Agit-prop sem vergonha nenhuma
Tudo o que se passou nesta semana intensa, com declarações de serviços máximos, recursos à Procuradoria-Geral da República, conferências de imprensa, visou criar o pânico e o ódio na opinião pública contra o sindicato selvagem.
Quem passou o fim-de-semana a ver notícias assistiu provavelmente à mais acabada operação de agitação e propaganda de um Governo tendo como pano de fundo uma greve de camionistas. A programação milimétrica da operação de agit-prop – com vista à conquista do eleitorado da direita órfã e obtenção de um propulsor para a maioria absoluta – demonstra um tacticismo que pode funcionar em termos eleitorais mas que, de caminho, atira para o lixo bebés e água do banho. A ala esquerda do PS, protagonizada pelo ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, acabou de cometer suicídio e parece que não percebeu. Estas coisas pagam-se caro, com juros, mais tarde ou mais cedo.
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Quem passou o fim-de-semana a ver notícias assistiu provavelmente à mais acabada operação de agitação e propaganda de um Governo tendo como pano de fundo uma greve de camionistas. A programação milimétrica da operação de agit-prop – com vista à conquista do eleitorado da direita órfã e obtenção de um propulsor para a maioria absoluta – demonstra um tacticismo que pode funcionar em termos eleitorais mas que, de caminho, atira para o lixo bebés e água do banho. A ala esquerda do PS, protagonizada pelo ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, acabou de cometer suicídio e parece que não percebeu. Estas coisas pagam-se caro, com juros, mais tarde ou mais cedo.
A demonização do sindicato dos motoristas (aliás, também feita pelo PCP, que os culpa pelo pontapé no direito à greve a que acabámos de assistir) por quem sempre se sentou à mesa dos ricos e poderosos é um traço populista de quem sabe que há classes que se pode humilhar e outras que não. Gente que quando está doente ou se reforma recebe menos de 600 euros por mês é evidente que se pode humilhar. E o povo, confundido com recibos com horas extraordinárias e outras componentes salariais, anda confuso e tende a gostar da autoridade – e todo o populismo nasce aqui, entre o “é por nós” ou “é contra nós”.
Tudo o que se passou nesta semana intensa, com declarações de serviços máximos, recursos à Procuradoria-Geral da República, conferências de imprensa, visou criar o pânico e o ódio na opinião pública contra o sindicato selvagem. Seguiu-se no sábado o Conselho de Ministros em mangas de camisa, a reunião da Protecção Civil, depois a ida de António Costa à Entidade Nacional para o Sector Energético, a conversa telefónica com o general com quem esta segunda-feira se vai reunir, e, como cereja, a declaração ameaçadora de que o não cumprimento da requisição civil é crime: “A violação da requisição civil constitui um crime de desobediência”.
Temos homem, homem da autoridade e da ordem – como dizia Vasco Pulido Valente neste sábado no PÚBLICO. Talvez fosse isto que Costa eleitoralmente precisava depois do slogan das “contas certas”. Mas submeter tudo a estratégias eleitorais, tentando mimetizar Cavaco e Sócrates (antes de terem entrado em desgraça), é poucochinho para aquele que era o grande líder do “PS de esquerda”, versão 2014/2015.
A propósito de Sócrates: Pedro Silva Pereira, o homem menos dotado do país – vivia praticamente ao lado de Sócrates, até ao fim defendeu-o caninamente e nunca percebeu nada –, foi premiado com uma vice-presidência do Parlamento Europeu. Enquanto isto, o povo do PS, que ignorou ou quis ignorar o caso Sócrates, exalta-se com o advogado dos camionistas. Uma tristeza.