Cursos superiores profissionais são cada vez mais uma via de acesso às licenciaturas

Quase dois terços dos alunos que entram nas formações de dois anos prosseguem estudos, mas estas tinham sido pensadas como “via rápida” de acesso ao mercado de trabalho.

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Entre público e privado, as vagas nestes cursos deverão chegar às 18 mil este ano André Rodrigues (arquivo)

Os cursos técnicos superiores profissionais (Ctesp) estão a tornar-se numa via de acesso alternativa às licenciaturas. Estas formações de dois anos foram criadas para serem uma “via rápida” para colocar pessoas com formação superior no mercado de trabalho, mas quase dois terços dos diplomados está a continuar os seus estudos.

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Os cursos técnicos superiores profissionais (Ctesp) estão a tornar-se numa via de acesso alternativa às licenciaturas. Estas formações de dois anos foram criadas para serem uma “via rápida” para colocar pessoas com formação superior no mercado de trabalho, mas quase dois terços dos diplomados está a continuar os seus estudos.

Os dados recolhidos junto das instituições de ensino superior mostram que 65% das pessoas que concluíram um Ctesp em 2016/17 inscreveu-se numa licenciatura no ano seguinte. A realidade é diferente de instituição para instituição.

Por exemplo, todos os diplomados da Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, em Oeiras, continuaram a estudar. Outras instituições, como os institutos politécnicos de Castelo Branco (76%), Bragança (75%), Santarém e Viana do Castelo (ambos com 73%), têm também indicadores elevados de prosseguimento de estudos entre estes diplomados. A instituição onde menos alunos dos Ctesp prosseguem estudos é a Universidade da Madeira – apenas 22% entram depois numa licenciatura.

“O objectivo dos Ctesp não era ser um canal de acesso ao ensino superior. Não foram desenhados para isso”, explica ao PÚBLICO o antigo secretário de Estado do Ensino Superior José Ferreira Gomes, responsável pelo lançamento destes cursos. Estas formações tinham uma intenção profissionalizante, procurando que mais pessoas com qualificações superiores entrassem no mercado de trabalho. A sua duração é de apenas dois anos, menos um do que as licenciaturas. Além disso, têm uma ligação forte às empresas, uma vez que pressupõem um estágio de um semestre para todos os alunos – que continua a fazer parte obrigatória dos planos de estudos de todos os Ctesp em funcionamento.

Ferreira Gomes prossegue: “O que falta ao país são pessoas com formação nos níveis profissionalizantes e não licenciados.” O ex-governante faz uma comparação com países como França ou Espanha que, na faixa etária mais jovem, têm mais diplomados do ensino superior do que Portugal, mas menos licenciados. O aparente paradoxo explica-se precisamente pelo número de pessoas que concluem nesses países cursos semelhantes aos Ctesp. 

Este resultado “não era expectável”, reconhece o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Pedro Dominguinhos. No entanto, logo “a partir do segundo ano”, as instituições de ensino superior começaram a perceber que os estudantes e as suas famílias “tinham um grande interesse em prosseguir estudos”.

Qualquer pessoa com o 12.º ano completo pode concorrer, mas os Ctesp têm sido particularmente procurados por estudantes que fizeram cursos profissionais no ensino superior e que têm dificuldades acrescidas no acesso às licenciaturas. O Governo anunciou em Março uma solução para o problema, mas acabou por colocá-la em stand-by três meses depois.

As instituições também têm facilitado o prosseguimento de estudos. Muitos dos Ctesp são cursos “de fileira”, alinhados com uma ou duas licenciaturas. Assim, nos casos em que os estudantes querem continuar no ensino superior, há disciplinas em comum, cujos créditos são reconhecidos. “Isso permite-lhes serem colocados no segundo ano da licenciatura, ainda que possam ter que fazer uma ou duas disciplinas do primeiro ano”, explica o presidente do CCISP, Pedro Dominguinhos.

Quase um quinto desiste

Os Ctesp foram pensados como uma via de entrada rápida no mercado de trabalho. Não existem, porém, estatísticas que permitam perceber como está a correr o seu acesso a um emprego. O Instituto de Emprego e Formação Profissional e a Direcção-Geral do Ensino Superior consideram apenas as licenciaturas e mestrados nos indicadores de empregabilidade que publicam regularmente.

O CCISP também não dispõe de informação disponível que possibilite aferir a taxa de desemprego dos diplomados nestes cursos. Existem dados em algumas instituições, mas, como usam metodologias diferentes, não permitem comparações.

As estatísticas oficiais revelam, porém, que 18% dos alunos que entram num Ctesp não se encontravam no ensino superior um ano depois. Ou seja, quase um quinto dos estudantes terá desistido da formação, de acordo com os dados mais recentes do portal Infocursos, publicados no início do mês.

Este indicador é semelhante ao que se verifica nos mestrados (17,2%), mas muito superior ao das licenciaturas. De acordo com o Infocursos, 8,2% dos alunos colocados nestes cursos não estavam no ensino superior um ano depois da sua inscrição. Este número tem vindo a descer nos últimos anos. Em 2015, eram 10,3%.

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