EUA impõem sanções a chefe da diplomacia iraniana

O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammad Javad Zarif, agradeceu a Washingon por o considerar “uma ameaça tão grande” à sua agenda.

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Zarif foi o principal responsável iraniano nas negociações do acordo nuclear de 2015 ABEDIN TAHERKENAREH/ EPA

Os Estados Unidos voltaram a apostar em sanções contra o Irão e desta vez o alvo foi o Ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammad Javad Zarif. É o mais recente movimento da estratégia de “pressão máxima” de Washington para obrigar Teerão a regressar à mesa das negociações.

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Os Estados Unidos voltaram a apostar em sanções contra o Irão e desta vez o alvo foi o Ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammad Javad Zarif. É o mais recente movimento da estratégia de “pressão máxima” de Washington para obrigar Teerão a regressar à mesa das negociações.

“Javad Zarif põe em prática a irresponsável agenda do líder supremo do Irão e é o seu principal porta-voz no mundo”, justificou em comunicado o secretário do Tesouro norte-americano, Steve Mnuchin. “Os Estados Unidos estão a enviar uma mensagem clara ao regime iraniano de que o seu recente comportamento é completamente inaceitável”.

Zarif foi o principal responsável iraniano nas negociações com a Administração Obama que resultaram no acordo nuclear de 2015 e tem desempenhado o papel de ligação entre o Irão e o Ocidente, confrontando publicamente os EUA. 

“O motivo de os Estados Unidos me terem designado é por ser o ‘principal porta-voz no mundo’ do Irão, é a verdade assim tão dolorosa?”, questionou no Twitter Zarif, garantindo que as sanções “não têm efeito” em si ou na sua família por “não ter propriedades ou interesses fora do Irão”. “Obrigado por me considerarem uma ameaça tão grande à vossa agenda”, agradeceu em tom irónico.

Há um mês, a Administração Trump avançou com sanções ao líder supremo iraniano, ayatollah Ali Khamenei, e ameaçou fazer o mesmo a Zarif. Porém, não são mais que simbólicas por os dois governantes não terem propriedades fora de território iraniano.

As sanções contra o chefe da diplomacia iraniana foram anunciadas depois de o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter dito querer voltar a negociar com Teerão. Se o regime iraniano aceitasse, seria provável que Zarif fosse o interlocutor pelo lado de Teerão. No entanto, o Irão rejeita voltar às negociações enquanto as sanções norte-americanas se mantiverem, exigência que Washington recusa. 

Nos corredores do poder da capital iraniana, os líderes políticos vêem esta movimentação norte-americana como tentativa para forçar o afastamento do ministro de possíveis negociações. "Os norte-americanos têm muito medo da lógica e capacidades de negociação de Zarif”, escreveu nas redes sociais Abbas Mousavi, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, citado pela Al-Jazira. 

“A ideia é que ao sancionar o ministro dos Negócios Estrangeiros, [os EUA] poderão ter na mesa das negociações alguém mais poderoso no regime, o que é absurdo”, escreveu a correspondente da Al-Jazira em Teerão, Dorsa Jabbari, sublinhando que Washington não vê Zarif como elemento fundamental no processo de decisão.

Ao mesmo tempo, a Administração Trump estendeu por 90 dias as excepções que permitem a empresas russas, chinesas e europeias trabalhar em centrais nucleares iranianas ao abrigo do acordo nuclear – não o fazer até esta quinta-feira obrigaria a emitir sanções contra elas. 

A tensão entre Washington e Teerão tem-se mantido elevada desde que Trump rasgou o acordo nuclear em 2017. Os EUA acusam o Irão de violar o acordo nuclear, sem provas, enquanto Teerão o nega e contrapõe que Washington procura uma guerra na região.

A tensão voltou mais uma vez a subir no final de Junho, com os EUA a acusarem os Guardas da Revolução iranianos de terem abatido um drone norte-americano e sabotado quatro petroleiros no estreito de Ormuz. E, mais recentemente, as autoridades britânicas, aliadas próximas dos EUA, apreenderam um petroleiro iraniano; em retaliação, o regime iraniano apreendeu um outro britânico. E duas coligações marítimas, uma liderada por Washington e outra europeia, estão a ser formadas para proteger os petroleiros que naveguem no Golfo Pérsico.