A Vanessa arranjou um coisa-que-o-valha do PS

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E agora parecia que a greve dos motoristas de matérias perigosas ia acabar.

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E agora parecia que a greve dos motoristas de matérias perigosas ia acabar.

— Vai ou não vai? Vai, não é?

A Vanessa ligou-me de Viana do Castelo antes de entrar no desfile das mordomas das Festas d’Agonia.

Respondi:

— Tu deves saber melhor. Não tinhas um namorado ou coisa-que-o-valha que era motorista de matérias perigosas? Liga-lhe!

— Era mais coisa-que-o-valha. Mas repara: longe de mim pôr em causa a validade de coisas-que-o-valham. Há coisas-que-o-valham muitíssimo válidas. Eu totalmente pró.

— És pró em quê?

— Em coisas-que-o-valham.

— Ah, sim, ok.

Sim, a greve iria acabar. Eventualmente antes de estas páginas do PÚBLICO fecharem, eventualmente depois. Este caderno, o chamado “primeiro caderno”, fecha antes do outro, aquele onde saem as notícias de última hora. É muito provável, leitor, que o que leia aqui já esteja desactualizado relativamente ao que pode ler na primeira página e nas seguintes. Enfim, pormenores de uma indústria.

A Vanessa insistiu, lá sentadinha na esplanada da Praia Norte (foi o que me disse).

— Então não sabes nada?

Eu na verdade não sabia. Pedi à Vanessa para ligar ao coisa-que-o-valha que trabalhava como motorista de matérias perigosas.

— Acho que não lhe vou ligar, respondeu-me ela.

— Porquê?

— Agora não sei bem o que lhe dizer. Na verdade, conheci um coisa-que-o-valha que é um entusiasta militante do PS que me está a fazer mudar de ideias em relação aos motoristas de matérias perigosas. Sabes, é um gajo muito giro e muito articulado. É até candidato a deputado. O puto vai longe.

Que a Vanessa mudasse de ideias de um momento para o outro era uma coisa que não me surpreendia. Mas agora andar com um puto? Isso era uma novidade.

— Ó Vanessa, andas com um puto? (Eu disse-o com um espanto em que não consegui esconder uns laivos de crítica. Este meu lado minhoto/conservador às vezes vem ao de cima, isso irrita-me, mas, lá está, não se pode escapar.)

— Mais ou menos. Também não é assim tão puto, tem quase 40 anos. A idade perfeita. Mas olha que o puto, pelo que estou a ver, está muito bem encarreirado. De carreira, estás a ver? É espertíssimo, vê longe, o gajo. É muito inteligente. Tenho de confessar que estou encantada e disposta a dizer que os motoristas de matérias perigosas são todos uns tipos inacreditáveis. Já viste? Este coisa-que-o-valha do PS conseguiu convencer-me que o Governo até agora fez tudo bem. O país precisa de ordem estás a ver? Ordem, sossego e férias!

— Desculpa, Vanessa, eu também preciso de algum sossego. Diverte-te lá com o coisa-que-o-valha.

— Certo, eu depois conto tudo com todos os pormenores.