“O stress era enorme”: George R.R. Martin aliviado com o fim de A Guerra dos Tronos na TV
O autor do blockbuster literário garante que o desfecho da série televisiva não vai afectar o final dos livros. O último episódio retirou pressão da escrita do penúltimo, ainda em curso: “Sentia-me terrivelmente.”
“Não muda absolutamente nada”, garante George R.R. Martin, questionado sobre a forma como o final da série televisiva A Guerra dos Tronos pode afectar o desfecho que planeia para a sua saga As Crónicas de Gelo e Fogo. Até Abril, venderam-se 90 milhões de exemplares dos romances que serviram de base à milionária série televisiva e o mercado editorial aguarda o sexto e penúltimo volume em que o escritor está a trabalhar. Agora, parece ter menos um obstáculo na sua tarefa: a série já acabou e a pressão diminuiu. “O stress era enorme”, disse este fim-de-semana ao Observer.
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“Não muda absolutamente nada”, garante George R.R. Martin, questionado sobre a forma como o final da série televisiva A Guerra dos Tronos pode afectar o desfecho que planeia para a sua saga As Crónicas de Gelo e Fogo. Até Abril, venderam-se 90 milhões de exemplares dos romances que serviram de base à milionária série televisiva e o mercado editorial aguarda o sexto e penúltimo volume em que o escritor está a trabalhar. Agora, parece ter menos um obstáculo na sua tarefa: a série já acabou e a pressão diminuiu. “O stress era enorme”, disse este fim-de-semana ao Observer.
Numa entrevista àquele semanário britânico, Martin admitiu que o período em que a série da HBO ultrapassou a sua história foi difícil. “Houve uns anos em que, se eu tivesse conseguido acabar o livro, poderia ter continuado à frente da série por mais um par de anos, e o stress era enorme. Acho que não foi muito bom para mim, porque aquilo que poderia ter-me acelerado acabou por me tornar mais lento. Todos os dias me sentava para escrever e mesmo se tivesse um dia bom – e um dia bom para mim são três ou quatro páginas — sentia-me terrivelmente mal porque pensava: ‘Meu Deus, tenho de acabar o livro. Só escrevi quatro páginas quando devia ter escrito 40.’ Mas o fim da série é libertador porque agora estou ao meu próprio ritmo”, confessou o escritor.
A entrevista vem acrescentar mais detalhes ao retrato de um autor que começou a trabalhar num nicho, a fantasia, e se viu catapultado para a fama planetária quando a sua obra de relativo sucesso literário gerou uma série que se tornou um fenómeno televisivo global. Numa década, o seu moroso método de trabalho viu-se atropelado pelas possibilidades de viajar pelo mundo e conhecer fãs, de dar conferências, de assinar novos pactos para a adaptação de outros textos ou para a criação de mais séries. Nos últimos anos, a pressão dos leitores, do mercado editorial que acabava de descobrir um filão e do próprio dilema autoral – A Guerra dos Tronos tornou-se num caso especial para a narratologia quando acumulou autores entre o suporte literário e o televisivo – transformou-se na apaixonante narrativa paralela à saga dos reinos de Westeros.
Agora que reparte o seu tempo entre compromissos como o que o levou ao Reino Unido para uma palestra sobre o mais recente livro Fogo e Sangue (indirectamente relacionado com As Crónicas de Gelo e Fogo) e a escrita de The Winds of Winter, Martin diz: “Tenho dias bons e dias maus e o stress é muito menor, mas ainda lá está…”
Nos dias após o muito discutido final de A Guerra dos Tronos, a opinião do autor original era muito aguardada. Quando se pronunciou, foi vago sobre a forma como o desenlace literário que se aguarda poderá vir a ter elementos em comum com a série. “Como acabará? Ouço as pessoas a perguntarem. O mesmo final que a série? Diferente? Bom… sim. E não. E sim. E não.” Sobre o impacto da série no final dos livros, Martin foi peremptório, garantindo que “não, não” afecta o seu plano. “Não muda absolutamente nada”, insistiu, reconhecendo que muitos identificarão os rostos televisivos com os que desenha nos livros. “Mas eu tenho-os fixados na minha mente [há quase 30 anos]”, recorda.
Outra pressão que deixou de sentir foi a dos fãs que procurava nos fóruns on-line. Dizendo admirá-los por não terem revelado alguns dos revezes mais chocantes da história quando a série chegou ao mainstream – mas considerando extraordinário o facto de esses mesmos leitores terem filmado as reacções de choque dos espectadores, num fenómeno viral via YouTube que considera inédito na história da televisão —, Martin frisa que não quis ser influenciado pelos leitores mais atentos.
“No início fiquei muito lisonjeado e ia aos fóruns e pensava ‘isto é fixe, eles estão todos tão entusiasmados’. Mas depois comecei a pensar: ‘Não, devia manter-me à distância. Não gosto que algumas pessoas tenham deslindado coisas que estão certas, e não gosto que outras pessoas tenham adivinhado coisas que estão erradas mas que também me podem influenciar’. Por isso afastei-me e deixei os fãs terem as suas teorias, algumas das quais estão certas e algumas das quais estão erradas. Eles descobrirão quando eu acabar.”
George R.R. Martin ainda não fixou publicamente qualquer prazo para a publicação de The Winds of Winter, admitindo que quer ainda terminar as novelas sobre Dunk e Egg e continuar a trabalhar em várias séries televisivas, entre as quais a prequela de A Guerra dos Tronos actualmente em rodagem. “Westeros tornou-se muito grande e sei que isso frustra alguns dos meus fãs, que prefeririam que eu me cingisse ao que eles vêem como a história principal, os sete livros d’As Crónicas de Gelo e Fogo. Mas quase desde o primeiro [livro] que vi outras possibilidades, outras histórias que estão lá enterradas...”