Bloquista critica “geringoncismo” a propósito da greve dos motoristas
Partidos reagem à requisição civil decretada pelo Governo e Pedro Soares, deputado e dirigente do Bloco, entende que a esquerda está a ser branda.
A decisão de avançar para requisição civil parcial de motoristas de matérias perigosas e de militares das forças armadas com formação para conduzir camiões com este tipo de materiais foi tomada na segunda-feira ao fim do dia pelo Governo e divide os partidos, gerando mais críticas à esquerda do que à direita. Horas antes, já descontente com a falta de acutilância da esquerda, Pedro Soares, deputado do Bloco, escreveu no Facebook que é essa “postura rendida ao populismo que engorda o PS, não são as lutas pelos direitos de quem trabalha”.
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A decisão de avançar para requisição civil parcial de motoristas de matérias perigosas e de militares das forças armadas com formação para conduzir camiões com este tipo de materiais foi tomada na segunda-feira ao fim do dia pelo Governo e divide os partidos, gerando mais críticas à esquerda do que à direita. Horas antes, já descontente com a falta de acutilância da esquerda, Pedro Soares, deputado do Bloco, escreveu no Facebook que é essa “postura rendida ao populismo que engorda o PS, não são as lutas pelos direitos de quem trabalha”.
O PCP emitiu um comunicado logo na noite da decisão em que considerou que estavam a ser introduzidas “limitações no direito à greve”. Os comunistas defendem que a resposta aos problemas tem de ser “acompanhada de uma negociação colectiva” e reafirmam “a defesa do efectivo exercício do direito à greve”.
Os bloquistas têm assumido sempre que qualquer solução para o conflito tem de passar pelo contrato colectivo e pela negociação, e não pela limitação do direito à greve, mas só esta terça-feira Catarina Martins foi mais clara. “Decretar a requisição civil a pedido das entidades empregadoras é um erro e é uma limitação do direito à greve”, afirmou a coordenadora do Bloco à margem de uma visita ao Centro de Reabilitação Rovisco Pais, no distrito de Coimbra, pedindo responsabilidade aos intervenientes para prevenir a “escalada de provocações". Para o BE, o Governo deve “exigir que todas as partes se sentem em negociações sem pré-condições”.
Já o PS saiu em defesa do Governo ao considerar que o executivo agiu com “proporcionalidade” ao decretar a requisição civil dos motoristas em greve apenas nos sectores e regiões em que se verifica incumprimento de serviços mínimos. Em comunicado enviado à Lusa, o PS assumiu entender a “acção do Governo como a forma apropriada de compatibilizar o exercício do direito à greve como o exercício dos demais direitos dos trabalhadores e da população em geral”.
O PS sublinhou ainda que “continua a defender o direito à greve” e “rejeita qualquer tentativa oportunista de tentar aproveitar esta situação para introduzir alterações legislativas que visem atacar o direito à greve ou que pretendam condicionar indevidamente o exercício desse direito”. No comunicado, o PS assinalou que foi a “falta de cumprimento dos serviços mínimos na greve dos motoristas” que “conduziu à necessidade” de decretar a requisição civil.
A culpa da “geringonça"
A suposta brandura das reacções do BE e do PCP à gestão da greve por parte do executivo levou Pedro Soares a escrever no Facebook: “Ainda há quem, sendo de esquerda, hesite sobre o apoio à luta dos motoristas, venha com falinhas mansas acerca dos serviços mínimos decretados pelo Governo, faça comoventes apelos à calma entre as partes para que o país não saia prejudicado, demonize os sindicatos e as lutas ‘inorgânicas’ e, historicamente ainda mais ridículo, procure algum paralelismo entre esta luta e o que se passou com o patronato dos transportes de mercadorias no Chile, nos anos 70 do século passado”.
Para Pedro Soares, foi o "geringoncismo” que “embotou o raciocínio político de muito boa gente, que já não sabe colocar-se com clareza de um dos lados das lutas”. Esses, descreve o dirigente do BE, perderam “gume no combate político”, deixando-se “submeter ao pânico da contabilidade dos votos.” “É esta postura rendida ao populismo que engorda o PS, não são as lutas pelos direitos de quem trabalha”, acrescenta o também deputado.
Dano desproporcional
Do lado do CDS, o deputado Pedro Mota Soares assumiu o apoio à decisão do Governo. “Para se decretar a requisição civil, é sinal de que os serviços mínimos falharam, que os serviços mínimos não estão a ser cumpridos e, por isso mesmo, acho que o país vai ter que fazer uma reflexão sobre a forma como os serviços mínimos são definidos, mas acima de tudo como garantimos o cumprimento dos serviços mínimos”, disse em declarações à Lusa.
Mota Soares referiu haver um “dano desproporcional a muitos portugueses” para a defesa de interesses particulares que, por muito legítimos que sejam, não podem “parar um país com as consequências que isso tem” e lembrou que, neste caso, “a liberdade de circulação é um direito fundamental”. O ex-ministro do CDS volta a questionar se “já se pode alterar a lei da greve”.
O PSD já se mostrou disponível para alterar a legislação relacionada com a greve, mas sem pressas e sem andar “ao sabor dos acontecimentos”, segundo o comunicado divulgado há quatro dias. O partido de Rui Rio ainda não reagiu à requisição civil. A sua mais recente publicação na rede social Twitter é enigmática: “Ensinam-nos aqui que a greve dos motoristas só pode ser suspensa ou adiada pelos seus sindicatos que é quem a decreta. Que bom aprender com quem tanto sabe. E eu a pensar que os governos é que decretavam as greves. Aprende-se tanto aqui no Twitter. É quase uma Universidade.”
Em Abril, aquando da primeira greve de motoristas de matérias perigosas, Rui Rio disse concordar com a requisição civil. com Lusa