E tu, já estiveste desempregado?

Estar (e não ser) desempregado é uma sensação indescritível e de perda visceral. Só quem passa por esta viagem de resiliência e de humildade — que nos molda e transforma para sempre e para melhor — sabe o quão importante é trabalhar.

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PAULO PIMENTA

Já alguma vez estiveste desempregado? Eu estive. Em plena crise económica nacional, perdi um emprego de anos, que julgava eterno. Um emprego ao qual chamava amor e ao qual, incondicionalmente, me dediquei. Como sempre fiz. Como sempre farei. À luz do fim de um longo relacionamento, a dor é excruciante, mas passa, devagarinho. O amor, esse, mantém-se eterno e agradecido.

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Já alguma vez estiveste desempregado? Eu estive. Em plena crise económica nacional, perdi um emprego de anos, que julgava eterno. Um emprego ao qual chamava amor e ao qual, incondicionalmente, me dediquei. Como sempre fiz. Como sempre farei. À luz do fim de um longo relacionamento, a dor é excruciante, mas passa, devagarinho. O amor, esse, mantém-se eterno e agradecido.

Estar (e não ser) desempregado é uma sensação indescritível e de perda visceral. Só quem passa por esta viagem de resiliência e de humildade — que nos molda e transforma para sempre e para melhor — sabe o quão importante é trabalhar. Ter as horas ocupadas. Acordar diariamente com objectivos. Mostrar capacidades e competências. Aprender e apreender conhecimentos.

Sobretudo se, como eu, não tivermos uma veia empreendedora ou aquela louca coragem que nos empurra para um potencial auto-emprego — e um consequente sucesso na primeira pessoa. Bem sei que, enquanto empregados (e também enquanto patrões — uns não vivem sem os outros) temos de almejar sempre mais. Que os direitos humanos, civis e laborais são uma realidade. Felizmente. Mas os deveres também fazem parte desta equação. E digo isto com conhecimento de causa.

Cresci numa família pautada pela força, pelo crescimento a pulso. Numa mesa, felizmente farta, que começou vazia e sempre com o mesmo menu, em plena ditadura. Política, financeira e social. O meu pai, apenas com a quarta classe, feita em três anos, conseguiu construir uma fábrica, ter um negócio próprio que manteve durante mais de três décadas. Desde pequena testemunhei que a sua maior luta e preocupação sempre foi — sempre — pagar os ordenados a tempo aos empregados que, muitos em família, trabalhavam para que a nossa pudesse ter uma realidade financeira melhor, fruto de um trabalho hercúleo do meu pai, a outrora entidade patronal. Voltamos ao parágrafo anterior. Os deveres também fazem parte da equação laboral.

Esta greve anunciada dos camionistas esquece-se, precisamente, desta premissa: os direitos estão sempre associados aos deveres. Num país assombrado por uma crise financeira recente, não podemos assustar os cidadãos, ameaçando tirar-lhes alimentos e bens essenciais, “apenas” porque, afinal, não aceitamos as condições previamente acordadas e queremos ganhar mais uns euros. Pois bem, todos nós queremos! Quando nos levantamos, dia após dia, dando o nosso melhor, profissional e pessoalmente. Em todas as áreas e em todas as profissões.

Na desigualdade arbitrária da balança, uns têm ordenados bem maiores do que outros. Bem sei. Mas todos, todos mesmo, temos um papel crucial na sociedade e nesta engrenagem cívica. Mas não pensem que falo de cima do pedestal. A história que vos contei atrás, de esforço e dedicação, teve um final menos feliz. A minha família, que, relembro, cresceu a pulso, perdeu tudo o que havia para perder financeiramente, voltando à casa da partida. Não tenho habitação própria (nem a minha família) e o meu emprego é crucial para as contas familiares. Mas o que a minha família nunca perdeu foi o amor, o valor e os valores. Que, felizmente, me transmitiu. Sempre.

Senhores camionistas, reconsiderem esta greve absurda e parem de amedrontar os portugueses, porque uma certeza tenho: nascemos no melhor país do mundo.