No caminho para o abismo
Portugal sempre teve uma imprensa de informação geral fraca. E vai acumulando erros de estratégias editorial e comercial.
Muitas são as razões que explicam que Portugal seja o país da Europa ocidental com a imprensa de informação geral mais pobre. Desde o preço de venda elevado até à distribuição totalmente insatisfatória. Do conteúdo quantitativamente pouco abundante e bem pouco variado. Da cobertura manifestamente insuficiente da atualidade do país e demasiado centrada na grande Lisboa. De uma atualidade internacional escassa e pouco original, baseada sobretudo em raras agências de informação e raros jornais estrangeiros (quase unicamente anglo-estado-unidenses ou espanhóis).
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Muitas são as razões que explicam que Portugal seja o país da Europa ocidental com a imprensa de informação geral mais pobre. Desde o preço de venda elevado até à distribuição totalmente insatisfatória. Do conteúdo quantitativamente pouco abundante e bem pouco variado. Da cobertura manifestamente insuficiente da atualidade do país e demasiado centrada na grande Lisboa. De uma atualidade internacional escassa e pouco original, baseada sobretudo em raras agências de informação e raros jornais estrangeiros (quase unicamente anglo-estado-unidenses ou espanhóis).
É claro que há também razões históricas para explicar o subdesenvolvimento. A imprensa, e nomeadamente a imprensa diária, apareceram mais tarde em Portugal do que em boa parte dos países europeus. Durante o século de afirmação da imprensa de informação (1830-1930), Portugal balançou regularmente entre períodos de repressão, de censura severa e de liberdade por vezes condicionada. Que durante o Estado Novo a imprensa foi largamente vítima de descrédito, sendo a censura altamente repressiva e ridiculamente caricatural. E quando pôde por fim gozar de uma real liberdade, com o 25 de Abril, já tínhamos entrado na era da televisão, sobretudo num país com uma taxa de analfabetismo elevado e um muito baixo nível cultural da população.
Para além deste contexto, nos anos que se seguiram ao 25 de Abril, a “grande” imprensa “nacional” de informação geral foi pura e simplesmente destruída. Por uma “nacionalização”, certo indireta, que a entregou a administradores quase sempre calamitosamente incompetentes. Enquanto os responsáveis pelos conteúdos em boa parte pouco tinham de jornalistas (no sentido forte do termo) e durante anos foram antes do mais pregadores de “posições corretas” das mais variadas e variáveis posições ideológicas. Um coquetel de incompetências explosivo que inevitavelmente iriam destruir as empresas de edição, umas atrás das outras…
Mas, depois do 25 de Abril, houve também, e continua a haver, práticas que em nada têm favorecido a afirmação e a expansão da imprensa de informação geral ou da sua vizinha imprensa de informação económica. Como a que consiste em consignar um espaço fixo com uma certa periodicidade a um autor, dando-lhe inteira liberdade para escolher o tema sobre o qual escreve (quantas vezes com manifesta incompetência), o tipo de escrita adotado (e que pode até variar ao sabor dos humores e das pretensões literárias do momento) e até a ilustração que deverá acompanhar o texto.
Mais: dá-se um inconcebível direito aos “colunistas” de atacar diretamente, nominalmente, outros “colunistas” do mesmo jornal. Um incompreensível direito de, colaborador exterior ou membro da redação, criticar as posições assumidas pelo jornal e até pela direção do jornal. E um muito estranho direito de acusar até o próprio jornal de “censura” em relação a declarações que ele próprio fez noutra condição que não a de “colunista” (ignorando ou preferindo ignorar que “critérios editoriais” e “censura” são duas noções bastante diferentes), não se sentindo porém em nada obrigado a cessar a sua colaboração ou a demitir-se.
Tais práticas tipicamente portuguesas dão ao leitor o sentimento de que, no caso do jornal que comprou, se encontra perante uma “gazeta paroquial” onde os “colunistas” se guerreiam como em pátios de recreio de escola, quando não perante uma jovial contradança sem rei nem roque. Numa proliferação de posições, sob pretexto de “pluralismo”, que mais se assemelha a uma real ausência de coluna vertebral, de princípios fundamentais estruturantes do jornalismo anunciado. Impedindo desde logo aquilo que tanta falta faz aos jornais portugueses: um projeto societal, uma sensibilidade que leve os leitores a identificarem-se ou pelo menos a sentirem-se próximos do “seu” jornal. Condição essencial para que este constitua uma referência e seja o agente propulsor e irrigador de uma comunidade dinâmica de cidadãos leitores: é o caso de todos os grandes jornais europeus e é isso que tanto falta aos jornais portugueses…