O céu nunca fica negro quando a Amazónia arde
Nos últimos sete dias a Reuters fez repetidamente 30 quilómetros ao longo da auto-estrada Transamazónica, a ver o fogo a comer a floresta.
Não há luzes à vista, mas o céu da noite exibe um tom amarelado porque a Amazónia está a arder. O ar cheira a queimado, da madeira a arder. Durante o dia, o sol, geralmente tão ardente nesta parte do mundo, é obscurecido por uma cortina densa de fumo cinzento.
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Não há luzes à vista, mas o céu da noite exibe um tom amarelado porque a Amazónia está a arder. O ar cheira a queimado, da madeira a arder. Durante o dia, o sol, geralmente tão ardente nesta parte do mundo, é obscurecido por uma cortina densa de fumo cinzento.
Nos últimos sete dias a Reuters fez repetidamente os 30 quilómetros que separam Humaitá de Lábrea, ao longo da auto-estrada Transamazónica, vendo o fogo a comer a floresta.
No início, na quarta-feira da semana passada, o fogo estava a alguns metros da estrada, as chamas amarelas a envolver as árvores e a iluminar o céu. No fim-de-semana, o fogo tinha-se afastado mas emitia um brilho alaranjado com a altura de um prédio de vários andares. Este incêndio é apenas um dos milhares dos que actualmente dizimam a Amazónia, a maior floresta húmida do mundo e um baluarte contra as alterações climáticas.
O número de fogos subiu este ano 83% em relação ao mesmo período do ano passado no Brasil, segundo a agência brasileira INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O instituto público registou 72.843 fogos, o número mais alto desde que começou a fazer este tipo de registos em 2013. Mais de 9500 foram apanhados por satélites desde a última quinta-feira.
Na quarta-feira, o Presidente brasileiro Jair Bolsonaro enfureceu os ambientalistas ao afirmar, sem qualquer tipo de provas, que eram as organizações não-governamentais que estavam a causar os fogos, por lhes terem cortado o financiamento.
Os fogos e a reacção de Bolsonaro causaram uma onda de indignação global, com a frase #PrayforAmazonas a chegar ao topo dos temas do momento no Twitter.
A Reuters observou as plumas de fumo que saem da floresta, atingindo dezenas de metros, durante uma viagem de uma semana no sul do estado do Amazonas e norte da Rondónia. “Só se consegue ver fumo”, disse Thiago Parintintin, que vive numa reserva indígena perto da auto-estrada Transamazónica, apontando para o horizonte. Um carro de bombeiros tinha acabado de passar. “Não costumava ser assim”, acrescentou Parintintin.
Parintintin, de 22 anos e que trabalha como técnico ambiental, culpa o crescente desenvolvimento do Amazonas por trazer a agricultura e desflorestação, resultando num aumento das temperaturas durante a estação seca. Os ambientalistas dizem ainda que são os agricultores a começar as queimadas para limpar a terra para criar pastagens.
O fogo começa na vegetação rasteira que seca durante o estio. O fumo envolve partes ainda verdes da floresta e as palmeiras, à medida que o fogo progride junto ao solo e as copas das árvores começam a arder. O fumo dos incêndios paira no ar como uma neblina.
Gabriel Albuquerque, um piloto na capital do estado da Rondónia, Porto Velho, diz que nos quatro anos que pilota a sua avioneta nunca viu nada tão mau. “É a primeira vez que vejo isto assim.”
Do céu avistam-se desde pequenos fogos a áreas maiores do que campos de futebol, com o fumo a tornar impossível perceber a verdadeira extensão dos incêndios. Às vezes, o fumo é tão denso que a floresta parece ter desaparecido.