Greves. O PSD devia agradecer a António Costa
Não especificamente Rui Rio mas o partido PSD que um dia, quando voltar ao Governo (não será certamente depois das eleições de Outubro), ainda vai acabar a invocar o que se passou nestes dias para fixar serviços mínimos que ajudem a sabotar greves. Vai uma aposta?
Linhas paralelas convergiram neste caso. Falo da greve dos motoristas em que a posição de força do Governo com o beneplácito, ao mesmo tempo, dos partidos de esquerda e dos empresários só foi possível graças a uma aliança rara.
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Linhas paralelas convergiram neste caso. Falo da greve dos motoristas em que a posição de força do Governo com o beneplácito, ao mesmo tempo, dos partidos de esquerda e dos empresários só foi possível graças a uma aliança rara.
De um lado, esteve a vontade de António Costa de agradar ao centrão na perspectiva de sair mais bem cotado nas eleições de Outubro - a grande dúvida é se consegue atingir a maioria absoluta.
Do outro, o medo do PCP do crescimento e fortalecimento dos sindicatos independentes, como o dos motoristas de materiais perigosos, que ameaça mudar a ordem sindical, o que é o mesmo que dizer o protagonismo da CGTP. Nos últimos anos, mesmo com a troika em Portugal, esta central conseguiu perder sindicalizados (63.588 para ser exacta, citando os números da própria organização). PCP e CGTP têm razões, pois, para ficarem assustados com a capacidade desestabilizadora de novos sindicatos independentes depois do que aconteceu com a greve cirúrgica dos enfermeiros e a adesão de professores ao sindicato Stop.
Junte-se a isto ainda o “pedronunismo” que é a ala esquerda do PS, sempre sensível e compreensiva face às preocupações dos partidos à sua esquerda.
Só isso explica que as críticas mais incisivas do PCP tenham sido dirigidas aos motoristas e não ao Governo, que do PS não se ouçam vozes discordantes (apenas Torres Couto, ainda se lembrava dele?) e que os empresários aplaudam efusivamente António Costa, como fez o “Mourinho” de Cavaco, Alexandre Relvas, em declarações ao PÚBLICO.
Tem dúvidas? Anote que a federação de sindicatos de transportes filiada na CGTP assinou um acordo com os patrões dois dias depois de a greve dos motoristas começar. E que o Governo desdobrou-se em declarações e tempo de antena, mas foi o primeiro-ministro, António Costa, quem assumiu com toda a clareza e candura que a posição de força (serviços mínimos, em alguns casos, a 100% e militares a conduzir camiões) foi mesmo para ter um “efeito dissuasor”. A esquerda não fica incomodada quando um primeiro-ministro age com o intuito de dificultar a vida aos grevistas? Não, pelos vistos, não. Mais: quase parece haver sectores, como o dos combustíveis, em que não se pode fazer greve. É isso? Pensava que a lei era apenas taxativa no caso dos militares.
No meio disto tudo, o PSD devia agradecer a António Costa. Sim, devia. Não especificamente Rui Rio, mas o partido PSD que, um dia, quando voltar ao Governo (não será certamente depois das eleições de Outubro), ainda vai acabar a invocar o que se passou nestes dias para fixar serviços mínimos que ajudem a sabotar greves. Vai uma aposta?
Para já, Rui Rio, distante dos patrões (onde está a SEDES?), veio ontem questionar “qual a lógica de se marcar serviços mínimos a horas extraordinárias” na nova greve de motoristas de Setembro. PCP e BE ainda não se ouviram.
2. O mapa eleitoral foi actualizado. Nas próximas legislativas, o círculo eleitoral de Lisboa elegerá mais um deputado (passam a ser 48) bem como o do Porto (passam a ser 40), “roubando” assim lugares a Guarda e a Viseu. É o efeito da desertificação do interior, que leva a que cerca de 40% do hemiciclo seja escolhido pelos eleitores de Lisboa e Porto. Mas isso significa também que será mais fácil aos pequenos partidos elegerem um deputado (nestes distritos), pois precisarão de menos votos. O bolo ficará dividido em mais fatias mais pequenas, facilitando estreias no Parlamento. Esperemos que fique imune ao populismo de Marinho Pinto e ao seu candidato-surpresa-que-não-é-assim-tanto, Pardal Henriques.