Gastar dinheiro com o período? Para Iara, só daqui a dez anos
Tornam todas as estações do ano um pouco mais verdes através das suas escolhas. No Verão, não abandonam a causa: fazer do mundo um lugar mais sustentável. O copo menstrual é a alternativa mais ecológica no que diz respeito à higiene íntima feminina — uma das razões que levaram Iara a dizer “não” aos pensos e tampões.
Novembro de 2028 ainda está lá longe, a muitas folhas do calendário por rasgar. Faltam quase dez anos para a data, mas Iara Lopes já tem, pelo menos, um plano para essa altura: comprar um novo copo menstrual. A validade estende-se por, praticamente, uma década — só falha mesmo se a limpeza não for a mais cuidada. Já queria ter um “há muito tempo”, “bem antes” de Novembro de 2018, mas o preço amedrontou-a. Pode ser “caro” no acto de compra, mas “compensa muito” a médio e longo prazo. Mais do que os pensos e tampões que deixou de usar.
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Novembro de 2028 ainda está lá longe, a muitas folhas do calendário por rasgar. Faltam quase dez anos para a data, mas Iara Lopes já tem, pelo menos, um plano para essa altura: comprar um novo copo menstrual. A validade estende-se por, praticamente, uma década — só falha mesmo se a limpeza não for a mais cuidada. Já queria ter um “há muito tempo”, “bem antes” de Novembro de 2018, mas o preço amedrontou-a. Pode ser “caro” no acto de compra, mas “compensa muito” a médio e longo prazo. Mais do que os pensos e tampões que deixou de usar.
O copo menstrual é, entre todos os produtos de higiene íntima feminina, o mais amigo do ambiente. “Inicialmente, não foi essa a razão que me levou a comprá-lo”, esclarece a vimaranense recém-licenciada de 23 anos. Ainda assim, constata que, hoje, é um dos motivos para justificar a mudança. Estima-se que cada mulher use, ao longo da vida, uma média de 11 mil tampões que vão parar ao lixo. “Esses resíduos são despejados sabe lá Deus onde”, diz. A pesquisa de Iara sobre o impacto desta indústria fê-la ter certeza da sua opção: “Não só me sinto mais confortável, como também mais tranquilizada por saber que não contribuo para esses valores astronómicos.”
Os “ingredientes” também podem dar que pensar — pelo lado ambiental e pela saúde. Como refere a organização internacional Campaign for Safe Cosmetics (“Campanha por cosméticos seguros”, em tradução livre), os fabricantes destes artigos “não são obrigados a dizer o que está nos seus produtos”. Num penso higiénico, para além de tinta ou cola, entra também o polietileno, um dos plásticos que mais têm poluído os oceanos. Segundo a Women’s Environmental Network (Rede Ambiental de Mulheres), tampões e pensos (que são “90% plástico”) geram “mais de 200 mil toneladas de lixo por ano”. A revista francesa 60 Millions, numa análise aos “ingredientes” dos tampões e pensos higiénicos de 11 marcas, “detectou resíduos potencialmente tóxicos em cinco, incluindo nas duas marcas mais vendidas em França, a O.B e a Tampax”, também comercializadas em Portugal. Num dos casos, foram encontrados vestígios de dioxinas, um poluente industrial. Já os copos menstruais, dizem alguns sites que os comercializam, são feitos de silicone (que é reciclável) “medicinal e hipoalergénico”.
Mas será que compensa mesmo? Uma rápida pesquisa e algumas contas podem ajudar a prová-lo. Num primeiro momento, esta é a alternativa mais dispendiosa: normalmente, os preços variam entre os 19 e os 30 euros (mas há alguns que chegam aos 40). O de Iara custou 24 euros; se o copo durar uma década, será o equivalente a gastar 2,40 euros por ano. “O dinheiro que o copo custou não se compara ao que já gastei em pensos”, refere. Se o preço de uma embalagem de pensos higiénicos rondar os 4 euros — e não esquecendo os pensos nocturnos —, a menstruação tirará, num ano, perto de 96 euros à carteira. Por causa disso, e tal como lá fora, também por cá há quem ache que estes produtos deviam chegar gratuitamente a quem precisa, como o Colectivo Feminista de Letras da Universidade do Porto.
Quando usava tampões, Iara sentia-se “propensa a ter infecções urinárias”. Era raro o mês em que se sentisse “mesmo confortável”. “Não sei se tem algo que ver com os químicos, mas, no meu caso, deixei de ter infecções quando passei a usar o copo.” Na sua opinião, existe “algum estigma” relativamente a esta alternativa: “É um copo dentro de uma vagina, não tens de o trocar tantas vezes, tens de o lavar e isso faz confusão a algumas pessoas.” No seu caso, o copo aguenta-se “umas 12 horas sem trocar”. “Já me aconteceu ter de sair de casa à pressa e não ter tempo para trocar para depois ver que estava tudo bem”, aponta.
Para Iara, na limpeza do copo menstrual não há grande ciência: “Deve-se colocá-lo em água fervida antes e depois de o usar, lavando-o. No final, ponho-o num recipiente próprio, porque não convém estar exposto.” E por que motivo há quem se recuse a usá-lo? “Penso que há muitas mulheres com medo de se conhecerem a elas próprias. Acham que é nojento tocar em algo que sai delas, mas é mais uma questão cultural.” Ainda assim, encoraja: “Não deves ter nojo de ti própria. Por mais sujo que o período possa ser, é teu.”