Quer passar as férias “desligado”? Prepare-se para uma montanha-russa de emoções
Da ansiedade a sintomas de privação até à possibilidade da satisfação total. Um estudo analisou viajantes que passaram férias em “desintoxicação digital”, uma tendência em crescimento.
Primeiro vêm a ansiedade, a frustração e os sintomas de privação. Depois, começam a instalar-se a aceitação, satisfação e até libertação. É assim a reacção dos viajantes quando vão de férias deixando para trás a tecnologia – que é como quem diz, telemóveis, computadores, tablets e tudo a que eles dão acesso, internet, redes sociais e outras ferramentas de navegação.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Primeiro vêm a ansiedade, a frustração e os sintomas de privação. Depois, começam a instalar-se a aceitação, satisfação e até libertação. É assim a reacção dos viajantes quando vão de férias deixando para trás a tecnologia – que é como quem diz, telemóveis, computadores, tablets e tudo a que eles dão acesso, internet, redes sociais e outras ferramentas de navegação.
Pelo menos, são estas as conclusões de um estudo – “Turning it off: Emotions in Digital-Free Travel” – desenvolvido pelas universidades de East Anglia, de Greenwich e de Tecnologia de Auckland e que foi publicado no Journal of Travel Research. O estudo procurou examinar a “jornada emocional” que viajantes em modo de “desintoxicação digital”, uma tendência, atravessam. Os investigadores, também eles participantes no estudo, analisaram as emoções dos participantes antes de desconectarem, durante a desconexão e depois de novamente se conectarem.
“Num mundo cada vez mais conectado, as pessoas habituaram-se a ter acesso constante a informação e a vários serviços fornecidos por diferentes aplicações. Contudo, muitas pessoas estão a ficar saturadas das ligações através da tecnologia”, sublinha ao jornal o investigador principal Wenjie Cai, da Universidade de Greenwich, e há uma procura crescente por turismo ‘analógico’. “Os participantes relataram que não só se relacionaram mais com outros viajantes e locais, como também passaram mais tempo com os seus companheiros de viagem”, destacou Wenjie Cai. Além disso, nesse contacto, muitos disseram que receberam excelentes conselhos e aprenderam mais sobre os sítios e praias que não estavam em nenhum guia mas que se tornaram pontos altos das viagens.
Foram 24 os participantes neste estudo: de sete países de origem e viajando para 17 países e regiões – a maioria “desligou” durante mais de 24 horas e os dados foram recolhidos através de diários e entrevistas. “As viagens que os nossos viajantes fizeram variaram em termos de duração e tipos de destinos, o que nos ajudou a analisar o impacto de diferentes factores nas emoções”, explica Brad McKenna, da Universidade de East Anglia.
Por exemplo, os participantes sofreram mais ansiedade e frustração em destinos urbanos, devido à necessidade de orientação, acesso instantâneo a informação e recomendações digitais; enquanto aqueles que optaram por destinos naturais e rurais revelaram sintomas de privação digital pelas dificuldades de comunicações e pela incapacidade de “matar o tempo”.
Por outro lado, os viajantes em casal ou grupo revelaram ser mais confiantes a desconectar do que os viajantes solitários: os primeiros relataram menos (ou até zero) sintomas de privação quando em viagem com acompanhantes conectados; os segundos mencionaram sentirem-se vulneráveis sem assistência tecnológica para esbater diferenças culturais, como uma língua desconhecida.
A um nível pessoal, esses sintomas de privação tecnológica mostraram-se mais fortes em viajantes que tinham mais compromissos sociais e profissionais, que foram quem mais manifestou experiências negativas. Entretanto, alguns participantes não conseguiram manter-se desligados nas viagens analógicas: ou porque não se sentiam seguros e pensaram que se perderiam ou porque tinham compromissos que não lhes permitiam estar incontactáveis.
Ao mesmo tempo que analisou as emoções, o estudo também tentou avaliar os ganhos e perdas tecnológicos para os viajantes em modo “analógico”. Por exemplo, o Google Maps fornece direcções e quando este não está disponível, alguns participantes perdem capacidade de se orientarem o que causa ansiedade em alguns.
Este tipo de avaliação, defendem os autores do estudo, pode ser um instrumento valioso para operadores turísticos que ganham novas perspectivas sobre as emoções dos viajantes quando desenvolvem pacotes orientados tanto para os que querem uma pausa na tecnologia como para os que não podem viver sem ela. “Compreender o que desencadeia emoções positivas e negativas nos consumidores pode ajudar a melhorar produtos e estratégias de marketing”, explica Brad McKenna.