Viktor Orbán foi a Fátima para encontro de líderes políticos e religiosos ultraconservadores
Reunião, promovida pelo International Catholic Legislators Network, decorre até domingo e está rodeada de um forte dispositivo de segurança. Órban avisou MNE português da deslocação privada. Não há qualquer encontro com Costa.
O encontro vem anunciado na página oficial da International Catholic Legislators Network (ICLN), um organismo fundado em 2010 para “promover os valores cristãos na política”. Porém, além da informação de que decorre em Fátima desde quinta-feira e termina domingo, pouco mais se consegue saber sobre esta reunião que, segundo adiantou o semanário Sol, reúne vários líderes da extrema-direita. O PÚBLICO confirmou a presença em Fátima do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e, segundo aquele jornal, outro dos convidados é Mick Mulvaney, chefe de gabinete do Presidente norte-americano Donald Trump.
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O encontro vem anunciado na página oficial da International Catholic Legislators Network (ICLN), um organismo fundado em 2010 para “promover os valores cristãos na política”. Porém, além da informação de que decorre em Fátima desde quinta-feira e termina domingo, pouco mais se consegue saber sobre esta reunião que, segundo adiantou o semanário Sol, reúne vários líderes da extrema-direita. O PÚBLICO confirmou a presença em Fátima do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e, segundo aquele jornal, outro dos convidados é Mick Mulvaney, chefe de gabinete do Presidente norte-americano Donald Trump.
Ao que o PÚBLICO apurou, outro dos convidados é o cardeal chinês Joseph Zen Ze-kiun, bispo emérito de Hong Kong e feroz opositor do regime comunista na China. Este tem vindo a criticar publicamente o acordo “histórico" que o Vaticano assinou, em Setembro do ano passado, com o Governo de Pequim, tendo chegado, aliás, a pedir a renúncia do secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, por ter ajudado a estabelecer um acordo que considera ter sido uma traição aos católicos que durante décadas foram perseguidos e detidos naquele país.
A realização deste encontro, preparado em sigilo, obrigou ao destacamento de um forte dispositivo policial que reúne cerca de duas centenas de militares, numa operação custeada pelo Estado, ao qual compete a salvaguarda da segurança dos representantes de países estrangeiros, ainda que a sua presença em Portugal se faça a título particular. O Ministério dos Negócios Estrangeiros confirmou ao PÚBLICO que as autoridades húngaras avisaram o protocolo de Estado português desta visita de carácter particular.
Ao que o PÚBLICO apurou, e apesar de o vídeo promocional daquilo a que chama “peregrinação internacional de políticos e líderes religiosos” exibir imagens do santuário e dos três pastorinhos, o encontro não decorre no santuário de Fátima, mas num hotel a poucos metros de distância. Ainda assim, o cardeal austríaco que fundou o movimento, Christoph Schönborn, actualmente arcebispo de Viena, obteve autorização dos responsáveis do santuário para a celebração de uma eucaristia na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, no dia em que arrancou o encontro, quinta-feira passada, às 19h30.
“Mas o espaço esteve sempre aberto ao público”, garantiu a mesma fonte, confirmando, do mesmo modo, que os convidados do ICLN puderam integrar alguns momentos celebrativos do santuário, sem que este tenha, contudo, servido de palco a qualquer reunião ou momento formativo do encontro, garantiu a mesma fonte, numa clara demarcação da presença destes líderes que, como Orbán, estão conotados com a extrema-direita. No caso do primeiro-ministro húngaro, recorde-se, o partido que lidera, o Fidesz, foi suspenso do Partido Popular Europeu em Março, devido aos múltiplos atropelos cometidos por um governo que, apesar de tudo, foi reeleito no ano passado.
Além de Orbán e Mulvaney, esta rede católica trouxe a Fátima os patriarcas da Igreja ortodoxa e da Igreja católica na Síria, Ignatius Apherem II e Yousef III Younan, respectivamente.
Este não é o primeiro encontro promovido por este organismo e o secretismo, que não admite a presença de jornalistas nem a divulgação do programa ou convidados, é justificado pelo próprio ICLN com a necessidade de os políticos e lideres convidados se sentirem “livres para debater e trocar ideias”.
Este organismo apresenta-se no seu site como sendo uma organização não partidária, destinada a dar formação a políticos cristãos em funções. Apesar de Schönborn ter chegado a ser apontado como uma figura relativamente moderada dentro da Igreja católica, nomeadamente pela sua defesa da não-exclusão dos católicos em uniões com pessoas do mesmo sexo, o movimento que fundou enquadra-se nas facções mais conservadoras da Igreja Católica, apesar de não haver uma política assumida de oposição ao Papa Francisco. Em Agosto do ano passado, Francisco chegou, aliás, a receber os responsáveis do ICLN no Vaticano, tendo aproveitado a ocasião para os alertar para a necessidade de trabalharem no sentido da construção de “uma sociedade mais humana e justa”, lembrando que “o fundamentalismo e a intolerância não podem ser combatidos com mais fundamentalismo e intolerância”.
Órban avisou MNE
Várias autoridades portuguesas estão em silêncio sobre este encontro. As forças de segurança não confirmam, Belém desconhece e São Bento garantiu ao PÚBLICO que não está previsto qualquer encontro de António Costa com o seu homólogo Viktor Órban.
De qualquer forma, todas as visitas de chefes de Estado, mesmo que de carácter privado, ao nosso país são habitualmente comunicadas através dos canais diplomáticos. Questionado pelo PÚBLICO especificamente sobre se o Palácio das Necessidades foi informado de uma deslocação de Órban a Portugal esta semana, a assessoria de imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) respondeu que “o MNE, através do protocolo de Estado, foi avisado que Órban se deslocaria a Portugal em visita privada” e que “o MNE não tem nada a dizer sobre esse encontro, que não se enquadra em matérias da sua competência”. com Helena Pereira