Distritos do Sul de Portugal estão “extremamente ameaçados” pela seca
Segundo o relatório do Instituto Mundial de Recursos, Portugal está em 41.º na lista dos países em risco, verificando-se um nível de escassez de água elevado.
Várias regiões portuguesas, principalmente no Sul do país, enfrentam uma escassez de água “extremamente elevada”, de acordo com o relatório do Instituto Mundial de Recursos publicado esta terça-feira. Entre os distritos sinalizados pelo documento estão Setúbal e Portalegre e algumas regiões de Évora, Beja e Faro. Num total de 164 países, Portugal encontra-se na posição 41.
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Várias regiões portuguesas, principalmente no Sul do país, enfrentam uma escassez de água “extremamente elevada”, de acordo com o relatório do Instituto Mundial de Recursos publicado esta terça-feira. Entre os distritos sinalizados pelo documento estão Setúbal e Portalegre e algumas regiões de Évora, Beja e Faro. Num total de 164 países, Portugal encontra-se na posição 41.
O relatório do Instituto Mundial de Recursos categoriza os 164 países analisados, em cinco categorias, de acordo com o risco que cada população tem de vir a enfrentar uma situação de seca ou falta de água, por causa da utilização excessiva das reservas ou da má utilização deste recurso. Assim, é possível observar pelo mapa disponibilizado que acompanha o relatório que existem cinco tipos de países: aqueles que apresentam uma escassez de água “extremamente elevada" (assinalados a vermelho escuro), “elevada" (a vermelho), “média-alta” (laranja), “média-baixa" (amarelo) e “baixa” (bege).
Portugal encaixa-se na segunda categoria mais grave da escala, juntamente com outros países como é o caso da Espanha, Chile, Bélgica ou Itália. Nestes países, são utilizados mais de 40% dos recursos hídricos disponíveis. Este ano, Portugal continental chegou ao final de Março numa situação de seca meteorológica. Mais de metade do território do continente está em seca moderada e 5% em seca severa, anunciou, na altura, o ministro da Agricultura, Capoulas Santos.
Segundo é possível perceber através do mapa interactivo, existem regiões portuguesas que estão a ser mais afectadas pelo problema do que outras. É o caso de vários distritos do Sul como Setúbal, Portalegre, Évora, Beja e Faro que estão assinalados a vermelho escuro e que fazem parte das regiões “extremamente ameaçadas”. Ainda que nem todas as regiões pareçam estar no mesmo nível, a situação muda de figura quando olhamos para a previsão de 2030 ou de 2040. No prazo de dez ou 20 anos, e na “visão optimista” do relatório, todo o país estará no grau de escassez de água elevada uma vez que quase todos os distritos continuam a gastar mais recursos hídricos do que aqueles que estão disponíveis. Neste cenário, a região do Sul do país continua a ser a mais afectada.
“O stress hídrico representa ameaças graves à vida humana, aos meios de subsistência e à estabilidade dos negócios. O problema só tende a piorar, a menos que os países actuem: o crescimento populacional, o desenvolvimento socioeconómico e a urbanização estão a aumentar a procura pela água, enquanto as mudanças climáticas podem fazer com que a precipitação seja mais variável, o que faz variar os recursos hídricos”, lê-se no relatório.
Um quarto da população mundial em risco de ficar sem água
De acordo com o Instituto Mundial de Recursos, em pior situação do que a de Portugal estão os 17 países que ficaram na categoria de seca extremamente elevada. Estes países, que abrigam um quarto da população mundial, enfrentam uma escassez de água “extremamente elevada”. A maior parte destes países está no Médio Oriente ou no Norte de África, como o Qatar, Irão, Índia ou Botswana. Nestes países, a agricultura, indústrias e municípios utilizam mais de 80% das águas superficiais e subterrâneas disponíveis num ano – não permitindo que esta água seja economizada para os períodos de seca. Por exemplo, no ano passado, a Cidade do Cabo, na África do Sul, teve um grave período de escassez de água, registando-se quase o “Dia Zero” – em que as reservas de água são tão baixas que a água municipal é praticamente desligada.
Também em Chennai, na Índia, as reservas hídricas estão praticamente secas, o que faz com que a agricultura e as indústrias dependam cada vez mais das águas subterrâneas, segundo o relatório do Instituto Mundial de Recursos. No Paquistão, a agricultura está a esgotar igualmente o recurso às águas subterrâneas para o cultivo de algodão ou arroz.
A directora do programa global de água do Instituto Mundial de Recursos, Betsy Otto, disse ao New York Times que é “provável” existir mais “Dias Zero” no futuro. Ao mesmo tempo, como os dias se estão a tornar mais quentes – há 26 anos que a temperatura não subia tanto em Nova Deli, tendo os termómetros chegado a registar 48 graus Celsius no dia 10 de Junho –, também a procura de água aumenta.
O relatório refere que existem várias formas de poupar recursos hídricos, mas apresentam algumas das que se mostraram mais eficientes. “Os dados são claros: há tendências inegavelmente preocupantes no que toca aos recursos hídricos. Mas, recorrendo a medidas imediatas e investindo numa melhor gestão, podemos resolver os problemas da água para o bem das pessoas, da economia e do planeta”, lê-se no relatório. Os autores sugerem que as medidas de resolução passem principalmente por aumentar a eficiência agrícola de cada país, investir em infra-estruturas de apoio que possam diminuir o stress hídrico como estações de tratamento de água ou criar zonas húmidas e bacias hidrográficas saudáveis para não só melhorar os problemas de abastecimento como para aumentar a qualidade das águas.