Veterinários municipais alertam para números “absurdos” de animais abandonados
Municípios teriam de construir “dois ou três canis todos os anos” para dar resposta às necessidades, alerta médico veterinário.
A Associação Nacional de Médicos Veterinários dos Municípios (Anvetem) alertou, esta segunda-feira, para os números “absurdos” de animais que são recolhidos das ruas em Portugal pelos centros de recolha oficiais, chegando a atingir cerca de 50 mil por ano.
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A Associação Nacional de Médicos Veterinários dos Municípios (Anvetem) alertou, esta segunda-feira, para os números “absurdos” de animais que são recolhidos das ruas em Portugal pelos centros de recolha oficiais, chegando a atingir cerca de 50 mil por ano.
“Expectamos que esses números estão perto dos 50 mil recolhidos em centros de recolha oficiais”, sem contar com as associações, disse à agência Lusa Ricardo Lobo, membro da direcção da Associação Nacional de Médicos Veterinários dos Municípios, segundo o qual, em 2017 e 2018, o número de animais recolhidos pelos centros de recolha oficiais (CRO) rondou os 41 mil e os 36 mil, respectivamente. O número de adopções atinge os 17 mil animais, anualmente. “O número de animais abandonados, e que nos é solicitada a recolha, continua a um nível perfeitamente absurdo, é por isso que os canis não conseguem recolher”, disse Ricardo Lobo à agência Lusa.
No entanto, o médico veterinário explicou que a solução não passa pela “construção infinita” de canis, uma vez que o país não está preparado para suportar os custos. “Além de comportar um custo que o país não está preparado para suportar, não faz qualquer sentido […]”, precisou o veterinário, adiantando que cada município teria de construir “dois ou três canis todos os anos”, para albergar todos os animais abandonados.
Recordando as políticas de esterilização que as autarquias estão a implementar com o fundo da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), Ricardo Lobo considerou que o combate ao aumento de animais errantes parte de uma regulamentação e de educar as pessoas, o que, segundo o mesmo, demorará muito tempo a acontecer. “Isto é um trabalho que não pode ser feito em meses, nem em dois, nem em três anos. Necessita de ser feito com a convergência de muitos esforços, de muitas políticas e de muitas acções de sensibilização, que surtiria algum efeito daqui a bastantes anos: dez, no máximo”, frisou.
Para o responsável, actualmente as pessoas têm animais sem estar preparadas para os ter, não tendo “condições económicas para fazer frente às despesas do veterinário”, o que potencia o abandono dos mesmos. “Temos uma falta de educação geral para aquilo que é a obtenção de animais de companhia”, sublinhou, reiterando a necessidade da criação de leis de fiscalização, punição e sensibilização.
Segundo o médico veterinário, é possível “mudar mentalidades” através de acções de sensibilização nas escolas. “Podemos mudar mentalidades. Podemos mudar a percepção que as crianças têm daquilo que é ter um animal de companhia, para elas não terem de pressionar os pais a adquirirem um animal de companhia sem estes terem as devidas condições”, afirmou.
Apesar de tudo, Ricardo Lobo perspectiva o futuro com alguma “apreensão”, por causa da acumulação de cães nas ruas, podendo transmitir doenças e atacar as pessoas. “Eu vejo com alguma apreensão aquilo que o futuro nos espera relativamente à protecção das pessoas. Além disso, há outros problemas: animais nas ruas são propensos a transmitir doenças”, recordou o responsável, alertando para a vacinação de todos os animais, de forma a estagnar a propensão de doenças como a raiva, existente no “Norte de África e no Magreb”.