A Era dos Muros
“Pelo menos 65 países – mais de um terço dos Estados-nação do mundo – construíram barreiras ao longo das suas fronteiras. Metade das que foram erguidas desde a Segunda Guerra Mundial surgiram entre o ano 2000 e o presente”, informa Tim Marshall.
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“Pelo menos 65 países – mais de um terço dos Estados-nação do mundo – construíram barreiras ao longo das suas fronteiras. Metade das que foram erguidas desde a Segunda Guerra Mundial surgiram entre o ano 2000 e o presente”, informa Tim Marshall.
Depois de explorar, em Prisioneiros da Geografia (2017), os interesses e os desafios dos Estados à luz da sua posição territorial, o jornalista e analista político britânico regressa à reflexão geopolítica com A Era dos Muros (2019), um trabalho que tem como pano de fundo o conceito de “muro”, enquanto barreira física, mas também psicológica, que divide e afasta pessoas, comunidades e valores desde que há memória escrita. E que tem estado no centro do debate político actual.
Editado em Portugal pela Desassossego, Divided – no título original –, identifica vários muros, antigos ou recentes, e em diferentes partes do globo, e faz uma análise crítica sobre as “ansiedades” políticas e sociais que levantam, dentro das suas comunidades, e na sua relação com o exterior. “As ansiedades que estes muros representam transcendem as suas fronteiras”, escreve o autor.
Os planos de Donald Trump para a fronteira com o México, a “grande firewall” chinesa, as barreiras na Cisjordânia e em Gaza, o ordenamento territorial e identitário do Reino Unido depois da Muralha de Adriano e os desafios trazidos pela edificação e queda do Muro de Berlim na Europa são alguns pontos de partida para Marshall discorrer sobre as dinâmicas geopolíticas locais, nacionais e regionais envolvidas.
Numa análise autocrítica e pragmática – ofuscada, por vezes e lamentavelmente, por uma tradução para língua portuguesa que deixa muito a desejar – o autor tenta colocar-se dos dois lados do problema, para concluir que a construção de barreiras físicas e a “mentalidade de fortaleza” que as alimenta e que moderniza a sua conveniência, não são mais do que resultados do “fracasso do discurso humano”.
O muro é, para Marshall, a solução dos Homens para “fornecer alívio temporário e parcial” às suas disputas mais intensas – solução que, ainda assim, não logra mais do que as arrastar infinitamente pelo tempo.