Debate do Partido Democrata foi uma batalha entre progressistas e moderados

Sanders e Warren estiveram debaixo de fogo dos candidatos de centro-esquerda às eleições primárias democratas, na primeira noite da segunda ronda de debates. Saúde e imigração foram os temas quentes de mais uma etapa da corrida ao lugar de Trump.

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O longo caminho que o Partido Democrata norte-americano tem de percorrer até encontrar um candidato para disputar a presidência com Donald Trump, em 2020, teve na terça-feira à noite mais uma etapa. Na primeira noite da segunda ronda de debates entre os candidatos às primárias, os progressistas Bernie Sanders e Elizabeth Warren estiveram debaixo de fogo dos moderados, por causa das suas posições sobre a saúde e o sistema de imigração dos Estados Unidos.

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O longo caminho que o Partido Democrata norte-americano tem de percorrer até encontrar um candidato para disputar a presidência com Donald Trump, em 2020, teve na terça-feira à noite mais uma etapa. Na primeira noite da segunda ronda de debates entre os candidatos às primárias, os progressistas Bernie Sanders e Elizabeth Warren estiveram debaixo de fogo dos moderados, por causa das suas posições sobre a saúde e o sistema de imigração dos Estados Unidos.

Em Detroit, estado norte-americano do Michigan, candidatos como Steve Bullock (governador de Montana), John Delaney (ex-congressista de Maryland) ou Tim Ryan (congressista do Ohio) atiraram-se aos dois senadores – Sanders, do Vermont, e Warren, de Massachusetts –, argumentando que a viragem do partido “demasiado à esquerda” dará espaço a nova vitória de Trump, para além de contemplar propostas políticas “irrealistas”.

“Podemos seguir o caminho para o qual o senador Sanders e a senadora Warren nos querem levar, com más políticas, com tudo grátis e com promessas impossíveis, que apenas irão afastar os eleitores independentes e fazer com que Trump seja reeleito”, atirou Delaney. 

“Vejo que estão mais preocupados em marcar pontos ou em superarem-se uns aos outros, com listas de desejos para a economia, em vez de garantirem aos americanos que ouvimos as suas vozes e que os vamos ajudar nas suas vidas”, disse Bullock.

Sanders e Warren – que, dado o volume da desaprovação contra si, optaram por não se atacar mutuamente – defenderam-se das acusações, criticando a falta de ambição dos moderados e lamentando o seu receio por “grandes ideias”.

“Não consigo compreender como é que alguém se dá ao trabalho de se candidatar a Presidente dos Estados Unidos para vir falar sobre o que não se pode fazer ou sobre o que é que não se pode lutar”, criticou Warren. “Começo a ficar cansado de ver os democratas terem medo das grandes ideias. Os republicanos não têm medo das grandes ideias”, acrescentou Sanders.

Em causa, durante grande parte das quase três horas de debate televisivo, esteve o Medicare for All, a proposta apresentada por Bernie Sanders – e apoiada por Elizabeth Warren – que pretende expandir o sistema de seguros de saúde destinado aos norte-americanos com mais de 65 anos – e patrocinado pelo Governo norte-americano – a todos os cidadãos e residentes permanentes.

Para Delaney e outros moderados, o programa – aliado à intenção de alguns dos seus defensores de acabar, através dele, com o sistema privado de seguros de saúde – é um “suicídio político” e consubstancia uma “deriva dos EUA para o socialismo”.

Warren defendeu-se, no entanto, garantindo que “não quer tirar os seguros de saúde a ninguém”, lembrando que o objectivo é precisamente o oposto. Na mesma linha, Sanders recordou que “a saúde é um direito humano, não um privilégio”. Num dos momentos mais quentes do debate, o senador do Vermont foi acusado por Ryan de desconhecer as questões de fundo da proposta e respondeu com irritação: “Eu escrevi o raio da proposta!”

O debate de terça-feira também versou sobre comércio, questões raciais, direito às armas e intervenções militares norte-americanas no Médio Oriente – nomeadamente no Afeganistão –, mas foi a política migratória e as questões relacionadas com a segurança fronteiriça que mereceram grande atenção dos candidatos, para além do Medicare for All.

Ainda que com menos divergências de fundo do que no caso do acesso à saúde, a ala moderada atirou-se, mais uma vez, às políticas consideradas demasiado progressistas, como a descriminalização total da entrada ilegal de migrantes nos EUA – os candidatos Julian Castro (ex-secretário de Estado da Habitação) e Pete Buttigieg (mayor de South Bend, Indiana) destacaram-se na defesa dessa possibilidade na primeira ronda de debates, no final de Junho.

Steve Bullock intercedeu a favor de se “tratar toda a gente que cruza a fronteira como se fosse um de nós”, mas sublinhou que “não se pode descriminalizar tudo”. E Buttigieg recuou um pouco na sua posição, esclarecendo que apenas queria destacar que “o racismo e a xenofobia de Trump” só servem para “demonizar um grupo de pessoas” e que é preciso contrariar isso.

Warren, por seu lado, disse que é necessário “expandir a imigração legal” e criar “um caminho para a nacionalidade” para “os dreamers, os avós, os agricultores e os estudantes” que ficaram nos EUA para além do tempo permitido pelos seus vistos.

Para além dos candidatos referidos, participaram ainda no debate de terça-feira Beto O’Rourke (ex-congressista do Texas), Amy Klobuchar (senadora do Minnesota), John Hickenlooper (ex-governador do Colorado) e Marianne Williamson (escritora).

Esta quarta-feira à noite (madrugada de quinta-feira em Portugal) haverá novo debate, com outros dez candidatos às primárias do Partido Democrata. Joe Biden (ex-vice-presidente), e Kamala Harris (senadora da Califórnia) são os cabeças de cartaz.