Adensa-se o mistério sobre “Lago dos Esqueletos” nos Himalaias
Análise de ADN de esqueletos humanos antigos, encontrados num lago na Índia, revelou a presença surpreendente de migrantes mediterrânicos nos Himalaias há centenas de anos.
Esqueletos humanos encontrados no lago Roopkund, na Índia, pertenceram a pessoas de origens várias, algumas do Mediterrâneo, que morreram em episódios separados por mais de mil anos, indica um estudo às famosas ossadas publicado esta terça-feira.
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Esqueletos humanos encontrados no lago Roopkund, na Índia, pertenceram a pessoas de origens várias, algumas do Mediterrâneo, que morreram em episódios separados por mais de mil anos, indica um estudo às famosas ossadas publicado esta terça-feira.
O lago Roopkund é famoso por terem sido descobertos nas suas margens centenas de esqueletos, que estudos vieram indicar que eram muito mais antigos do que inicialmente se supunha.
Agora, segundo um estudo publicado na revista Nature Communications, conclui-se que os esqueletos pertenciam a grupos geneticamente distintos que morreram em vários momentos e em pelo menos dois episódios separados por mais de mil anos. O estudo envolveu uma equipa internacional de 28 investigadores, de instituições da Europa, mas também dos Estados Unidos e da Índia.
Situado a mais de 5000 metros de altitude nas montanhas dos Himalaias, o lago sempre intrigou os cientistas, que não entendem a presença de centenas de restos de esqueletos nas margens. Por isso também conhecido como “Lago dos Esqueletos”.
“O lago Roopkund é há muito tempo alvo de especulações sobre quem eram esses indivíduos, o que os levou ao lago e como é que morreram”, disse um dos autores do artigo, Niraj Rai, do Instituto Birbal Sahri de Paleociências, em Lucknow, na índia, que há muito trabalha nos esqueletos de Roopkund.
Análises de ADN vieram agora revelar uma história ainda mais complexa, mostrando que os esqueletos derivam de pelo menos três grupos genéticos distintos, depois de feita a sequenciação genética completa de 38 indivíduos.
O primeiro grupo é composto por 23 indivíduos com ancestrais relacionados com as pessoas da actual Índia, que não parecem pertencer a uma única população. O segundo maior grupo é formado por 14 indivíduos com ascendência mais relacionada a pessoas que hoje vivem no Mediterrâneo oriental, especialmente na actual Grécia. E o terceiro indivíduo tem uma ancestralidade mais típica da que é encontrada no Sudeste asiático, explica-se num comunicado do Instituto Max Planck (Alemanha), envolvido no estudo.
A presença de indivíduos com ancestrais no Mediterrâneo, sugerem os especialistas, indica que o Lago Roopkund não tinha apenas um interesse local, mas antes atraía visitantes de várias partes do mundo.
A datação por radiocarbono permitiu ainda perceber que, de facto, os esqueletos não são da mesma altura, como se supunha inicialmente, e que o primeiro grupo genético provém de um período entre os séculos VII e X e os outros dois de um período posterior, entre os séculos XVII e XX.
A análise da dieta alimentar também confirmou as diversas origens, disseram os responsáveis. “Ainda não é claro o que trouxe estes indivíduos para o Lago Roopkund ou como eles morreram”, sublinhou Niraj Rai, citado no comunicado.
“Através do uso de análises biomoleculares, como ADN antigo, reconstrução dietética por isótopos estáveis e datação por radiocarbono descobrimos que a história do Lago Roopkund é mais complexa do que imaginávamos. Levanta-se a questão impressionante de como migrantes do Mediterrâneo oriental, que têm um perfil de ancestralidade que é hoje extremamente atípico na região, morreram neste local há apenas algumas centenas de anos”, sublinhou outro dos autores do estudo, David Reich, da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.