O fora-de-jogo no clássico e a dupla intervenção do VAR em Portimão
Com a anulação ou validação de golos, por fora-de-jogo, em que a tecnologia ajuda a tomada de decisão por centímetros, a colocação exacta das linhas torna-se fundamental.
No clássico entre Benfica e FC Porto, que teve uma arbitragem globalmente positiva, assertiva e competente por parte de Jorge Sousa e restante equipa, destaco um dos últimos lances do jogo, ocorrido ao minuto 90+5’, com a anulação do golo por fora-de-jogo de Seferovic, aquando da assistência feita por Pizzi. No lance corrido, ficou a ideia de o avançado suíço estar adiantado em relação à linha da bola, no momento do passe, e com a nova tecnologia ao serviço do videoárbitro (VAR), tal veio a confirmar-se: 62 cm de diferença, entre a linha azul colocada em Pizzi e a linha vermelha colocada em Seferovic.
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No clássico entre Benfica e FC Porto, que teve uma arbitragem globalmente positiva, assertiva e competente por parte de Jorge Sousa e restante equipa, destaco um dos últimos lances do jogo, ocorrido ao minuto 90+5’, com a anulação do golo por fora-de-jogo de Seferovic, aquando da assistência feita por Pizzi. No lance corrido, ficou a ideia de o avançado suíço estar adiantado em relação à linha da bola, no momento do passe, e com a nova tecnologia ao serviço do videoárbitro (VAR), tal veio a confirmar-se: 62 cm de diferença, entre a linha azul colocada em Pizzi e a linha vermelha colocada em Seferovic.
A única questão relativamente à colocação das linhas é a seguinte — em relação à vermelha, que foi colocada ao nível do pé e do joelho, nada a dizer, pois são as partes do corpo de Seferovic que estão mais à frente, ou seja, de acordo com a lei, mais próximas da linha de baliza do adversário; quanto à linha azul, esta foi colocada na ponta do pé de Pizzi, ora aqui é que está o erro, pois o que contava na análise do fora-de-jogo, neste caso, era a posição da bola, porque se Seferovic estivesse em linha com a bola ou atrás da linha da bola estaria em jogo. Assim, se a linha fosse colocada de forma correcta (na parte da frente da bola) teríamos na mesma fora-de-jogo, mas não seria de 62 cms, seria menos.
Isto é importante para o futuro, pois com a anulação ou validação de golos, por fora-de-jogo, em que a tecnologia ajuda a tomada de decisão por centímetros, a colocação exacta das linhas torna-se fundamental. Se dúvidas houver em relação a isto, vejam o golo anulado a Cristiano Ronaldo no fim-de-semana, ao serviço da Juventus, por escassos centímetros.
No jogo entre o Portimonense e o Sporting, também há um lance muito interessante para análise, onde o que está em discussão é o protocolo do VAR e a sua interpretação. Foi ao minuto 10: Pedro Sá rasteirou e derrubou Luiz Phellype, o árbitro assinalou de pronto livre directo por infracção ocorrida fora da área, mas o VAR corrigiu, pois o toque foi dentro e Carlos Xistra emendou e assinalou penálti. Contudo, o VAR interveio de novo para dizer que, no início da jogada, houve uma falta atacante por parte de Thierry e isso levou de novo o árbitro a corrigir a sua decisão, transformando um penálti a favor do Sporting num livre directo a favor do Portimonense. A questão de fundo para entendermos a decisão correcta a tomar é a seguinte: se entre a falta cometida por Thierry e a rasteira cometida por Pedro Sá o Portimonense ficou ou não na posse da bola. É que se considerarmos que ficou, o VAR não pode fazer a revisão do lance considerando a falta de Thierry; se entendermos que não ficou, aí sim, podemos ir buscar esse momento e tomar a decisão que acabou por ser tomada.
O que aconteceu foi que, antes de ocorrer o penálti, a bola foi cruzada para a área e Jadson cortou-a, impedindo-a de chegar a Bruno Fernandes. Na sequência deste corte, a bola sobrou para Pedro Sá, que primeiro deu um toque com um pé, depois com o outro, adiantou e jogou a bola para a frente, sendo aí surpreendido pela chegada de Luiz Phellype, que acabou por ser rasteirado.
A atenuante para a decisão do árbitro é que no protocolo se determina que “se a bola se mantiver numa zona de pressão por parte dos adversários, os toques dados por parte dos defesas podem não ser considerados como posse de bola”. Pode ter sido esta a base legal que o VAR e o árbitro usaram. Contudo, o mesmo protocolo diz claramente que “não há posse de bola em situações de defesa, alívios ou ressaltos”, que, na minha opinião, não foi o que aconteceu. O primeiro e o segundo toques na bola são cortes e recepção, mas o terceiro toque dado por Pedro Sá já foi a sair claramente a jogar a bola.
Este protocolo dá ainda ao árbitro poder de decisão em função da sua interpretação do que é ou não posse de bola. A minha opinião em relação a este lance é que a decisão final não foi correcta. Considero que deveria ter sido assinalado pontapé de penálti, que o VAR não poderia ter ido buscar a falta de Thierry, pois a intervenção dos dois jogadores do Portimonense e os três toques que deram na bola estão enquadrados no conceito de “posse de bola”, nomeadamente a opção de Pedro Sá, que jogou a bola para a frente após uma recepção orientada.