Amor que dá trabalho é para workaholics

A Vanessa decidiu ir procurar o Cavia fora do Tinder, do Facebook. Vai, aliás, fazer um detox digital e tirar a Net do telemóvel.

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E então a Vanessa decidiu voltar a ver o Cavia. Para encontrar o Cavia, podia ter decidido inscrever-se no Tinder  o Cavia obviamente está lá. Mas, por alguma razão que me escapa, a Vanessa resiste ao Tinder. Disse que seria na “rentrée” que se inscreveria no Tinder, mas a a rentrée já está aí a todo o gás  pelo menos a rentrée política  e nicles. É incompreensível que a Vanessa rejeite a plataforma que mais uniões sólidas e cómicos equívocos produziu nos últimos anos. Se o Cavia não estivesse no Tinder, onde estaria?

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E então a Vanessa decidiu voltar a ver o Cavia. Para encontrar o Cavia, podia ter decidido inscrever-se no Tinder  o Cavia obviamente está lá. Mas, por alguma razão que me escapa, a Vanessa resiste ao Tinder. Disse que seria na “rentrée” que se inscreveria no Tinder, mas a a rentrée já está aí a todo o gás  pelo menos a rentrée política  e nicles. É incompreensível que a Vanessa rejeite a plataforma que mais uniões sólidas e cómicos equívocos produziu nos últimos anos. Se o Cavia não estivesse no Tinder, onde estaria?

— Vou procurar. Não me parece difícil encontrar o Cavia fora de um computador.

Isso era dantes, pensei. Se andamos todos em permanência com os olhos vidrados no ecrã do telemóvel, a possibilidade de descobrir o Cavia na rua, num café, num bar, num restaurante, no elevador, torna-se uma impossibilidade. E a Vanessa não era diferente do resto: também passava a vida agarrada à procura de estímulos novos no Facebook, Gmail, Twitter, WhatsApp, Instragram, etc.

 Tomei uma decisão. Vou tirar a Net do telemóvel. Acaba-se esse filme num instante. Um detox digital, sabes? Agora está na moda.

Apesar dos inúmeros textos que já se tinham escrito sobre o assunto, o detox digital não devia ser assim tão popular porque toda a gente continuava com o nariz colado aos telefones. Se me dissessem há 25 anos que eu andaria a fazer estas figuras na meia-idade, ter-me-ia rido “a bandeiras despregadas” (só para escrever agora uma expressão que se usava há 25 anos). Mas sabemos zero do futuro — nem sequer acreditámos nas possibilidades de que o 1984 de Orwell acabasse mesmo por não ser um livro de ficção.

 Então aonde é que vais, fora do Tinder, procurar o Cavia? — perguntei à Vanessa

 Por aí. Com tranquilidade. Agora que tenho pensado no assunto com mais dedicação, acho que andar com o Cavia é a relação perfeita. Dá alguma paz, ‘tás a ver? A dada altura, uma pessoa perde a pachorra para as grandes paixões, ‘tás a ver?

Eu, que tinha ficado mil vezes mais descansada que a Vanessa deixasse a ideia parva de telefonar ao primeiro ex-marido e tivesse optado pelo Cavia, concordei. O Cavia podia ser tranquilizante.

 Sabes que, ao contrário de muita gente, eu nunca tive nada contra o Cavia. Há muitas pessoas que acham que não, que é uma palermice andar com o Cavia, que é preciso elevar os “standards”. Não acho nada disso. Parece-me até que o Cavia, por vezes, é o melhor standard que se pode ter. E não dá trabalho. Aliás, essa cena de que uma boa relação “dá trabalho”, como anda toda a gente a dizer, toda a gente e os livros de auto-ajuda, é uma grande treta. Quem gosta de coisas que dêem trabalho são os workaholics!

Como diriam os britânicos, era um bom ponto.