Iniciativa Pró-Montado Alentejo defende uso da floresta autóctone no combate às alterações climáticas
Na apresentação de movimento cívico, a Quercus considerou necessário declarar-se o estado de emergência climática para o Alentejo.
O movimento cívico Iniciativa Pró-Montado Alentejo defende que se deve dar atenção à floresta autóctone alentejana no contexto de adaptação às alterações climáticas, para combater a desertificação dos solos naquela região.
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O movimento cívico Iniciativa Pró-Montado Alentejo defende que se deve dar atenção à floresta autóctone alentejana no contexto de adaptação às alterações climáticas, para combater a desertificação dos solos naquela região.
“A Iniciativa Pró-Montado Alentejo vem defender, junto das forças políticas, o uso da floresta autóctone no Alentejo para obter a necessária amenização climática”, refere informação disponibilizada esta quarta-feira pelo movimento cívico, durante uma conferência de imprensa na Academia das Ciências, em Lisboa.
A iniciativa, constituída por municípios do interior alentejano, especialistas e associações ambientais, foi lançada em Maio de 2018 para alertar o Governo para a necessidade de “segmentar a política ambiental”. Para o movimento, o foco deve centrar-se na “adaptação climática dos montados de sobro e de azinho no Alentejo, restauro de povoamentos florestais já muito degradados e a expansão da mancha actual de quercíneas [carvalhos, azinheiras e sobreiros] do Alentejo”.
Para a Iniciativa Pró-Montado Alentejo, a floresta alentejana deveria passar dos 835.000 hectares actuais para os 1,5 milhões de hectares, de modo a ocupar zonas de matos e pastagens já descarbonizadas. “Esta expansão visa garantir a melhoria do microclima da região, em termos de humidade e temperatura do ar e do solo, e contribuir para um maior nível de precipitação, sobretudo, se se mantiver um contínuo florestal desde a sua orla marítima e, em especial, nas serras”, refere o documento distribuído à imprensa.
Para esta organização cívica, o melhoramento e a expansão dos 835.000 hectares de montados do Alentejo será muito importante para a neutralidade carbónica nacional a atingir em 2050, bem como para a fixação de água nos solos. “O melhoramento e expansão dos actuais 835.000 hectares de montados do Alentejo, através do aumento associado da matéria orgânica do solo e da fertilidade em geral, do incremento das pastagens melhoradas e com crescimento de árvores novas nas clareiras, não só contribuirá para uma maior captação de infiltração e fixação de água nos solos, como será importante para o compromisso nacional com a neutralidade carbónica a atingir em 2050.”
Declaração de emergência climática
Também na conferência de imprensa da Iniciativa Pró-Montado Alentejo, o presidente da associação ambientalista Quercus, Paulo do Carmo, manifestou a necessidade de ser declarado o estado de emergência climática para o Alentejo, de modo a combater a desertificação naquela zona.
“Acho que era altura de pensarmos seriamente em fazer um desafio às várias autoridades e declarar emergência climática para o Alentejo”, afirmou Paulo do Carmo, adiantando que há países como a Alemanha, Bélgica, Canada e Estados Unidos que já o fizeram.
Para combater as alterações climáticas, o presidente da Quercus defendeu que deve haver um trabalho conjunto com o Estado e as autarquias, reiterando que se deve fazer mais pela floresta. “Não podemos só dizer que estamos num bom caminho, que estamos a apostar na descarbonização da economia... É preciso fazer mais na floresta”, disse. É preciso apostar na reflorestação da zona e olhar de forma diferente para o montado, considerou o dirigente da Quercus.
“Está visível a falta de chuva, mas também de fauna e flora, nomeadamente no montado. Há uma perda de montado”, disse Paulo do Carmo, que enumerou algumas espécies de animais ameaçadas pela desflorestação, como o lince-ibérico e a águia-imperial-ibérica. No montado alentejano, acrescentou, existem 24 espécies de répteis e anfíbios, 53% das existentes em Portugal continental, e 166 espécies de aves e 37 espécies de mamíferos, o que perfaz 60% das existentes em Portugal continental.