EUA voltam a adiar sanções à Huawei

Algumas transacções entre empresas americanas e a multinacional chinesa continuarão a poder ser feitas até meados de Novembro.

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A marca chinesa é a segunda maior fabricante de smartphones Reuters/JORGE SILVA

As sanções que impedem a Huawei de fazer negócios com empresas americanas estavam agendadas para entrar em vigor nesta segunda-feira, depois de terem sido adiadas em Maio por 90 dias. Mas a Administração de Donald Trump determinou um novo adiamento, por outros 90 dias, argumentando que algumas empresas de telecomunicações americanas precisam de tempo extra para poderem funcionar sem a multinacional chinesa.

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As sanções que impedem a Huawei de fazer negócios com empresas americanas estavam agendadas para entrar em vigor nesta segunda-feira, depois de terem sido adiadas em Maio por 90 dias. Mas a Administração de Donald Trump determinou um novo adiamento, por outros 90 dias, argumentando que algumas empresas de telecomunicações americanas precisam de tempo extra para poderem funcionar sem a multinacional chinesa.

“São mais 90 dias para as empresas de telecomunicações dos EUA. Algumas das empresas rurais estão dependentes da Huawei. Por isso, estamos a dar-lhes um pouco mais de tempo para resolverem as suas dependências”, afirmou o secretário de Estado do Comércio, Wilbur Ross, confirmando assim notícias que tinham sido avançadas na sexta-feira. “Não estão a ser dadas licenças específicas para nada”, acrescentou Ross, referindo-se a autorizações que algumas empresas americanas têm pedido para poderem continuar a vender produtos e serviços à Huawei.

O adiamento das sanções, porém, é acompanhado por uma extensão da lista de subsidiárias abrangidas, uma manobra que visa limitar a capacidade da Huawei para contornar as restrições. Foram acrescentadas à lista 46 novas entidades associadas à fabricante chinesa, elevando para 115 as entidades afectadas.

A Huawei é a marca que mais tem crescido em termos do número de telemóveis vendidos, tendo no ano passado tirado o segundo lugar à Apple e estando agora apenas atrás da sul-coreana Samsung. Mas as restrições impostas poderão acabar por trazer danos sérios ao negócio da Huawei, que está dependente de várias empresas americanas para fabricar os seus equipamentos e torná-los competitivos: desde processadores de empresas como a Intel e a Qualcomm, até ao sistema operativo Android, que é desenvolvido pela Google, passando por aplicações que muitos consumidores consideram essenciais como o Instagram, o Facebook e o WhatsApp.

Contudo, e no que é mais um exemplo de como as economias chinesa e americana estão interligadas, não é só a Huawei a ressentir-se com a perspectiva de sanções. Muitas empresas americanas têm mostrado desagrado com a decisão da Administração Trump. Por um lado, há operadores de telecomunicações que têm equipamentos da Huawei nas suas infra-estruturas. Por outro, empresas como as fabricantes de processadores receiam perdas de facturação. E o próprio Google, cujo Android se tornou o sistema operativo mais usado em todo o mundo, corre o risco de ver um parceiro de negócios transformar-se num rival.

Na semana passada, para apaziguar empresas americanas e consumidores, a Casa Branca anunciou um adiamento de novas taxas alfandegárias sobre produtos exportados pela China – estavam previstas para 1 de Setembro, mas entrarão em vigor apenas a 15 de Dezembro, quando boa parte das compras do período festivo já estarão feitas. Entre os produtos que beneficiam do adiamento estão monitores de computador, telemóveis, consolas de jogos, brinquedos, vestuário e calçado.

As sanções à Huawei foram anunciadas em Maio, após meses em que os EUA afirmaram terem preocupações relacionadas com segurança e espionagem por parte da empresa. Mas foram também vistas como uma cartada de Donald Trump na disputa comercial com a China. Dando fôlego a essa teoria, o próprio Presidente americano chegou a admitir, durante uma conferência de imprensa, que a Huawei poderia ser incluída num acordo comercial com a China.

Naquela altura, no entanto, os EUA colocaram a Huawei no âmbito de uma licença geral temporária, que permite que algumas transacções com empresas americanas, incluindo para a manutenção dos equipamentos de rede existentes e a actualização dos dispositivos da marca, nomeadamente para actualizações de segurança. Além disso, empresas que quisessem fazer negócios com a Huawei fora das áreas abrangidas pela licença geral podiam candidatar-se a uma licença específica, onde teriam que demonstrar que a transacção não estava relacionada com actividades que pudessem representar riscos de segurança.

A multinacional tem estado a preparar-se para uma realidade pós-sanções. Este mês, apresentou o HarmonyOS, um sistema operativo destinado à nova vaga de aparelhos conectados (como colunas inteligentes ou sistemas para automóveis), mas que a fabricante disse que poderia vir a ser usado nos telemóveis, caso visse restrito o acesso ao Android (este sistema é aberto e a Huawei continuará a ter acesso à versão que está disponível para qualquer pessoa ou empresa).