O Café Correia, uma “instituição” algarvia, fechou portas

Aberto há mais de meio século em Vila do Bispo, o icónico restaurante de comida caseira e templo de perceves fechou definitivamente. “Achámos que já chegava. É uma vida muito dura.”

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Quando Lilita atende o telefone à Fugas, está no mesmo lugar onde passou os últimos 50 anos: a sala de refeições do Café Correia, em Vila do Bispo, no Algarve, o espaço que o pai abriu e que ela e o marido, José Francisco Baptista, transformaram num dos restaurantes incontornáveis para quem aprecia um bom petisco, feito na hora e servido no tacho.

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Quando Lilita atende o telefone à Fugas, está no mesmo lugar onde passou os últimos 50 anos: a sala de refeições do Café Correia, em Vila do Bispo, no Algarve, o espaço que o pai abriu e que ela e o marido, José Francisco Baptista, transformaram num dos restaurantes incontornáveis para quem aprecia um bom petisco, feito na hora e servido no tacho.

“Estivemos aqui a almoçar com os filhos e é aqui que estou. É aqui que me sinto bem. Agora o patrão vai à horta, que tem lá uma burrinha, e eu entretenho-me aqui.”

Há três anos, o casal decidiu começar a encerrar a casa durante todo o mês de Agosto. “É uma grande pressão, não vale a pena”, confessavam à Fugas em Novembro. Chegados novamente a Agosto, decidiram tornar o fecho definitivo. “Achámos que já chegava. É uma vida muito dura”, conta Maria Elisa, mais conhecida por Lilita.

Aberto em 1957 pelo pai de Lilita – o senhor Correia que dá nome à casa –, era liderado por Lilita e José Francisco desde que se casaram. Ele no fogão, ela nas mesas. As receitas foram quase todas criadas por José ao longo de meio século: o arroz de polvo e as lulas à Correia, o frango em tomate e o coelho, também à Correia, uma receita que José criou para um concurso culinário da cerveja Sagres – e ganhou – em 1972.

Tudo cozinhado na hora, à medida dos pedidos, sem pressas. “Demorou um bocadinho mas está bom? É isso que me interessa”, defendia o cozinheiro em Novembro.

A fama dos cozinhados de José e do jeito particular de Lilita receber estava espelhada nas paredes da sala, em recortes de jornais e revistas, elogios emoldurados de clientes fiéis, fotografias. “Foi uma família que criámos e que tenho muita pena de deixar”, confessa Lilita ao telefone. Mas a decisão está tomada, garante. 

Já temos idade para isso. Foram muitos anos, também temos direito a descansar.” Há anos que o casal deixou de ter funcionários, apenas um dos filhos fazia quase todo o serviço de mesa. Mas não tem como continuar sozinho. Para Lilita, “tudo tem um princípio e um fim”. E agora, meio século depois de tomarem as rédeas do restaurante, decidiram que tinha chegado o fim do Café Correia. ​As portas fecharam de vez a 31 de Julho. José Francisco Baptista, 75 anos, e Lilita, 72, pousaram os tachos. “Antes acabar por bem do que continuarmos, acontecer alguma coisa e ficarmo-nos a perguntar porque não fechámos mais cedo.”