Pistas para começar a pensar no clássico
Em pouco mais de 15 dias, já começou a contagem decrescente para o segundo clássico do futebol português versão 2019-20. De um lado, um Benfica que até à data não sofreu golos, conseguiu algo que nunca tinha alcançado na pré-época (a conquista da International Champions Cup) e que tem dado continuidade ao guião que Bruno Lage começou a escrever, a meio da temporada passada. Do outro, um FC Porto forçosamente em regeneração, à procura das dinâmicas que só surgem com o entrosamento (leia-se, com o tempo) e ainda a assimilar princípios que antes do Verão eram interpretados de olhos fechados por um núcleo de activos que se afastou do Dragão. Tudo somado, uma coisa é certa: nem os “encarnados” são isentos de falhas, nem os “azuis e brancos” estão assim tão distantes do actual momento do rival.
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Em pouco mais de 15 dias, já começou a contagem decrescente para o segundo clássico do futebol português versão 2019-20. De um lado, um Benfica que até à data não sofreu golos, conseguiu algo que nunca tinha alcançado na pré-época (a conquista da International Champions Cup) e que tem dado continuidade ao guião que Bruno Lage começou a escrever, a meio da temporada passada. Do outro, um FC Porto forçosamente em regeneração, à procura das dinâmicas que só surgem com o entrosamento (leia-se, com o tempo) e ainda a assimilar princípios que antes do Verão eram interpretados de olhos fechados por um núcleo de activos que se afastou do Dragão. Tudo somado, uma coisa é certa: nem os “encarnados” são isentos de falhas, nem os “azuis e brancos” estão assim tão distantes do actual momento do rival.
Poderá parecer uma avaliação descabida se olharmos somente para os números. Para as duas derrotas do FC Porto em quatro jogos, uma delas no terreno de um adversário (o Gil Vicente) que saiu do terceiro escalão e cujo fardo da reconstrução é bem mais pesado; ou para as três vitórias confortáveis do Benfica em outros tantos jogos, uma delas sobre o Sporting com números invulgares. Mas, como sempre, os números estão muito longe de dizer tudo.
As estatísticas mais superficiais não explicam, por exemplo, as dificuldades que o Benfica sentiu nas transições defensivas durante a primeira parte do encontro da Supertaça. É verdade que não deixou o Sporting, que se apresentou com uma linha de cinco no sector mais recuado, construir por dentro e lhe condicionou a primeira fase de construção, mas permitiu que o rival pusesse a nu algumas fragilidades no controlo da profundidade.
As estatísticas mais superficiais não explicam também a dificuldade que teve para se libertar do colete-de-forças preparado pelo Paços de Ferreira, rigoroso a fechar espaços e a reduzir a distância entre linhas, num jogo que foi desbloqueado por um golo magistral de Nuno Tavares — num movimento, reconheceu mais tarde Bruno Lage, que foi até contra as indicações dadas pelo treinador.
Na verdade, na minha óptica, o jogo mais conseguido dos “encarnados”, aquele em que os comportamentos que revelaram competência foram mais duradouros, foi o recente triunfo sobre o Belenenses SAD. Com números mais modestos que os anteriores, é certo, mas com uma capacidade maior de impor o seu modelo ao rival e de não o deixar pôr em prática as (ambiciosas) ideias preconizadas por Silas.
De resto, muitos dos predicados da época anterior mantêm-se: o trabalho aturado dos dois avançados sem bola, as constantes movimentações dos alas para zonas interiores, Pizzi mais como terceiro médio do que como extremo, a ligação vertical entre defesa e meio-campo na primeira fase de construção, sobretudo graças à qualidade de passe de Ferro.
E é essa a principal diferença entre os dois rivais nesta altura, o trabalho de casa herdado da temporada anterior. Ao perder Militão e Felipe de uma assentada, o FC Porto tem de recalibrar a forma como defende a profundidade (até levando em linha de conta as características físicas dos centrais); ao perder Brahimi, tem de encontrar um outro agente do caos, um desequilibrador capaz de fazer a diferença no um para um — Luis Díaz tem tudo para ser a solução; ao perder Herrera, tem de reformatar um dos médios para ser o box to box que o técnico pretende, intenso sem bola e influente no último terço.
Por razões alheias a Sérgio Conceição, os “dragões” voltam a ser obrigados a reinventar-se. Com a equipa ainda na “incubadora”, acumularam duas derrotas que provaram que, em organização ofensiva (mais do que em transição), ainda há muito caminho a percorrer, e que defensivamente a relação entre central e lateral (de ambos os lados) não é perfeita. Pela amostra disponível até agora, a matriz desenhada pelo treinador é para manter: reacção impiedosa à perda em zonas adiantadas, ataque à profundidade, supremacia na dimensão física do jogo (as bolas paradas continuam a ser uma referência), laterais projectados.
Falta dar outra dimensão ao jogo interior e nessa missão Uribe poderá vir a ser o homem providencial. Assim como falta saber que tipo de riscos quererá o FC Porto correr no Estádio da Luz. Pistas para o debate: Corona novamente como lateral, mas mais contido no raio de acção, para se precaver face a Rafa? Romário Baró como falso ala e verdadeiro terceiro médio? Do lado oposto do relvado importará saber em que franja de terreno quererá o Benfica pressionar e quão adiantado estará o seu bloco. Já só faltam três dias.