Biden foi o centro das atenções (e dos ataques) no segundo dia de debate no Partido Democrata

Candidatos às primárias democratas convergiram nas críticas ao ex-vice-presidente e favorito à disputa da Casa Branca com Trump, na segunda noite da segunda ronda de debates. Biden defendeu-se como pôde.

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Joe Biden e Kamala Harris Reuters/LUCAS JACKSON

A segunda noite de debates televisivos entre candidatos às primárias do Partido Democrata, tendo em vista a nomeação para a disputa da presidência dos Estados Unidos com Donald Trump, em 2020, teve como protagonista Joe Biden. Na quarta-feira à noite, em Detroit, o vice-presidente de Barack Obama esteve debaixo de fogo cruzado dos restantes concorrentes, por causa das opções políticas tomadas pela anterior Administração e pelo seu passado de senador. 

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A segunda noite de debates televisivos entre candidatos às primárias do Partido Democrata, tendo em vista a nomeação para a disputa da presidência dos Estados Unidos com Donald Trump, em 2020, teve como protagonista Joe Biden. Na quarta-feira à noite, em Detroit, o vice-presidente de Barack Obama esteve debaixo de fogo cruzado dos restantes concorrentes, por causa das opções políticas tomadas pela anterior Administração e pelo seu passado de senador. 

Favorito à eleição final e representante da ala mais ao centro do partido nesta corrida, Biden procurou rebater os ataques de Kamala Harris (senadora da Califórnia), Cory Booker (senador de Nova Jérsia), Julián Castro (ex-secretário de Estado da Habitação), entre outros candidatos, sobre temas variados, como a saúde, a imigração, a justiça, o comércio, o racismo ou as alterações climáticas. 

A “batalha” com Harris teve particular relevância, tendo em conta o desempenho pouco convincente de Biden, e a boa performance da senadora, na primeira ronda de debates, em Junho – que valeu a Harris uma subida considerável nas intenções de voto. Os dois candidatos chocaram na hora de falar sobre a saúde, um dos temas-chave na discussão democrata.

Joe Biden defendeu os méritos do Obamacare com unhas e dentes, argumentando que o sistema de saúde concebido pelo ex-Presidente democrata “está a funcionar” e que é por isso que se deve construir sobre essa solução. E acusou Kamala Harris de ter um plano “ambíguo” e “impraticável”, ao propor uma transição, por um período de dez anos, para um sistema de saúde totalmente público e financiado pelo governo. 

“Não vai conseguir derrotar o Presidente Trump com um discurso ambíguo sobre este plano”, afiançou Biden, que antevê custos económicos e sociais significativos na retirada dos privados da solução para a saúde.

“Um democrata que em 2019 esteja a concorrer à presidência e que tenha um plano [de saúde] que não cobre toda a população não tem desculpa possível”, respondeu-lhe Harris.

Outra troca de tiros interessante com Biden, no debate de quarta-feira à noite (madrugada de quinta-feira em Portugal continental), teve como protagonista Julián Castro. O ex-vice-presidente voltou a puxar pelos galões de candidato moderado, criticando duramente a proposta de Castro para descriminalizar totalmente a entrada ilegal de imigrantes nos EUA.

“Tenho coragem suficiente para afirmar que o plano dele não faz qualquer sentido”, atirou Biden. “Parece que um de nós aprendeu com as lições do passado e o outro não aprendeu nada”, respondeu o antigo secretário de Estado da Habitação. 

O principal confronto com Cory Booker teve como pano de fundo o trabalho de Biden na elaboração da legislação criminal de 1994, quando este era senador eleito pelo estado do Delaware. Para Booker, o actual sistema penal norte-americano contempla condenações “desproporcionais” com os crimes cometidos, nomeadamente para os afro-americanos.

“Neste momento há pessoas condenadas a prisão perpétua por delitos relacionados com drogas, porque [Biden] fez uso da falsa retórica sobre a necessidade de ser firme na luta contra o crime. Muita gente se elegeu à custa disto, mas destruíram-se comunidades, como a minha”, denunciou Booker.

O debate sobre o racismo nos EUA também motivou uma posição firme de Booker, acompanhado por Kamala Harris. A senadora da Califórnia lamentou as relações entre Biden e “políticos segregacionistas”, nos anos 1990, e disse que o candidato só chegou onde chegou por causa da derrota da tolerância sobre o racismo.

“Se esses segregacionistas tivessem sido bem-sucedidos, eu não seria membro do Senado dos EUA, Cory Booker não seria membro do Senado dos EUA e Barack Obama teria chegado a um cargo que lhe permitiu nomeá-lo para a posição [de vice-presidente]”, afirmou Harris.

Para além dos nomes referidos, participaram no segundo dia de debate Bill de Blasio (mayor de Nova Iorque), Tulsi Gillibrand (congressista do Havai), Michael Bennet (senador do Colorado), Jay Inslee (governador de Washington) e Andrew Yang (empresário).

Na véspera, Bernie Sanders (senador do Vermont) e Elizabeth Warren (senadora do Massachusetts) foram os protagonistas de um outro debate entre candidatos democratas, que se transformou numa autêntica batalha entre progressistas e moderados. Esse estado de tumulto dentro do partido serviu de deixa para Booker emitir um alerta a todos os democratas.

“Esta guerra entre progressistas e moderados, e as acusações de que uns são irrealistas e outros não se preocupam o suficiente, está a dividir o nosso partido e a desmoralizar a nossa acção contra o verdadeiro adversário”, lamentou o senador de Nova Jérsia. “A pessoa que está a desfrutar mais deste debate, neste momento, é Donald Trump”.

Faltam cerca de seis meses para a primeira votação no Partido Democrata, no Iowa, e estão agendados mais debates para os meses de Setembro e de Outubro, nos quais se espera que registem as primeiras desistências. 

Joe Biden, Kamala Harris, Bernie Sanders e Elizabeth Warren são, até ao momento, os principais favoritos a discutir com Trump o cargo de Presidente dos EUA, no próximo ano.