Costa atestou para Outubro
A situação ainda se pode complicar na próxima semana, mas, para já, os socialistas arranjaram mais combustível para singrar numa estrada desimpedida que deverá levar a uma robusta vitória em Outubro.
A questão política que no final da greve dos motoristas de combustíveis subsistirá é se o Governo atentou contra o direito fundamental dos trabalhadores à greve ou se soube prevenir com eficácia os efeitos de uma paralisação que poderá afectar, como poucas, a vida de milhões de portugueses.
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A questão política que no final da greve dos motoristas de combustíveis subsistirá é se o Governo atentou contra o direito fundamental dos trabalhadores à greve ou se soube prevenir com eficácia os efeitos de uma paralisação que poderá afectar, como poucas, a vida de milhões de portugueses.
Não será muito arriscado dizer que, apesar da justificada polémica levantada nos últimos dias sobre a definição dos serviços mínimos, requisições civis preventivas e mesmo possíveis mexidas na lei da greve, prevalecerá a forma como lidou com a greve. Como sintetizou Vasco Pulido Valente: “Admirem-se, depois, se António Costa chegar à maioria absoluta. Já era o homem das ‘boas contas’ e agora é também o homem da ‘ordem’.”
O Governo que foi apanhado na “reserva” na anterior greve preparou-se como em poucas ocasiões para um conflito que ainda não sabemos como vai terminar, mas em que a maré da opinião pública se voltou decisivamente contra os grevistas. As declarações com três semanas de antecedência de ministros, a actuação nas várias frentes legais, a mobilização das forças de segurança, os anúncios ao país, criaram uma envolvência que facilmente levou os portugueses, preocupados com as férias e com os seus trabalhos, a alinhar irmanados numa estratégia de preparação para a crise dos combustíveis. Vive-se uma espécie de “nós contra eles”.
O sindicato ajudou ao clima com um porta-voz que se mostrou tenaz, mas que, entretanto, deixou criar a ideia de que tem ambições para lá da luta sindical e que, ao sair da mesa das negociações muito antes da data da greve, revelou pouca vontade de procurar o consenso até à última oportunidade.
E se Costa precisava de mais ajuda ela veio dos diferentes partidos políticos. À esquerda, o PCP ainda exibiu os seus pergaminhos sindicais, mas sem grande agrado por um sindicato que escapa à sua lógica, enquanto o Bloco tardou em aparecer, para vir contemporizar. A direita primou pela ausência, com o principal partido, o PSD, a achar que o Governo está a agir bem e a aconselhar “recato”, e o CDS a mostrar-se disponível até para alterar a lei da greve.
Ajudado também por um Presidente que, alinhando com o sentimento nacional, até já atestou o depósito, Costa mostra que em ano de eleições não há férias para o Governo e que um bom político não perde uma oportunidade para se aliar ao povo. A situação ainda se pode complicar na próxima semana, mas, para já, os socialistas arranjaram mais combustível para singrar numa estrada desimpedida que deverá levar a uma robusta vitória em Outubro.