YouTube encerra 210 contas por promoverem desinformação sobre protestos em Hong Kong

Na semana passada, o Twitter e o Facebook também já tinham eliminado várias contas e páginas falsas usadas para espalhar desinformação sobre o clima político naquele território.

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Os protestos contra o Governo chinês começaram há 11 semanas Reuters/KAI PFAFFENBACH

O Google encerrou 210 contas no YouTube por promoverem desinformação sobre os protestos que duram há semanas em Hong Kong.

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O Google encerrou 210 contas no YouTube por promoverem desinformação sobre os protestos que duram há semanas em Hong Kong.

A decisão do Google, que é dono do site de vídeos, chega uma semana depois de o Twitter e o Facebook também detectarem e eliminarem contas falsas e grupos criados para semear a discórdia entre as centenas de manifestantes que ocupam, há semanas, as ruas da região semi-autónoma da China.

“Quando trabalhamos na identificação e prevenção de ameaças, é hábito trocar informação com parceiros na indústria e com as autoridades”, explica Shane Huntley, da equipa de segurança do Google, num comunicado sobre a decisão. “Desactivámos os 210 canais quando verificámos que canais nesta rede tinham um comportamento coordenado para o carregamento de vídeos sobre os protestos em Hong Kong.”

Os protestos no território contra o governo chinês começaram há 11 semanas, devido ao debate da lei da extradição que permitiria enviar qualquer suspeito de crime para julgamento na China. A lei foi suspensa, mas os protestos evoluíram para conflitos diários, com choques violentos entre as autoridades e os manifestantes que se queixam de a China querer interferir com os assuntos da região autónoma. Desde então, a equipa do Twitter já removeu mais de 900 contas da sua rede social “originárias da China continental” por “estarem a tentar debilitar a legitimidade e a posição política do movimento de protesto”. Já o Facebook removeu “sete páginas, três grupos e cinco contas no Facebook”.

Grande parte das contas encerradas no YouTube funcionavam através de uma VPN, uma rede virtual privada que permite aos utilizadores mascarar a sua identidade online ao atribuir-lhes temporariamente outro endereço de IP (uma série de números que identificam cada máquina ligada a uma rede informática).

Shane Huntley explica que o método é popular “para esconder a origem das contas” e que é “frequente associado a operações de manipulação coordenada”. Também é uma forma de ter acesso a serviços como o YouTube, Twitter e Facebook que estão todos impedidos de funcionar na China. As autoridades chinesas controlam o acesso à Internet com a chamada “grande cibermuralha da China”, que bloqueia a informação que o regime considera imprópria ou uma ameaça à governação.

Até agora, porém, apenas o Twitter e o Facebook apontam o dedo ao Governo chinês. “Com base nas nossas investigações intensivas, temos provas de confiança para sustentar que essa é uma operação coordenada pelo Estado”, lê-se num comunicado do Twitter, que inclui exemplos dos tweets falsos. Uma das técnicas é criar contas no Twitter para agências de notícias fictícias, com base em Hong Kong, que descrevem os protestantes como “pessoas radicais” e “doidas” que não são bem-vindas na cidade. A rede social partilhou a sua descoberta depois de ter sido criticada por permitir publicidade paga pela agência de notícias estatal chinesa, a Xinhua.

Já Nathaniel Gleicher, o actual director do Departamento de Política de Cibersegurança do Facebook, diz que a investigação da rede social detectou “associações com o governo chinês”.

Contactado pelo PÚBLICO sobre a origem dos donos das contas falsas no YouTube, o Google não acrescentou mais informação e remeteu para o comunicado sobre a eliminação das contas. 

Em 2018 o Google foi severamente criticado na sequência de notícias de que a empresa tinha planos para criar um motor de busca auto-censurado para a China, oito anos depois de decidir deixar o país por não querer acatar as exigências de Pequim. Conhecido por Dragonfly, o motor de busca seria uma aplicação para Android que excluía resultados que não agradassem ao regime de Pequim. Isto incluiria, por exemplo, referências a opositores políticos da China ou temas como direitos humanos. A empresa nunca confirmou planos para um “Google censurado”, mas em Julho de 2019 Karan Bhatia, vice-presidente de assuntos governamentais do Google, disse o projecto para um motor de busca chinês tinha sido “cancelado”.

Esta quinta-feira, a China enviou cartas a mais de 30 meios de comunicação estrangeiros a pedir-lhes que fossem “objectivos” a cobrir os protestos de Hong Kong e que ajudassem “os manifestantes ignorantes da verdade a voltarem ao caminho certo”. A Reuters, a Bloomberg, o Wall Street Journal e a BBC estão entre os entre os órgãos de comunicação que receberam as cartas que eram acompanhadas de um dossier de 41 páginas com provas. Estas resumem-se, no entanto, a a uma série de notícias de meios de comunicação social controlados pelo regime chinês como é o caso do Global Times, e do canal de televisão China Global Television Network.