trabalhar para criar condições no porto de Lisboa para receber um ferry e para captar uma terceira companhia aérea para a linha Funchal-Lisboa.
“Chantagista”, tinha-se insurgido antes Rui Barreto. “Não admitimos que um primeiro-ministro venha fazer chantagem, dizendo que apenas vai ajudar na ligação ferry se os madeirenses votarem num determinado candidato”, protestou, colocando o CDS-Madeira como “alternativa” às “maiorias arrogantes” do PSD e às “ilusões” do PS.