Cabeça de lista do PS de Viseu contra Museu Salazar e a favor de centro interpretativo do Estado Novo
Por desconhecer o projecto, João Azevedo não sabe se tal iniciativa se pode transformar em exaltação e local de peregrinação à figura do ditador.
O cabeça de lista do PS no distrito de Viseu às legislativas de 6 de Outubro, João Azevedo, disse nesta terça-feira ao PÚBLICO estar contra um Museu Salazar mas a favor do centro interpretativo do Estado Novo. Uma iniciativa que o autarca socialista Leonel Gouveia, presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão, pretende edificar na terra onde nasceu e está enterrado o ditador.
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O cabeça de lista do PS no distrito de Viseu às legislativas de 6 de Outubro, João Azevedo, disse nesta terça-feira ao PÚBLICO estar contra um Museu Salazar mas a favor do centro interpretativo do Estado Novo. Uma iniciativa que o autarca socialista Leonel Gouveia, presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão, pretende edificar na terra onde nasceu e está enterrado o ditador.
“Sou radicalmente contra um museu”, disse João Azevedo. “Outra coisa é o centro interpretativo do Estado Novo, com os factos obrigatórios, ao momento, há 40 anos”, enunciou. E explicitou: “O mau daquele período e o que a história diz que foi bom.”
Sobre este último aspecto, o candidato do PS refere-se concretamente à instabilidade e crise que acompanhou o fim da I República. O mau engloba a guerra colonial, as prisões políticas, a censura e o atraso a que o país foi votado pelo regime salazarista.
“Não conheço o projecto, a informação que tenho do presidente da Câmara de Santa Comba Dão é que se trata de um centro interpretativo do Estado Novo”, admitiu o dirigente socialista, que foi o director de campanha do PS pelas eleições europeias de Maio último.
Por seu lado, o presidente da Federação do PS de Viseu, o ainda deputado António Borges, que não integra a candidatura do PS daquele distrito, não quis abordar a questão. “Preferia não fazer qualquer comentário nesta altura, não conheço a ideia e o projecto”, disse ao PÚBLICO.
Também por desconhecer o projecto, João Azevedo não se pronuncia como se pode edificar um centro interpretativo do Estado Novo na terra onde nasceu e está enterrado o primeiro presidente do conselho da ditadura, sem que tal se transforme numa exaltação e local de peregrinação da figura do ditador. Aliás, em 2018, o cemitério de Santa Comba Dão foi palco de uma homenagem a Salazar da Nova Ordem Social.
A autarquia, que ainda não revelou os responsáveis da direcção científica do projecto, investiu cerca de 120 mil euros na aquisição da casa onde nasceu, da residência na qual viveu, na requalificação da Escola Cantina Salazar e na aquisição da adega e quinta que foram de Oliveira Salazar.
No centro interpretativo serão instalados conteúdos multimédia e interactivos. Os objectos pessoais terão exposição nos imóveis que pertenceram ao presidente do conselho e objectivo do município é integrar este centro numa rota de figuras históricas.
Em 2016, num inquérito, a maioria das vítimas do Estado Novo era contra este projecto. Nesta terça-feira, quase dez mil pessoas tinham assinado uma petição pública a solicitar a intervenção do Governo. O texto Museu de Salazar, não!, apoia uma carta aberta dirigida ao primeiro-ministro, António Costa, em 12 de Agosto, na qual 204 antigos presos políticos manifestavam o seu “mais veemente repúdio” pela iniciativa.
Entre os que subscreveram aquele protesto está o historiador Fernando Rosas que, em declarações ao Expresso, revelou ter rejeitado colaborar com o projecto do autarca Leonel Gouveia que considera como um mero “chamariz de turismo político, mesmo que seja feito com as melhores intenções”. Também ao semanário, a historiadora Irene Flunser Pimentel, embora não se oponha à iniciativa, destaca dois aspectos: a importância da equipa científica e a intenção que preside à sua criação.