Financial Times elogia Portugal em tempos conturbados para a “geringonça”
Jornal económico publicou editorial em que se escreve que Portugal dá “alguma esperança” à Europa, apesar do trabalho que ainda precisa de ser feito. Bloco, CDS e PSD reagiram.
O Financial Times descrevia esta segunda-feira Portugal como uma espécie de luz ao fundo do túnel na Europa, que dá sinais de recessão. No editorial do jornal económico, com o título Perspectivas brilhantes para Portugal levam alguma esperança à Europa, podia ler-se sobre as conquistas do “sagaz” António Costa, que foi eleito prometendo acabar com a austeridade, mas que acabou por beneficiar do que foi feito pelo anterior Governo. Sobre a “geringonça”, duas ideias: começou “ténue” mas provou ser “estável e funcional”.
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O Financial Times descrevia esta segunda-feira Portugal como uma espécie de luz ao fundo do túnel na Europa, que dá sinais de recessão. No editorial do jornal económico, com o título Perspectivas brilhantes para Portugal levam alguma esperança à Europa, podia ler-se sobre as conquistas do “sagaz” António Costa, que foi eleito prometendo acabar com a austeridade, mas que acabou por beneficiar do que foi feito pelo anterior Governo. Sobre a “geringonça”, duas ideias: começou “ténue” mas provou ser “estável e funcional”.
Os elogios e avisos do Financial Times, que recorda a Portugal os desafios que ainda tem pela frente - a começar pela elevada dívida, “acima dos 100% do PIB” -, surgem em tempos conturbados para a relação entre o PS e o Bloco. Dois dias antes, em entrevista ao semanário Expresso, António Costa havia mostrado dois pesos e duas medidas em relação aos parceiros de governação.
“Não quero ser injusto, mas são partidos de natureza muito diferente”, disse o primeiro-ministro. Sobre o PCP, acrescentou que “tem uma maturidade institucional muito grande”. Já sobre o Bloco, disse ser “um partido de mass media”.
A irritação tomou conta do Bloco. Catarina Martins reagiu ainda antes de a entrevista ser publicada, dizendo que “os partidos políticos ganham em respeitar-se”. Seguiu-se Marisa Matias, no Twitter. “Nestes quatro anos, enquanto precisou de parceiros para ser Governo, António Costa nunca fez caricaturas de mau gosto. Agora parece que vale tudo para tentar maiorias absolutas”, escreveu a eurodeputada.
Com o passar dos dias, o primeiro-ministro sentiu necessidade de pôr água na fervura. “Recomendo a quem estiver interessado em ler a entrevista, que leia a entrevista toda e não a resposta a uma única pergunta que, aliás, retirada do contexto pode ter um sentido diverso daquele que tem no conjunto da entrevista”.
Costa quis chamar a atenção para a parte em que dizia: “Sem o apoio do PCP e do Bloco, não teríamos tido este Governo; se não tivéssemos tido este Governo, não teríamos uma política económica que deu prioridade à devolução de rendimentos; sem a devolução de rendimentos, não tínhamos reposto a confiança na sociedade portuguesa, que foi a base para o aumento do investimento.”
A recomendação do primeiro-ministro não demoveu Fernando Rosas de escrever um artigo de opinião sobre o assunto. Entre outras considerações, o historiador e fundador do Bloco que se assume confesso apoiante da experiência política que foi a “geringonça”, defende que os seus dois desejos para as próximas eleições são: “não haver uma maioria absoluta de nenhum partido, designadamente do PS” e “constituir as forças à esquerda do PS como garantia eleitoral e política da continuidade, aprofundamento e alargamento de políticas de justiça social”.
Até o editorial do Financial Times serviu para que Catarina Martins enviasse ao primeiro-ministro a mensagem de que o país de que fala o jornal não teria sido possível sem o Bloco. “O que Portugal fez de diferente na Europa nos últimos anos foi ter uma maioria parlamentar que recuperou salários e pensões. Talvez não tanto como país precisa, mas há uma diferença entre corte e reposição, e estes quatro anos foram de reposição. Isso faz diferença. Isso está a ser reconhecido e é importante”, disse.
Longe do país real
Rui Rio também fez questão de comentar o artigo, dizendo que se trata de uma “opinião” de um “jornalista” que “está longe” e não sabe o que se passa no “quotidiano” do país. Para o líder do PSD, o que se vê por cá é bem diferente do cenário traçado pelo jornal financeiro: é uma “completa degradação dos serviços públicos” em que voltámos a ter “défice externo”.
O social-democrata prefere chamar a atenção para as fragilidades do país. Estamos outra vez com o consumo a puxar pela economia” e com um “défice da balança de pagamentos”. “O défice externo, que já tínhamos conseguido eliminar, aumentou outra vez. O endividamento está a aumentar, esse endividamento que determinou a falência” do país em 2011. “Temos de ter muito cuidado, o défice mais grave que temos é o défice externo”, referiu Rui Rio à saída de uma visita que fez à Cercimarco, em Marco de Canaveses. “Se quiserem dizer estas coisas ao homem ou mulher do Financial Times talvez mudem de opinião”, acrescentou.
Para Assunção Cristas, o texto do jornal britânico evidencia distanciamento. “Não acredito que as pessoas que vivem em Portugal sintam que a maior carga fiscal de sempre lhes ajuda na sua vida quotidiana, na progressão da sua vida, na forma como a constroem a sua vida, na sua família. Não creio que lhes ajuda, não creio que estejamos no nosso melhor momento”, disse a líder do CDS no momento em que foi entregar a lista dos candidatos do partido, pelo círculo de Lisboa, às eleições legislativas de 6 de Outubro.