Na Avenida da República, as empenas cegas são agora mostras de arte
Inserido num programa de dinamização urbana, o projecto “Primeira Avenida/Duplo Sentido” dos alunos de mestrado em Arte e Design para o Espaço Público quer levar a arte às empenas cegas da Avenida da República, em Vila Nova de Gaia.
Quem passa ao longo da Avenida da República, em Vila Nova de Gaia, já não vê, nos edifícios que se destacam das moradias vizinhas, monótonas e monocromáticas paredes. Nelas surge agora arte, um projecto levado a cabo pelos alunos de mestrado em Arte e Design para o Espaço Público da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP). As imagens que criaram foram impressas e aplicadas nas empenas da cota superior da cidade, uma iniciativa que surgiu a convite da câmara, em 2017, com o apoio do Programa Norte 2020.
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Quem passa ao longo da Avenida da República, em Vila Nova de Gaia, já não vê, nos edifícios que se destacam das moradias vizinhas, monótonas e monocromáticas paredes. Nelas surge agora arte, um projecto levado a cabo pelos alunos de mestrado em Arte e Design para o Espaço Público da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP). As imagens que criaram foram impressas e aplicadas nas empenas da cota superior da cidade, uma iniciativa que surgiu a convite da câmara, em 2017, com o apoio do Programa Norte 2020.
Estas empenas, seleccionadas pelo município, foram oferecidas aos alunos para que nelas expusessem a sua imaginação e criatividade que teve como mote o contexto urbano da avenida. No fundo, este programa de dinamização urbana nas paredes laterais (construídas sem janelas) de seis edifícios da avenida que pretende envolver as comunidades residentes e os turistas, é um processo de reabilitação que visa destacar os elementos históricos da avenida.
O projecto dos alunos da FBAUP intitula-se “Primeira Avenida/Duplo Sentido” e nele participam estudantes oriundos de diversos países. Tal como explicou ao PÚBLICO Gabriela Pinheiro, directora de curso do mestrado em Arte e Design para o Espaço Público, o grande objectivo é “fazer com que as pessoas se sintam interpeladas”, uma vez que se trata de trazer “alguma poesia e questionamento crítico ao dia-a-dia das pessoas”. Para já, disse, “as reacções são muito boas”.
Apesar de as empenas já estarem preenchidas agora com propostas artísticas dos estudantes, o projecto ainda não está terminado. Serão 18 propostas artísticas a aplicar em três fases nos seis edifícios. As primeiras seis já podem ser encontradas na avenida, sendo substituídas por outras seis em Novembro e novamente por mais seis em Fevereiro (de 2020). Para Gabriela Pinheiro, esta renovação acaba por ter um efeito “refrescante”.
De entre os autores que puseram mãos à obra, o PÚBLICO falou com Aurora dos Campos, aluna de mestrado no Porto, cuja intervenção artística recorre à trompe-l'oeil, uma técnica artística que cria uma ilusão de óptica. A cenógrafa de 35 anos foi fotografando toda a avenida, até lhe ter despertado a atenção “uma escadinha”, situada numa casa ao lado do prédio em que realizou a intervenção. Durante dois meses, a artista pesquisou, pensou nas diversas formas de abordar a avenida, fotografou e fez algumas experiências até chegar ao resultado final que, diz, tenta estimular a imaginação de quem por ela passa: “Como a escada é um elemento simbólico, de ascensão, faz-nos imaginar o que poderá haver lá em cima”.
Estas intervenções, que trazem mais cor à avenida, de acordo com a estudante, “revelam os olhares de vários artistas sobre a cidade”. “Gosto muito do projecto, especialmente da multiplicidade dos resultados”, adiantou.
Para além da fotografia de Aurora dos Campos, outros trabalhos podem ser visualizados na Avenida da República neste momento: o cartaz denominado “Terra Invista”, que remete para a conhecida frase ‘terra à vista’ e que retrata a vegetação nativa em Maquiné, Brasil (da autoria de Amanda Copstein); a empena que, pretendendo ser “um sopro de silêncio a dançar no ar”, segundo se pode ler no comunicado enviado à imprensa, se faz representar através de um risco no céu (de Ana Willerding); o desenho de uma pedra, que quer “criar alguma tensão visual no espaço público” (de Juana Bravo); um trabalho fotográfico que é, na verdade, “um breve instante da passagem do metro arrastado no espaço” (de Tito Senna); e a ilustração de blocos, cujo intuito é “provocar contraste visual e estranhamento no olhar” (de Talitha Filipe).
Deste projecto fazem ainda parte os alunos Alexandre Fuga, Carolina Moura, Claire Sivier, Cristiana Pascoal, Desirée Desmarattes, Fernanda Zotovici, Gisela Faria, Gustavo Romeiro, Izabel Barboni, Mariana Morais, Monika Šeduikytė, Paulo Viel, Rayan Merhy, Titos Pelembe e Tomás Ribas.
Texto editado por Ana Fernandes